O município de Querência do Norte, no Noroeste do Paraná, é o reduto do ginseng brasileiro. Por seus 914 quilômetros quadrados repletos de terra úmida, a planta medicinal impera principalmente nas ilhas e várzeas do Rio Paraná, o segundo maior rio da América do Sul, localizado bem próximo ao pequeno município com pouco mais de 12 mil habitantes.

A planta, no entanto, só começou a gerar negócios na região no final da década de 90, quando os agricultores locais se juntaram a pesquisadores e técnicos do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-PR), liderados por Cirino Corrêa Júnior, coordenador estadual de plantas potenciais, medicinais e aromáticas da entidade.

Ao chegarmos ao município, identificamos a planta e incentivamos o cultivo e a retirada de forma correta, sempre respeitando o meio ambiente e a preservação da espécie, conta Corrêa Junior, que escreveu uma tese sobre o tema, enquanto fazia seu doutorado na Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp (universidade de São Paulo).

Até então, os coletores utilizavam fogo para queimar a vegetação que escondia o ginseng, uma vez que a mata precisa estar limpa para que ele possa ser retirado. A prática da queimada, além de crime ambiental, estava colocando a planta em risco de extinção.

NEGÓCIOS – Em 2005, após o apoio da Emater, os agricultores da região fundaram a Aspag (Associação de Pequenos Produtores de Ginseng de Querência do Norte), com o objetivo de produzir ginseng orgânico e sustentável. Começamos a profissionalizar a cultura aqui na região, diz o sócio-diretor da entidade, Misael Jefferson Nobre.

No ano de 2015, segundo levantamento do Deral (Departamento de Economia Rural), da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento, a produção da raiz foi de 225 mil quilos – montante 89% superior ao registrado no ano anterior. Naquele ano, a movimentação gerou R$ 675 mil em negócios para os produtores rurais.

O ginseng brasileiro atraiu inclusive compradores de países europeus e asiáticos. A França, por exemplo, adquire três toneladas por ano do produto, enquanto o Japão cerca de uma tonelada. Em setembro deste ano, uma comitiva chinesa fará uma visita em Querência de Norte. É mais uma chance de mostrarmos a qualidade do nosso produto para compradores de outro país, conta Nobre.

QUALIDADE – O produtor relata, todo orgulhoso, que o ginseng produzido em Querência do Norte, também conhecido pelos nomes de batata-do-mato, corango, corrente, sempre-viva e paratudo, é o melhor do Brasil. É puro e feito apenas com a raiz da planta, local onde está concentrado o seu poder, diz.

Para saber se é realmente puro, continua Nobre, a planta tem que ser bem amarela. Quando tem baixa qualidade, por causa da presença do caule e das folhas da planta, ela fica esbranquiçada e amarronzada, acrescenta.

IMBRÓGLIO – A comercialização poderia melhorar se o ginseng brasileiro fosse reconhecido como planta medicinal, diz o técnico agrícola da Emater-PR, Wesley Santa Passo. Para tanto seria necessário uma pesquisa de uma instituição científica, mas como o mercado é pequeno e ainda não gera tanto lucro, nenhuma universidade fez ainda, afirma.

Hoje, os produtores dependem de atravessadores para venderem seus produtos em território nacional ou internacional.