Ela pegou uma faca para matar o seu ex-noivo. Ela o delatou à polícia. Ela tentou matar o filho do homem que ama. Ela saiu às ruas, perdida, na chuva, sem rumo. Ela tentou arrombar o cofre do seu amado. Sílvia, personagem vivido pela atriz Aline Morais na novela Duas Caras, foi capaz de fazer tudo para ter o controle sobre Ferraço. Mas, o que acontece com a cabeça das pessoas ciumentas que parecem viver um pesadelo fantasioso interminável?

Para a psicoterapeuta Denise Impastari, o ciúme obsessivo é uma patologia mais comum do que se imagina e está presente até no reino animal. “Ciúme é inveja, vício pelo poder. Nos tornamos dirigentes da vida e do destino do outro. Precisamos nos sentir sempre no controle, o que é uma grande ilusão, visto que ninguém controla ninguém”, ressalta.

De acordo com Denise, o caso de Sílvia ilustra bem a questão da luta pelo poder e pelo controle. “A sensação é de não conseguir viver sem o outro, uma fixação, um vício e, principalmente, uma projeção. Uma pessoa ciumenta sempre se assombra com histórias irreais baseadas na dor e na vingança. Tornamos o outro um ser irresistível, desejado por todos. Com isso, há sempre o desejo que o outro prove da sua dor como uma punição para ele e, principalmente, para si, como uma autoflagelação”, avalia a terapeuta.

Ainda segundo a terapeuta, depois da expressão furiosa do ciúmes, a pessoa ciumenta sempre atribui a culpa do seu desequilíbrio ao outro. “A vítima do ciúme sempre é o algoz para o ciumento. Às vezes, quando um melhora, o ciúme aparece no outro. Quando alguém tenta buscar ajuda, o outro sabota. Muitas vezes ninguém busca ajuda e no lugar disso, se unem para manter a patologia, que é uma característica que os une”, conclui.