O líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), Valmir Mota de Oliveira, o Keno, morto no último domingo (21) em um confronto com seguranças particulares, estaria marcado para morrer desde março deste ano. A Subdivisão de Cascavel registrou, no dia 28 de março, um boletim de ocorrência sobre a ameaça de morte, alertada em um telefonema anônimo, contra Keno, Celso Ribeiro Barbosa e Célia Lourenço. De acordo com o registro da ocorrência, a pessoa fez o alerta dizendo para que tomassem cuidado porque a “UDR (União Democrática Ruralista) estava preparando uma armadilha para eles”.


A advogada da ONG Terra de Direitos, Gisele Cassano,  informou a Sociedade Rural do Oeste contratou seguranças particulares para ameaçar os sem-terra. “A organização declarou à imprensa que a cada reintegração que o governo não cumprisse, os próprios ruralistas iriam retirar os sem-terra das propriedades”, afirma. Em julho deste ano, a Polícia do Paraná realizou, de forma pacífica, a reintegração de posse da  fazenda Syngenta.


 


 


Os sem-terra confirmam que a intenção dos seguranças ao voltar na fazenda Syngenta no domingo passado era a de matar as lideranças. “Temos certeza de que a intenção deles era matar o Keno, a Celinha e eu. Eu não estava lá à tarde e atiraram na Isabel Maria Nascimento de Souza, achando que era a Celinha, pois são parecidas. Deu para perceber que só atiraram para matar nos líderes, nos outros deram tiros no pé e em outros membros não vitais. Se eu estivesse lá naquela hora, com certeza teria sido assassinado e Keno já era carta marcada para morrer”, contou Celso Ribeiro Barbosa, uma das vítimas da ameaça e que pertence à coordenação estadual do MST e da Via Campesina.


 


Segundo Barbosa, os telefonemas de alerta no início do ano foram anônimos e feitos para o número da Secretaria do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, em Cascavel. “A recepcionista atendeu as ligações da pessoa avisando que nós iríamos morrer. Achamos que as ameaças vieram mesmo da UDR, mas é complicado de dizer ao certo quem é”, disse Barbosa.


 


Ele contou que sua casa, que fica em um assentamento a 15 quilômetros da Syngenta, em Santa Tereza do Oeste, está sendo cercada e vigiada pela empresa NF de segurança o tempo todo. “Eles ficam rondando a casa e acendem os faróis dos veículos todas as noites para ver se não tem ninguém. Por conta disso, eu e minha família não temos ido mais lá, por medo das ameaças. Muitos vizinhos estão dizendo para a gente não ir e não vamos mesmo, por medo”, relatou.


 


Ele contou ainda, que vigilantes da empresa NF teriam entrado algumas vezes no assentamento que faz divisa com a fazenda da Syngenta, dando tiros para o alto e fazendo ameaças. “Eles ameaçam as famílias assentadas com o objetivo de intimidá-las, para que não ousem mais invadir”, disse.


 


A advogada da ONG Terra de Direitos, Gisele Cassano, confirma a informação fornecida por Barbosa sobre as ameaças e diz que entrou no caso por causa da violação dos direitos humanos. “Eles vêm sofrendo ameaças e em novembro do ano passado, Keno já havia sido agredido pela Sociedade Rural Oeste (SRO) durante o encerramento da Jornada da Educação na Reforma Agrária, promovida pelo MST em Cascavel”.


 


Segundo ela, enquanto os participantes se dirigiam à fazenda da Syngenta, para uma manifestação pacífica, dentro de um ônibus, na estrada que liga Cascavel a Foz do Iguaçu, foram parados por um bloqueio feito pela Sociedade Rural do Oeste. Seus integrantes, liderados pelo presidente Alessandro Meneghel, aguardavam o ônibus com pedaços de pau, barras de ferro e armas de fogo, fazendo uma barreira humana. Mesmo com o bloqueio, os trabalhadores decidiram continuar a rota a pé, mas foram violentamente atacados.