O Círculo é uma empresa de tecnologia que aparenta ser o sonho de emprego de 100 entre 100 jovens. Ela é comandada por Tom Hanks (ou, ao menos, seu personagem, Eamon Bailey), um cara descolado. Os funcionários fazem seus próprios horários, estão liberados para trabalhar com roupas confortáveis. E mexem com tecnologia, o grande filão de empregos da atualidade. Símbolo de gente jovem. É essa premissa que norteia o filme O Círculo, a estreia mais destacada do dia 22 em Curitiba.

Mae Holland (Emma Watson), como 100 entre 100 jovens, também tem o sonho de trabalhar no Círculo. E consegue. Feliz da vida, deixa o trabalho em um call center e entra na empresa dos seus sonhos. Cresce e aparece. O problema é que Mae é talentosa, mas também inteligente e dona de espírito crítico. A partir daí, ao lado de Ty (John Boyega), ela percebe que o emprego dos sonhos não é bem assim. Entre outros problemas, O Círculo parece escravizar o trabalhador. E parece vigiá-lo sem parar.

O Círculo, de certa forma, é uma metáfora distópica das redes sociais. Estar sempre conectado é o pensamento de todos os jovens – e de muitos adultos também. Deixa-se de lado o convívio social com pessoas reais para estar conectado aos amigos virtuais. Deixa-se de lado a conversa cara a cara em detrimento das mensagens instantâneas. Posta-se a foto de um prato saboroso porque isso parece mais importante que saboreá-lo. Ao mesmo tempo, as redes parecem vigiar os usuários. “No que você está pensando?” é a frase de boas-vindas de uma postagem no Facebook. Provavelmente os algoritmos já calcularam o que o usuário está pensando; só estão à espera do usuário colocar ali. Com base em dados que os usuários entregam de bom grado em troca da conexão, os algoritmos calculam os tipos de produtos consumidos e direcionam a propaganda.

Claro que O Círculo coloca esse sentimento à enésima potência. Parece impossível fugir da vigilância do poder vigente. A sensação de estar sendo seguido sugere que as telas do Grande Irmão escondidas nas casas dos cidadãos, na obra 1984, viraram coisa de criança. Um dia a humanidade chegará a algo parecido com O Círculo? Bom, um dia a humanidade se perguntou se seria possível ir à Lua. O escritor francês Julio Verne previu, no século 19, que o homem um dia iria à Lua, mas não de trem. Em 1969, o homem chegou lá. Desde sempre a ficcão tem a mania de antecipar a realidade. E a realidade tem a mania de extrapolar a ficção.