Foto Instagram Luan Azevedo – Avô passando dicas ao neto no partidor

Quando tinha apenas 10 anos, José Azevedo começou a montar nas canchas retas. Hoje, aos 71 anos o ex-jóquei e treinador que se consagrou no Jockey Club do Paraná vê de sua chácara na Fazenda Rio Grande seu neto, de apenas 17 anos brilhar nas pistas, assim como ele fez na década de 70.

Vencedor de duas Taças de Prata, uma delas com a inesquecível Bite Back, Azevedo ficou conhecido pelo mundo do turfe primeiro como jóquei, quando se destacou montando e depois treinando os animais do Haras Belmont em Cidade Jardim na década de 80. Em 1989 ele voltou ao Tarumã, onde venceu diversas provas clássicas antes de passar o bastão ao filho Fernando. 

Hoje quem comanda o grupo de cocheiras do Haras Belmont é seu outro filho, Fabrício, que começou escovando cavalos para o pai, ficou um tempo afastado do turfe e voltou como protagonista. No currículo alguns grandes prêmios e a vontade de ainda vencer muitas provas.

Claro que, assim como muitos, também ampliou o ramo de atividades. Hoje tem um caminhão de transporte de animais com o amigo e sócio Júlio Cesar de Moura Rosa. Mas o que vem deixando Fabrício muito feliz é seu filho Luan, que vê seu pai com os olhos cheios de lágrimas ao falar do orgulho do filho. 

"O orgulho é muito grande", contou Fabrício."Eu também lutei para ser jóquei, mas não consegui. O peso não ajudou. Eu fico muito feliz cada vez que a gente consegue uma vitória. Dou umas broncas as vezes porque faz parte. Mas a torcida é muito grande para que ele consiga cada vez melhorar mais."

Luan Azevedo é o jóquei mais jovem do Paraná em atividade. Cursando o primeiro ano do ensino médio no Instituto de Educação do Paraná, o adolescente que começou a montar aos 15 anos tem uma história muito interessante.

Seu pai – Fabrício – trouxe Luan para o Jockey com a intenção de dar-lhe uma “lição”. Fabrício também cresceu no jóquei acompanhando seu pai. Então ele pensou que se mostrasse as dificuldades de ser um profissional do turfe, talvez o filho desse mais valor aos estudos. O colocou para ajudar os tratadores na cocheira, no entanto, a “lição” serviu de motivação para o adolescente seguir a profissão da família.

“O Luan estava indo mal na escola, arrumando confusão”, conta Fabrício. “Então eu quis mostrar para ele que os cadernos e livros eram muito mais leves que uma peneira ou um rastelo aqui da cocheira. Que estudar era muito mais importante. Mas no fim ele acabou gostando e hoje além de estudar está aqui trabalhando como jóquei.”

Luan já era apaixonado pelos cavalos, porém ainda não sabia montar. Ele fez uma aposta com o pai e com o então jóquei Emerson Gonçalves Cruz, o popular "Motoca". Se fosse aprovado na escola naquele ano o pai o autorizaria a aprender a montar. Com apenas 14 anos Luan já montava os cavalos, estreando com 15 anos no Hipódromo de Uvaranas, em Ponta Grossa.

Lá o jovem pilotou por um ano e não conseguiu vencer. Segundo Luan, em Ponta Grossa "tem que ser muito monstro para conseguir montar". Sua primeira vitória foi no Tarumã, com o alazão Brazilian Chrome, do Stud Brothers. Ele até hoje é grato aos treinadores Everton Vieira, Julio Cesar de Moura Rosa entre outros que lhe deram as primeiras montarias. 

E gratidão parece fazer parte do caráter do jovem, que mesmo não dando certo na ETP da Gávea, escola de aprendizes do Jockey Club Brasileiro, se mostra extremamente agradecido aos profissionais de lá pela oportunidade. 

"Este ano tive uma experiência no Rio de Janeiro, entrei na escola de aprendizes", conta Luan. "Infelizmente minha estrutura física não me permitiu continuar. Sou alto e sou pesado para um aprendiz. Mas não tenho do que reclamar, pelo contrário, só agradecer a Juliana (Dias), Marcelo (Cardoso), Machadinho (José Machado). Grande equipe da escolinha que sempre me tratou muito bem."

Hoje o “prodígio da família Azevedo” vem enchendo o pai e o avô de orgulho. No mês retrasado os três se encontraram na foto da vitória da Prova Especial Polícia Militar do Estado do Paraná, vencida pelo cavalo Alphorn. Luan como jóquei, Fabrício como treinador e o “seu” José como fã incondicional dos dois.

Ver meu neto vencer uma prova é coisa de louco”, conta o realizado José Azevedo. “Ficamos muito nervosos quando ele está na pista. Aquele foi um momento de muita emoção. Fiz questão de ir tirar a fotografia e guardei o quadrinho aqui em casa. Eles são meus orgulhos.”

O "vô" Azevedo também tem uma ótima história dos tempos que ainda era jóquei. Quando montava, ele ia todo sábado ao Hipódromo de Uvaranas, onde era um dos grandes destaques. O ano era 1978 e ele largou montando em um animal e chegou montado em outro. Isso mesmo, ele trocou de cavalo durante o percurso. 

"Em 1978 eu montava todo o sábado em Ponta Grossa. Uma vez eu montava uma barbada, ia ganhar o páreo. Mas o falecido Sidnei Barbosa me jogou contra a cerca e para eu não cair pulei no cavalo dele. Como ele havia caido, eu fui até o disco montado no cavalo dele. Fiquei feliz porque além de não me machucar ainda fiz terceiro. Até hoje o Fabrício tem o jornal na cocheira para comprovar a história (risos)."

Mesmo conciliando os estudos com a profissão, Luan não desanima e conta que é a grande atração da escola. Muitos colegas já foram ao Jockey para vê-lo na pista e, se continuar na carreira, logo estará montando em um Grande Prêmio Paraná.

“Meus bichos de estimação sempre foram os cavalos, sou apaixonado por eles”, conta Luan, que ainda recebe alguns ensinamentos de seu avô. “O vô não dá muitas dicas, mas puxa minha orelha. Ele observa muito eu montando e vem me corrigir. Eu sempre o ouço porque ele sabe muito sobre os cavalos e a profissão.”

Esta é a família Azevedo, que desde 1960 está no turfe, hoje em sua terceira geração. Talvez Luan, que soma 14 vitórias na carreira chegue aos números de seu avô. Mas o que fica é o exemplo de que o amor pelo turfe passa passa de pai para filho.

*Fotos: Site JCPR por Estéfano Lessa, Porfírio Menezes e Leopoldo Scremin para o Bem Paraná.