Um debate entre “verdade e mentira”, “razão e emoção”. É o que o prefeito de Curitiba e candidato à reeleição, Gustavo Fruet (PDT), pretende travar com seu principal adversário nas eleições deste ano, Rafael Greca (PMN). Fruet disse, durante sabatina promovida pelo Bem Paraná e pela PUCPR, na noite de terça-feira, que pretende debater “frente a frente, olho no olho” com Greca no segundo turno. O prefeito reafirmou que administrou a cidade em um dos momentos mais difíceis da história do país, sem que serviços entrassem em colapso, acusou adversários de “bravatas” em relação aos contratos do transporte coletivo e defendeu as ações de sua gestão.

Principais propostas
Trabalhamos o futuro em três grandes eixos: infraestrutura, educação e inovação. Em quatro anos, procurei concluir obras que tinham sido iniciadas e ampliar os investimentos. Investimos em novos modais na área de transporte. Procuramos concluir a Avenida das Torres, com uma intervenção de 8 quilômetros, ponte estadiada, trincheiras, acesso novo à rodoferroviária, Entregamos três trincheiras, o viaduto da Afonso Camargo, vias e pontes de acesso. Implantamos a área calma, as faixas exclusivas para ônibus. Estamos criando a capacidade de um novo salto para uma cidade que mudou de escala. Na educação, Curitiba é hoje a única capital que zerou a demanda até os 4 anos, com os melhores indicadores do Ideb, e a capital que mais ampliou a educação infantil.

Integração do transporte
A integração nunca foi interrompida. Curitiba mantém a rede de pavimentação dos terminais, o Guadalupe é 100% metropolitano, mas toda a estrutura é mantida pela prefeitura. São 2 milhões de usuários com tarifa única, a região metropolitana tem tarifas diferentes. Curitiba está integrada, a região metropolitana não. Curitiba tem tarifa mais baixa, a região metropolitana tem a mais cara. Curitiba tem três consórcios de empresas, todos licitados, a região metropolitana tem um quarto, sem licitação.Tem que ser uma licitação do governo do estado. Lá, quem assina a tarifa é o governo do Beto Richa. Querem que Curitiba pague as metropolitanas. Quando criaram o subsídio, seguraram a tarifa em período eleitoral, em 2012. Em um ano, colocaram R$ 84 milhões. No mês passado o governo do estado colocou quase R$ 6 milhões no sistema da região metropolitana, e mesmo assim a tarifa é mais cara. Todo mês eu sofria uma ameaça de greve, no dia de pagar salário os empresários pagavam 10 ou 30 reais, para provocar o trabalhador. Ficava a prefeitura pressionada para pegar dinheiro do orçamento ou de outra fonte e pagar as empresas. As empresas de ônibus têm nove ações na Justiça e conseguiram uma liminar para não renovar frota, o que essa gestão estava cobrando.

Trânsito
Apesar de a cidade ter uma ideia de cidade planejada, ela não foi planejada para ter 500 mil veículos no anel central. O automóvel não é inimigo, mas não pode ter prioridade. Tomamos medidas como semáforo inteligente, o que reduziu em 70% o índice de atropelamentos. Criamos a via calma, para que se incentive o ciclista a sair das canaletas, dobramos as ciclofaixas. A área calma de 40 quilômetros é engenharia de trânsito, a partir de 50 quilômetros por hora a chance de sobreviver em caso de acidente e muito menor.

Educação
Neste ano, com 30% do orçamento, o investimento vai chegar a R$ 1,6 bilhão. É o maior investimento da prefeitura. Só esse ano, o investimento em educação equivale a quase 25 pontes estaiadas. Construir é o mais barato, o problema é manter. Criamos a carreira de educador infantil. Implantamos a aposentadoria especial para toda a carreira.

Saúde
O SUS tem que ser defendido. É algo que funciona. Em Curitiba, das 97 especialidades, em 60 não há filas. Mas em 37 ainda há uma pressão muito grande. Isso custa cada vez mais. Temos uma rede com 109 unidades, requalificamos 98. O SUS não reajusta a tabela de média e alta complexidade há muito tempo. No ano passado, colocamos mais dinheiro que o governo federal. Os recursos estão atrasados, R$ 93 milhões do governo federal e R$ 23 milhões do governo do estado. Em quatro anos, Curitiba vai realizar mais de 50 milhões de atendimentos, são mais de 730 mil remédios gratuitos por dia. Quando assumi, a prefeitura era responsável por um quarto da conta, hoje são 60%. São 212 remédios.

Licitação do ônibus
Está na justiça. Escuto muita bravata na campanha, o candidato bate no peito e diz que vai resolver. Isso tem apelo. Se a gente revoga o contrato, em 30 dias o prefeito vira herói. Mas o pedágio não acabou nem abaixou. O Ministério Público está buscando intermediar. O sistema de transporte da Capital é o mais caro do Brasil. Só em Curitiba tem plataforma elevada, estação tubo só tem aqui. A lógica é facilitar o tempo de embarque desembarque, só que é caro. Nenhuma cidade mantém o sistema sem subsídio.

Greca
Vejo a expectativa de segundo turno, aí vai ser frente a frente, olho no olho. Quero ter um debate todo dia com o ex-prefeito Rafael Greca. Ele não é urbanista. Não trabalhou no Ippuc nem dez anos da vida dele. Nos últimos cinco anos, ficou à disposição do Senado e até hoje não diz o que fez. Omite que saiu do Ministério do Turismo envolvido no projeto naufragado da Nau. Envolvido na máfia do bingo. Usou dinheiro da Cohapar para comprar comida para sua satisfação pessoal. O Ministério Público entrou com representação e ele pagou as contas. É uma visão patrimonialista. Endividou Curitiba em 300%. Estou pagando contas da gestão dele para o Bando Interamericano de Desenvolvimento. Prometeu 3 mil quilômetros de asfalto, depois 1,8 mil, agora está em 800. Fiz três viadutos, quatro trincheiras. Talvez eu não tenha tocado o tambor como ele toca.

Campanha na TV
O (Rafael) Greca procura passar a imagem de renovação, mas esconde o Beto Richa e o Luciano Ducci. Queremos expor as contradições. Nunca fiz política de agressões. Quem está na vida pública tem que ter o couro curtido, absorver críticas. Greca disse que o Beto Richa era omisso, covarde, evocou o ‘fora Beto Richa’. Disse que o Beto Richa foi responsável pelo 29 de abril, depois, de forma covarde e mentirosa, disse que eu me escondi. Quando o Greca era prefeito, a Guarda Municipal fazia a guarda pessoal dele, da casa dele, da chácara dele em Piraquara. Ele doou R$ 600 mil para a própria campanha, é mais que o patrimônio dele. Em toda eleição é candidato, repete o discurso e só muda o alvo. Só fala em ‘amor’, ‘coração’ e ‘minha querida Margarita’. Para mim o embate nessa eleição, e pode ser um erro, é entre razão e emoção, verdade e mentira.

Pesquisas
O Greca contratou o Ibope. O Ibope terceiriza a pesquisa para uma empresa local. No Brasil, pesquisa vira propaganda. Na eleição para o Senado (em 2010), na véspera o Ibope me colocou 21 pontos atrás, no dia seguinte perdi por 1 ponto. Em 2012, na pesquisa de boca de urna eu estava 7 pontos atrás do Luciano Ducci. Fui pro segundo turno e ganhei.

Uber
Não tem como regulamentar aplicativo, é uma ilusão que aqui em Curitiba vamos regulamentar o Facebook. Se a cidade não tem algum tipo de controle, vai ficar como a Tailândia e a Indonésia. Imagine tirar todos os taxistas de Curitiba, nenhum aplicativo vai dar conta. Não podemos simplesmente chegar para uma pessoa de 50 anos, que tem um táxi, e dizer ‘tem uma nova tecnologia, fica mais barato, vá plantar batatas’.

Partidos e alianças
O mesmo combate que tive em Brasília na CPI dos Correios eu travei dentro do PMDB. E também no PSDB, o exemplo disso foi o Derosso (João Cláudio Derosso, ex-presidente da Câmara de Vereadores de Curitiba). Sempre fui oposição, pela primeira vez sou candidato pela situação. Quando me afastei PSDB foi um momento difícil, eu poderia ter sido secretário, mas fiz a opção de ir para a rua, defender o que eu acredito. O Rafael (Greca) não é uma questão de coerência, é uma questão de caráter. Foi aliado do (Jaime) Lerner quando o Lerner estava no governo. Foi aliado de Requião e se afastou quando ele saiu do governo. Agora vai com o Beto Richa. Quando perguntado, o Greca diz que não tem compromisso com o erro alheiro. Não é erro do Beto, é erro do Greca.