O Tribunal Regional Eleitoral (TRE/PR) condenou por unanimidade o deputado estadual Bernardo Carli (PSDB) por falsidade ideológica. Carli é acusado de ter feito caixa dois de campanha nas eleições de 2010, declarando que pessoas contratadas por ele como cabos eleitorais teriam trabalhado voluntariamente. O dinheiro gasto no pagamento desses cabos eleitorais não foi declarado à Justiça Eleitoral na prestação de contas.

Segundo a investigação do Ministério Público, treze dos 36 cabos eleitorais declararam à Polícia Federal que receberam para trabalhar para Carli e em dinheiro. A condenação original foi determinada pelo TRE ainda em 2011, mas desde então, o tucano sustenta o mandato com base em sucessivos recursos.

A nova decisão do julgamento de segunda-feira torna o parlamentar inelegível e pode resultar em uma pena um ano e oito meses de prisão, mas cabe recurso. Por se tratar de réu primário, a pena de foi substituída por prestação de serviços comunitários e devolução de valores. Os advogados de Carli já anunciaram a intenção de recorrer ao próprio TRE e ao Tribunal Superior Eleitoral.

O parlamentar esteve na sessão de ontem da Assembleia Legislativa, mas saiu sem falar com a imprensa. Em nota divulgada pela sua assessoria, ele negou as acusações e disse aguardar a publicação da decisão para recorrer.

Normal

O relator do processo no TRE, Lourival Pedro Chemim, considerou que Carli apresentou informações falsas nos documentos de prestação de contas de campanha eleitoral eram falsas. Segundo ele, 25 das 27 testemunhas de acusação afirmaram que trabalharam exclusivamente na campanha do deputado. Os pagamentos e os contratos e recibos foram efetuados dentro do comitê eleitoral do tucano.

O presidente da Assembleia, deputado Ademar Traiano (PSDB), que também preside o PSDB do Paraná, partido de Carli, minimizou a condenação. Acredito que não é uma decisão definitiva, cabe recurso ainda ao STJ. E é da vida normal de um político ser processado em um determinado momento. E a decisão, enfim, é em primeiro e segundo grau, cabe recurso à Brasília. Prefiro acreditar na inocência do deputado, alegou.

Cabresto

Em dezembro do ano passado, Bernardo Carli se envolveu em outro processo, originado de investigação do Gaeco e da Procuradoria Regional Eleitoral de Curitiba intitulada operação Capistrum (cabresto em latim) que apura suposto esquema de compra de votos nas eleições de 2014, na região de Guarapuava, sua base eleitoral. Na ocasião, após ser chamado a depor, ele negou as acusações e afirmou que esperava que tudo fosse esclarecido no decorrer do processo. O pai do deputado, o ex-prefeito de Guarapuava, Fernando Ribas Carli, segundo o Ministério Público, também estaria envolvido.

Segundo o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), a operação que originou a tomada de depoimento de Bernardo Carli, investiga diversos crimes eleitorais em benefício da candidatura do deputado nas eleições de 2014. 

As investigações apontam que, durante o período eleitoral, houve a distribuição de vários benefícios a cidadãos para conseguir votos para o deputado. Já no dia das eleições estaduais de 2014, a suspeita é de que os coordenadores dos dois grupos reuniram motoristas e cabos eleitorais para praticar boca de urna e transporte de eleitores.
Bernardo Carli é irmão do ex-deputado estadual Fernando Ribas Carli Filho (sem partido), que renunciou ao mandato em 2009, após se envolver em acidente de trânsito que resultou em duas mortes.