Saudade do tempo em que o jornalismo esportivo era passagem obrigatória de qualquer iniciante no ramo e que bastava não babar na gravata para ser forte candidato a editor da seção ou do caderno – já que agora tudo é esporte, até vôlei de praia (essa excrescência).

Hoje é coisa para especialistas. Outro dia me deparei com uma manchete referindo-se a um tal de “K9” e demorei para entender que tratava-se de um jogador do Coritiba e não do cachorro do filme.

Futebol ficou muito complicado. Se você demora mais de 30 segundos para entender a manchete e, fique claro, não baba na gravata ainda que seja o editor de esportes, alguma coisa está errada. O que é G-8? Ora, o grupo de países mais ricos do mundo. Nananina. É o número de times com chances de classificação para o octogonal decisivo. Ah, tá.

O que é Z-4? Deixe eu ver. O número de átomos do zinco na tabela periódica? Também não. São os quatro clubes ameaçados de rebaixamento. Ah, tá.

Agora, R10 tá na cara. É mais um grupo de rock´n roll que apareceu na praça – desses de morte e vida ligeirinha. Que nada, é o Ronaldinho Gaúcho, camisa 10 do Barcelona.

Se lhe dá a impressão de que o primeiro parágrafo de uma matéria esportiva está mais para a soma dos quadrados dos catetos, tal o complicômetro numérico, leia de novo e vai constatar que não é só impressão. E você, pobre coitado, que só queria saber o resultado do jogo.

E os apelidos dos times? Houve tempo em que eles eram criados pela torcida e adotados pelas redações. Nada mais  natural. Pois agora o fluxo se inverteu e os apodos (reparou no termo?) ficaram a cargo dos cérebros pensantes do jornalismo. Pra quê? Dá-lhe Cori, Ventania, Jotinha, Malita, Sanca, Sampa, Bo, Pira, Flag, Flo, Fi. Fi de quem?

Sempre em benefício do Macunaíma que há em cada um de nós e em detrimento da clareza. Tá difícil para caber Luxemburgo? Mete Luxa. Dagoberto? Mete Dago. A conclusão é que trata-se de norma constante no manual de redação. Nomes com mais de duas sílabas, jamais. Dane-se o leitor, este ente desconhecido.

Não por acaso, aquele hábito do marmiteiro – e de qualquer trabalhador – de ler no varal das bancas as notícias esportivas depois de mais uma rodada foi para as catacumbas juntamente com a tiragem dos diários. O que era manchete virou fórmula matemática.  ‘Cori vence Sanca por 1 a 0 aos 45, alcança a V2 e ruma para o G8, tal que V corresponde ao número de vitórias’.

E nem vou entrar no mérito das estatísticas do futebol porque isso é coisa de PhD em Física Quântica com doutorado na Universidade de Cambrigde.

Ah, bons tempos em que o esporte bretão era uma caixinha de surpresas. Vá lá, uma calcinha no varal.