A Procuradoria-Geral da República (PGR) usou depoimentos da delação premiada do ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró e do filho dele, Bernardo Cerveró, para pedir a prisão do senador Delcídio do Amaral (PT-MS); de André Esteves, dono do Banco BTG Pactual; do ex-advogado de Cerveró Edson Ribeiro; e do chefe de gabinete do senador, Diogo Ferreira. As prisões foram autorizadas ontem (24) pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), e executadas hoje (25) pela Polícia Federal.

Segundo o documento enviado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF), no qual faz o pedido de prisão dos investigados, a procuradoria diz que Delcídio tentou dissuadir Nestor Cerveró de aceitar o acordo de colaboração com o Ministério Público Federal (MPF), ou que, se isso acontecesse, que evitasse delatar o senador e também André Esteves.

Em um trecho do processo, a PGR afirma que Delcídio ofereceu dinheiro para evitar a citação de seu nome nas investigações. “O senador Delcídio Amaral ofereceu a Bernardo Cerveró auxílio financeiro, no importe mínimo de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) mensais, destinado à família de Nestor Cerveró, bem como prometeu intercessão política junto ao Poder Judiciário em favor de sua liberdade, para que ele não entabulasse acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Federal”, diz a PGR.

Gravações das reuniões, feitas pelo filho de Cerveró, também foram utilizadas pela PGR para justificar a prisão. Nelas, Bernardo, Edson Ribeiro e Delcídio mencionaram tentativas de influenciar decisões dos ministros do STF para interferir no julgamento do habeas corpus do ex-diretor, para anular depoimentos de delação premiada, além de um plano de fuga.

Em um dos trechos das gravações, o senador disse que teve conversas com ministros do Supremo. “Agora, agora, Edson e Bernardo, eu acho que nós temos que centrar fogo no STF agora, eu conversei com o Teori [Zavascki], conversei com o Toffoli [Dias], pedi pro Toffoli conversar com o Gilmar [Mendes], o Michel [Temer] conversou com o Gilmar também, porque o Michel tá muito preocupado com o Zelada [Jorge Zelada, ex-diretor da área Internacional da Petrobras], e eu vou conversar com Gilmar também”.

Em outro trecho, o senador discutia o suposto plano de fuga de Cerveró. “Hoje eu falo, por que eu acho que o foco, o seguinte, tirar, agora a hora que ele sair tem que ir embora mesmo”.

Segundo documentos da PGR, foram realizados vários encontros entre o filho de Cerveró, Delcídio, Ferreira e Ribeiro. Em um deles, realizado em um hotel em Brasília no dia 4 de novembro, na qual teria sido discutida a possibilidade de uso de habeas corpus para que Nestor Cerveró fosse colocado em liberdade. Nesse mesmo encontro, os participantes teriam tratado também da possibilidade de fuga de Cerveró para o Paraguai.

“O Senador Delcídio Amaral relatou sua atuação – espúria ante o fato de não ser advogado e do patente conflito de interesses, mas em linha com sua promessa reiterada de interceder junto ao Poder Judiciário – perante Ministros do STF em favor de Nestor Cerveró, informando haver conversado com Vossa Excelência e com o Ministro Dias Toffoli. Revela, ainda, a firme intenção de conversar com o Ministro Edson Fachin, bem como de promover interlocução do Senador Renan Calheiros e do Vice-Presidente Michel Temer com o Ministro Gilmar Mendes”, traz o documento.

Segundo a PGR, o senador “interveio ativamente também nesse segmento da conversa, oferecendo sugestões de rotas e meios de fuga: ele opina quanto a ser o Paraguai a melhor rota e quanto à necessidade de que, se a fuga se der por meio de aeronave de táxi áereo, o modelo seja um Falcon 50, que teria autonomia para chegar à Espanha [Cerveró tem nacionalidade espanhola] sem reabastecimento”.