eduardo cunha alep Foto: Nani Gois/Alep

A delação premiada do executivo da J&F, Ricardo Saud – controladora do grupo JBS – e do ex-presidente da Câmara Federal e ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB) pode respingar na bancada federal do Paraná. De acordo com reportagem publicada ontem pelo jornal Folha de São Paulo, Saud deve detalhar ao Ministério Público Federal, os nomes e circunstâncias em que parlamentares receberam dinheiro do grupo para apoiar a eleição de Cunha – preso em Curitiba desde o final do ano passado – para a presidência da Câmara, em fevereiro de 2015. Ao todo, o grupo teria repassado R$ 30 milhões para financiar a compra de votos para o peemedebista. Desse total, R$ 12 milhões teriam sido repassados em dinheiro vivo.

Além disso, o próprio Cunha – na negociação de delação premiada – estaria prometendo dar “nomes aos bois” sobre como e para quais deputados esse dinheiro teria sido repassado. De acordo com a Folha, o peemedebista alega que o dinheiro não passou por ele, mas teria sido entregue diretamente pela J&F aos parlamentares. Cunha foi eleito com 267 votos contra 136 votos do candidato da ex-presidente Dilma Rousseff, Arlindo Chinaglia (PT-SP). Antes da eleição, em dezembro de 2014 e janeiro de 2015, ele esteve em campanha no Paraná. Em Curitiba, foi recebido na Assembleia Legislativa e reuniu-se com a bancada federal do Estado.

Após a eleição de Cunha, parlamentares paranaenses de peso mantiveram boas relações com o peemedebista. O deputado Osmar Serraglio (PMDB) chegou a defender uma “anistia” para Cunha – após o então presidente da Câmara ser acusado de receber propina no esquema de corrupção da Petrobras – por ele ter comandado o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. “e “Eduardo
Cunha exerceu um papel fundamental para aprovarmos o impeachment da presidente. Merece ser anistiado”, alegou na ocasião.

Serraglio também foi eleito presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara com o apoio de Cunha. Como tal, foi acusado, em junho de 2016, de manobrar para atrasar o processo de cassação do peemedebista.

Hoje ministro da Saúde, o então deputado federal Ricardo Barros (PP) votou contra a abertura de processo de cassação de Cunha no Conselho de Ética da Câmara, em março de 2016.

Quando o processo chegou ao plenário, em setembro de 2016, 25 dos 30 deputados paranaenses votaram pela cassação de Cunha. Os deputados Alfredo Kaefer (PSL) e Nelson Meurer (PP) se abstiveram da votação, o que poderia ajudar Cunha indiretamente. Outros três deputados não compareceram à sessão: Fernando Francischini (SD), Takayma (PSC) e Toninho Wandscheer (Pros).

Cunha foi cassado com 450 votos a favor e 10 contrários. Foram registradas, ainda, nove abstenções e 42 ausências do plenário.