Quem mora em São José dos Pinhais já deve ter passado pelo menos uma vez na vida pela Avenida Rui Barbosa. Ou mesmo quem não mora, mas trabalha no polo industrial da cidade que conta com o segundo maior PIB do Estado, alguma vez já passou nesta movimentada avenida, que praticamente atravessa a cidade de um lado ao outro.

Mas o que ninguém imagina é que, dividindo a calçada com os pedestres, se encontra um centro criatório de cavalos de corrida. Isso mesmo, próximo a concessionárias de veículos, fábricas, lojas, restaurantes e até uma casa de shows, existe um haras que cria cavalos de corrida. E o proprietário é o criador mais velho do Brasil.

Aos 91 anos, Clemente Moletta parece um menino ao contar a história de seu haras. Estabelecido no mesmo lugar desde 1959, o “Seu Clemente” relembra que quando decidiu pela região para começar a criar cavalos foi criticado por alguns, afinal, ali já era o Centro de São José dos Pinhais.

“Quando eu comecei aqui alguns amigos falaram que eu era louco, que aqui não iria dar certo”, conta o turfista. “Mas aqui na rua passava um carro por mês. Quando comecei aqui só passava charrete e carroça, nem tinha a rua asfaltada ainda.”

Com o tempo a região foi crescendo e o haras foi começando a ficar cercado pela civilização. Com isso, Clemente teve que se adaptar a modernidade. A água para os cavalos, que não pode ser a que vem da rua (tratada com cloro) é retirada de poços artesianos. O pasto, um dos principais alimentos dos cavalos criados lá, foi plantado por especialistas e hoje brota em grande quantidade, semelhante ao que acontece nas fazendas. E mesmo com indústrias o cercando, os resultados nas pistas são muito bons.

Criando cavalos dentro da metrópole, o Haras Clemente Moletta já venceu diversas provas graduadas no Brasil. Inclusive o Grande Prêmio Paraná, principal prova do estado. A qualidade dos crioulos do “Seu Clemente” é tão grande que ele já venceu nos Hipódromos de Maroñas e Las Piedras, no Uruguai. E para a surpresa de todos, na semana passada o seu cavalo Dá-lhe Ghadeer bateu o recorde dos 1.200 metros no Hipódromo de Omã, na Península Arábica.

O resultado disso, segundo Clemente é o amor pelos cavalos. Além, claro, da qualidade de suas matrizes e de seu garanhão, o reprodutor É do Sul, que desde 2007 mora no “Centrão de São José”.

Resultados nas pistas impressionam:

Criando em um local que para muitos não é adequado, o Haras Clemente Moletta tem excelentes resultados nas pistas brasileiras e internacionais. Uma das melhores éguas do Brasil saiu de lá, Dalheconquistadora.

O irmão dela, Dá-lhe Ghadeer já venceu no Brasil, no Uruguai e em Omã, na Península Arábica. O filho da reprodutora Spade ganhou duas das três provas que correu em Mascate, uma delas em tempo recorde.

Mas o maior feito deste haras que fica no meio da cidade foi em 2004. Dá-lhe Grison venceu o Grande Prêmio Paraná (G1), maior prova do estado e na época a maior prova em pista de areia do Brasil. Os resultados são impressionantes e até surreais, uma vez que de dentro dos pastos é possível ver os ônibus passando na Avenida Rui Barbosa.

Ao todo são 26 animais alojados em cerca de dois hectares, localizados de frente para uma das maiores avenidas de São José dos Pinhais. O proprietário, Clemente Moletta reside no local com sua família, fazendo dali uma espécie de residência/chácara/haras no Centro da sexta cidade mais populosa do Paraná.