São Paulo, 01 (AE) – A Central Única dos Trabalhadores (CUT) considera precipitado qualquer debate sobre greve geral no segundo mandato do presidente reeleito Luiz Inácio Lula da Silva “Não sou contra, mas acho muito precipitado”, diz o líder Antônio Carlos Spis, que representa a central na Coordenação Nacional dos Movimentos Sociais, organização que reúne 32 entidades de porte nacional, entre elas o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Marcha Mundial de Mulheres, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a União Nacional dos Estudantes (UNE).

“O governo só toma posse no dia 1.º de janeiro e ainda nem preparamos uma pauta de reivindicações em torno da qual podemos negociar”, destaca. Na opinião de Spis, deve-se começar a falar de greve somente se o governo não atender às reivindicações que forem feitas e depois de esgotadas todas as possibilidades de negociação. “Pode ser que surjam condições para se falar nisso, no futuro”, diz. “Por enquanto, em torno do quê vamos mobilizar os trabalhadores?”

Política econômica – Spis também considera apressada a idéia de uma paralisação contra a política econômica da gestão Lula: “Devemos pensar nisso mais tarde, se constatarmos que permanece no segundo mandato o viés financista que foi a tônica do primeiro.”

O representante da CUT lembra ainda que é quase nula a possibilidade de a greve geral dar certo sem o apoio da central da qual ele faz parte, que é a maior do Brasil. A Força Sindical a segunda maior central, nem tem discutido o assunto.

Para os críticos à esquerda da CUT, instalados sobretudo na Intersindical e na Comlutas, que é ligada ao PSTU, ela tornou-se uma correia de transmissão das decisões do governo. Lembram que o atual ministro do Trabalho, Luiz Marinho, saiu da presidência da CUT, em São Paulo, para a Esplanada dos Ministérios. Essa proximidade favoreceria o governo no debate sobre reformas trabalhistas.

“Existem setores do PT e do governo que defendem a redução dos direitos trabalhistas”, diz Manoel Melato, líder metalúrgico ligado à Intersindical. “Isso ficou claro quando o ex-ministro do Trabalho e petista Jaques Wagner disse que a CLT está cheia de penduricalhos. Sabemos que o Lula vai adotar o discurso de que pretende discutir os direitos de todos os trabalhadores, incluindo os que não têm carteira assinada, enquanto nós ficamos defendendo apenas os que estão no mercado formal.”

Ilusão – Para Gilmar Mauro, da coordenação nacional do MST, até agora não existe nenhum indicador de que Lula pretenda mudar a política econômica no próximo mandato. “Seria uma ilusão das mais mirabolantes, acreditar que o presidente Lula vai mudar sua política econômica. Vamos continuar criticando e lutando contra essa política.”

Nas próximas semanas as entidades sindicais e movimentos irão promover reuniões para definir seu comportamento no segundo mandato de Lula.