O deputado estadual Tadeu Veneri (PT) afirmou que pretende, com sua candidatura, realizar um debate com Curitiba sobre aquilo que é o tripé de sua campanha para prefeito da cidade – o lixo, a especulação imobiliária e o transporte público. Sobre o momento que vive seu partido, lembrou que tentou em ocasiões “melhores” para o PT sair candidato, mas ressaltou que gosta de desafios.

Principal proposta
Há um tripé que faz com que Curitiba continue sendo refém de três segmentos: o lixo e a forma como ele é tratado, a especulação imobiliária e a financeirização do espaço público, e o terceiro a mobilidade urbana. São esses três pontos que entendemos ser necessário debater e por isso colocamos nossa candidatura.

Chapa pura
“Antes de sair candidato, discutimos com o diretório o que era necessário, até porque havia posições distintas dentro do PT. Na sequência, quando me propuseram ser candidato, fiz algumas ponderações. A primeira é trazer alguns pontos que o Partido dos Trabalhadores deixou de discutir há algum tempo, pelo menos 15 anos. Outra é que tivessemos alianças de acordo com nossas convicções, e até por isso saímos com chapa pura. E daí chegamos ao debate de Curitiba, que é uma cidade muito rica materialmente, mas muito desigual. Queríamos um debate sobre a cidade real, não a cidade da prancheta, construída apenas na comunicação”

PT
“Eu disputei em 2008 e perdi para a Gleisi Hoffman por 3%, perdemos em 2012 por 100 votos para quem não queria a candidatura própria. Agora, nesse processo todo, entendemos que saí candidato na seguinte situação: todos numa fila, quem quiser ser prefeito que dê um passe a frente. Em que pese a adversidade, sempre fui uma pessoa que gostou de desafios. Para mim, as coisas quando surgem não surgem necessariamente na hora em que gostaria, mas quando as coisas estão prontas para serem desafiadas. É um momento ruim do Partido do Trabalhadores, mas que nós precisamos reafirmar algumas teses. Eu nunca fui de me esconder, sempre enfrentei todas as questões difíceis e não por acaso fui um dos poucos votos contra o auxílio moradia para juízes e desembargadores, que eu considero uma excrescência.”

Transporte
“Hoje, 100% dos recursos pagos aos empresários do transporte público é pago pelo usuário. O que propomos são outras fontes de recursos. É preciso subsidiar. Se subsidiamos o lixo e outras atividades, por que não pode subsidiar o transporte, ter um bilhete único e temporal no sistema de transporte? Isso traz mais gente para dentro do sistema. No sistema atual, só o empresário ganha”

Revisão da licitação
“Isso é algo muito mais para propaganda do que algo prático, e a questão do pedágio comprova isso”, afirmou, defendendo a criação de uma frota pública de ônibus. “Precisamos de uma frota pública, mínima, que sirva de padrão. Se para minha frota o pneu custa x, por que para a frota do empresário vai custar y? E é preciso uma auditoria de todos os contratos para se encontrar aquilo que possa ser a tarifa necessária”

Lixo
“Curitiba já foi a Capital Ecológica, a Capital Mais Sustentável. Hoje não é mais, só no marketing. Então temos de trabalhar com educação ambiental e mexer no problema de quem ganha com o lixo, senão não vamos resolver o problema.Tem muito do lixo reciclado que vai para aterro porque a empresa ganha com tonelagem. Por que não penaliza quem não separa? Coloca containers e obriga a separar o lixo. Não vai mudar em um, dois anos, mas talvez daqui a dez anos tenhamos outra consciência com educação ambiental”.

IPTU progressivo
“Aqui a política habitacional é feita 100% através do Governo Federal. Nós precisamos fazer IPTU progressivo para que o cidadão pague o que é condizente com o que a pessoa tem. Que tenhamos um fundo de habitação que recolha multas aplicadas, gerencie o IPTU regressivo e gerencie a política habitacional”.

Educação
“A primeira coisa que temos que ter é 30% do orçamento desenvolvido e voltado para educação. Hoje está em 27%. Com esses 3% a mais, conseguiríamos colocar e manter 6 CMEIS a mais. Nos CMEIS também precisa de gente. Em 1996 um projeto, vetado pelo Grea, estabelecia 30 horas aula o máximo para os professores. Então propomos 30% do orçamento, jornada específica de atividade e eleição direta para os diretores dos CMEIS feita pela comunidade”.

Saúde
Temos uma rede de UBS bastante significativa, nove UPAs, além dos convênios feito com outros hospitais. A melhor coisa que podemos fazer é atenção primária. Se conseguirmos isso, 80% dos procedimentos são resolvidos com o médico da família, que é caro, mas reduz muito a demanda sobre a UBS e sobre as UPAs. A segunda questão é que tenhamos um número de UBS que ossa ficar aberto por um horário maior, até 19h, 20h, e que nossas unidades de saúde tenham quadro completo.”

Violência
“Não dá para se olhar a violência como algo que passou a acontecer num belo dia, tem de abordar como algo integral. A violência é um processo construído, e todo processo construído dentro do capitalismo, quando tem algum tipo de mercado, ele vai acontecer e vai ser sistêmico. Então pensamos que é possível combater a violência não com mais violência. Penso que é possível integrara a Polícia Militar, Polícia Civil, Guarda Municipal, e no mesmo espaço colocar Defensoria Pública, a Assistência Social, e entenda que nem todas as pessoas em situação de violência são necessariamente criminosas. Em Medellín fizeram algo interessante, que foi a acupuntura urbano, levando equipamentos urbanos para as áreas mais deflagradas da cidade e tentar resoilver esses problemas com o Estado, e não com a ausência do Estado.”

Moradores de rua
“É muito ruim uma pessoa chegar de manhã e na frente da sua casa estar uma sujeirada só. Acontece que não temos um único banheiro público gratuito em Curitiba. Aí me pergunto: essas pessoas são diferentes de nós? Não são. Em algum lugar essas coisas vão acontecer. Nós temos uma rede de proteção bastante frágil, e acho que é preciso que façamos caso a caso um processo de abordagem”

Cooperativas
“Cooperativas temos um exemplo que vem sendo já construído há algum tempo que são os catadores de material reciclável. Mas trabalhamos com o conceito não só destas cooperativas, mas principalmente cooperativas que vem a partir das experiências que vem da agricultura familiar. É possível termos todo uma rede de segurança alimentar e que a partir dela trabalhemos pequenas cooperativas, priorizando por parte do Estado e do município a compra com essas redes de cooperativas”.

Cultura
“Temos de nos inserir no Sistema Nacional de Cultura. Não estar no sistema nos faz perder anualmente uma verba enorme que poderia ser investida em cultura. Precisamos criar política de cultura que não seja só a cultura central. Temos uma produção enorme de cultura na periferia e nós muitas vezes, de forma preconceituosa, falamos em ‘levar cultura para a periferia’. Por que não trazer a cultura da periferia para o centro? Pega o exemplo dos meninos que vão fazer break. Eles pediam uma tomada para fazer isso na saída do shopping, e a Prefeitura não faz isso. Aí querem trazer o Pavarotti… Vai ver isso com teu dinheiro, não com o da Prefeitura. Essa coisa de cultura popular e cultura erudita é uma coisa preconceituosa. Toda cultura é cultura, independentemente do que ela pregue”.