DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Candidatura de Serra é a única opção para derrotar governo Lula

Quércia, que fechou aliança entre PMDB e DEM, diz que fez isso para fortalecer nome de governador tucano em 2010

MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA

De patinho feio da política, no início dos anos 90, o ex-governador Orestes Quércia (PMDB-SP) se transformou, este ano, no cisne mais vistoso da eleição municipal em São Paulo. Disputado pelos principais candidatos e partidos, graças principalmente aos quatro minutos que o PMDB dispõe para os programas de TV da campanha eleitoral, Quércia acabou fechando com o prefeito Gilberto Kassab (DEM-SP).
E diz claramente que fez isso para fortalecer a candidatura de José Serra (PSDB-SP) à Presidência da República em 2010. “É preciso mudar o governo. E a única possibilidade que eu vejo hoje é de o Serra ganhar a eleição.”

Trechos da entrevista:

FOLHA – Por que Gilberto Kassab?
ORESTES QUÉRCIA – Basicamente, nós decidimos não apoiar o PT. As pessoas falam: “Ah, mas você é candidato a senador”, e o Kassab me ofereceu [a vaga ao Senado numa chapa DEM-PMDB em 2010]. E o DEM, por sua vez, tinha interesse nos quatro minutos de televisão do PMDB na eleição. Tem essas questões. Mas sobretudo eu acho que o país precisa mudar o governo do PT. E hoje só existe uma alternativa para derrotar o governo do Lula, que é a candidatura do José Serra [a presidente da República em 2010].
Como a eleição municipal tem esse objetivo, de fortalecer uma candidatura [a presidente], eu decidi tomar uma posição que beneficiasse os democratas e a aliança deles com o Serra. É claro, eu sou favorável a que o PMDB tenha candidato à Presidência. Meu candidato é o Roberto Requião [governador do Paraná]. Mas ele tem muitas dúvidas.

FOLHA – Não é uma candidatura colocada de verdade.
QUÉRCIA – Não é. Por isso eu fico numa situação difícil. Eu acho que é preciso mudar o governo. E a única possibilidade que eu vejo hoje é de o Serra ganhar a eleição em 2010.

FOLHA – As pessoas creditam sua decisão a uma mágoa antiga com o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), que lançou um candidato ao Senado em 2006 contrariando um acordo e atrapalhado sua candidatura.
QUÉRCIA – Se disser que não levo isso em conta… Eu tenho que levar, uai! Até cheguei a fazer locação de dois imóveis para montar o comitê Lula/Quércia. Que nunca foi montado. Tudo bem. Mas eu não tomaria uma decisão por causa disso. Eu tomei uma decisão política. O ideal é que o PT não ganhe a eleição em 2010. O governo tem que mudar porque eles não têm competência para governar. E é preocupante o PT ter essa hegemonia no país.

FOLHA – Por quê?
QUÉRCIA – É mensalão, problemas políticos, falta de cumprimento de compromissos.

FOLHA – O PT diz que o mensalão era caixa dois. O senhor também já admitiu que fez caixa dois.
QUÉRCIA – Uma coisa era, antigamente, fazer a campanha eleitoral. Era assim. Mas pagar mensalidade para deputado? Isso é um absurdo, isso eu nunca vi. Para você ver a cabeça do PT, o perigo que isso significa, né? Agora eles aprenderam que isso daí é um absurdo. Espero que não volte a acontecer. Mas as coisas vão mal no Brasil com o PT. O governo vai bem porque o mundo inteiro vai bem. Então ele vai surfando numa onda.