Está nas mãos da juíza Yamile Bernán o pedido da ONG “Fútbol em Paz en La Argentina” (Futebol em Paz na Argentina, em espanhol), para que o presidente da AFA (Associação de Futebol Argentino), Julio Grondona, seja investigado. Em caso de condenação, a pena seria de um a seis anos de prisão. A ONG pediu nesta segunda-feira (19) que a Justiça investigue se a AFA deu 900 ingressos para os barras bravas -as facções de torcedores mais violentos do país- assistirem aos jogos da Argentina na Copa do Mundo no Brasil. As entradas seriam para a primeira fase.

A equipe vai enfrentar a Bósnia, no Rio de Janeiro; Irã, em Belo Horizonte; e Nigéria, em Porto Alegre. São 300 bilhetes para cada partida. A denúncia é que os ingressos foram fornecidos à Hinchadas Unidas Argentinas (HUA), entidade que representa os barras bravas. A reportagem tentou entrar em contato com Debora Hambo, advogada da HUA, mas não obteve resposta. “Isso não aconteceu. Não foi oferecido nada para barras bravas. O presidente Grondona já havia assegurado isso e eu reafirmo. Isso não existe”, assegurou à reportagem Ernesto Charquis Bialo, porta-voz da associação.

Ele diz que a AFA também não forneceu entradas para os barras há quatro anos, na África do Sul. Mas torcedores argentinos foram deportados do país e alegraram que entrariam nos estádios com a ajuda da entidade que comanda o futebol no país sul-americano. O advogado da “Fútbol en Paz en la Argentina”, Juan Manuel Lugones lembra que existe até mesmo um acordo entre os governos de Brasil e Argentina para troca de informações a respeito dos torcedores mais violentos. Estes poderiam ser, teoricamente, impedidos de entrar no território brasileiro.

A HUA entrou na Justiça pedindo que os dados dos torcedores argentinos permaneçam sigilosos. A ONG solicita que Grondona seja investigado por violação da lei 23.184, que trata da violência no esporte. A denúncia sobre a entrega de ingressos para a HUA foi feita pelo jornalista Gustavo Grabia, no diário “Clarín”.

Segundo ele, os barras reivindicam mais e querem também o direito de revender as entradas, para custear a “estadia” durante a competição. Durante a primeira fase, tudo está mais ou menos planejado. O problema seria a partir das oitavas de final, quando a cota de entradas diminuiria e criaria problemas internos dentro da HUA. Torcedores ficariam descontentes.

Para pressionar Grondona a atender suas demandas, os barras têm feitos protestos na rua em que fica a sede da AFA. O problema para as autoridades de segurança brasileiras é que a HUA estima em 1,2 mil os barras bravas que devem viajar para o Mundial. Eles alegam acordos para ajuda “operacional” (hospedagem, transporte e até ingressos) com algumas torcidas organizadas, como as do Internacional, Cruzeiro e Flamengo.

A HUA também apela para a ajuda do governo da presidente Cristina Kirchner, com quem sempre teve estreitos laços. Os idealizadores da entidade acertaram sua criação com assessores da Presidência dentro da Casa Rosada. Eles costumam levar aos estádios faixas de apoio ao regime e tiveram ajuda financeira, no torneio da África do Sul, de entidades ligadas aos partidos que apoiam a presidente