A coluna Toda Política desta sexta-feira no JE.

O 7 de Setembro, Dia da Independência desta pátria lascada, serviu ao menos a um propósito nobre. Na madrugada de domingo, num ponto eqüidistante entre o Jardim Social e o Batel, um jornalista insone enxergou, em meio a um clarão de luz e ao som de trombetas, o “pobre” de Curitiba.
Foi uma epifania. Revelada ao jornalista enquanto, segundo ele, degustava um excelente vinho português comprado na Adega Boulevard.
O escriba é um cristão, ora tendo o privilégio de participar como “agente de divulgação” da campanha de uma das candidatas à prefeitura da capital – adivinhe quem? Foi ao lado da petista Gleisi Hoffmann, que o assessor de imprensa descobriu, duas décadas depois de fixar residência em Curitiba (antes tarde do que nunca), que uma cidade grande vai além das residências de luxo e das casas de vinho e queijo.
Mas deixemos que ele cante em sua freguesia: “Pela primeira vez na minha vida vi fezes humanas saindo por um cano e caindo em um córrego que abastece uma torneira comunitária para o atendimento de 300 famílias que vivem no Jardim Kosmos”.
A essa hora, qualquer um deve estar se perguntando de que planeta caiu o tipo faceiro. Peralá, ele veio de Ramos, no Rio, e nunca viu um cocozão boiando? De Marte!
Maestro, por favor, o naipe de violinos para o que vem a seguir: “Mesmo perto fisicamente, o Jardim Kosmos está distante socialmente de mim. Então meu espírito cristão se condói com aquela realidade”.
(Mas só um tiquinho. Porque “ele continua morando bem e comendo bem”).
“Sou eu dos dois lados: em Ramos, no Rio, e no Jardim Social, em Curitiba. Eu mudei de lado porque meus pais sempre investiram na nossa Educação. Eles se sacrificaram para pagar ensino médio particular para mim,
pois fui o único dos cinco filhos que não conseguiu ser aprovado em concurso para uma escola pública após o antigo ginásio”.
É a cota social do perdedor: 20%. Reparou? 80% dos que alcançaram a escola pública por mérito, em condições econômicas idênticas, pagam por aquele que fracassou. É a lógica torta do sistema de cotas.
Mas fiquemos na epifania. O jornalista atribui a uma reportagem da “Gazeta do Povo”, o milagre de sua repentina clarividência. Alguém aí ouviu a harpa do Anjo Gabriel? Pois é. “Não sou mais ignorante! Isso aumenta a minha responsabilidade, mas me motiva a mudar. E mudar é preciso!”
O caro leitor pode julgar que o desfecho é heróico: o assessor de imprensa desnudou-se franciscanamente de seus bens e seguiu condoído rumo ao Jardim Kosmos, onde pretende, juntamente com seus irmãos, dividir a água tirada do córrego em que bóia o cocozão.
Não sejamos tão literais. A mudança a que o iluminado jornalista se refere é política. O vinho português da Adega Boulevard, portanto, está garantido.

Cadê os números?
O site do Ibope é pródigo em esconder os dados das pesquisas nas principais cidades do país. Ontem, quem tentou obter detalhes de sondagens recentes viu resultados de Imperatriz (MA), Juazeiro do Norte (CE), Porto Seguro (BA) e Taboão da Serra (SP).

Bomba, bomba
À última hora apareceu notícia fresca: Edson Piriquito lidera as intenções de voto em Balneário Camboriú (SC). Agora vai. Quaquaquá.

PT nos píncaros
O Datafolha divulgou novo ranking dos prefeitos do país. Dos quatro primeiros colocados, três são petistas: Fernando Pimentel, de Belo Horizonte, com nota 7,6, João Paulo, do Recife, 7,3, e Luiziane Lins, de Fortaleza, 6,4.

The best
O tucano Beto Richa confirmou liderança com a nota 8. Em levantamento anterior, divulgado em 23 de agosto pelo Datafolha, Richa obteve 7,7 em uma escala de 0 a 10.

Parlatório
A paróquia São Lucas, no Xaxim, promove hoje, a partir das 19 horas, debate com 12 candidatos a vereador. Entre eles, Pedro Paulo e Adenival Gomes, ambos do PT, e Valdir Bicudo (PPS).

ARREMATE
Ex-candidato do PT à prefeitura de Curitiba, com o apoio de Requião, o deputado federal Ângelo Vanhoni tem recorrido a rifas para saldar dívida da campanha de 2004, na casa dos R$ 5 milhões. Moreira subiu no telhado.

OBLADI-OBLADÁ
Em entrevista coletiva, o prefeito de Paranaguá e candidato à reeleição, José Baka Filho (PDT), denunciou suposta armação do governo para intervir no município. *** “É uma atitude facínora e fascista. Estamos usando todos os antídotos legais e democráticos contra isso. Ficou claro que a atitude do governador de querer vencer as eleições no tapetão”.

[email protected]