Otávio Imamura

Cada vez mais, as pessoas estão correndo por razões psicológicas em vez de físicas. Essa é, pelo menos, uma das conclusões possíveis tiradas do estudo “The State of Running 2019”, elaborado pelo site RunRepeat.com e a Federação Internacional de Atletismo. Para chegar a essa afirmação, a pesquisa estabelece quatro razões para correr: psicológicas, sociais (reconhecimento e aproximação social), físicas e realização pessoal — (competição ou metas pessoais). Nesse contexto, tomando como base o tempo de fechamento de provas dos participantes entre 1986 e 2018, um aumento de pessoas viajando para correr e o envelhecimento dos atletas amadores, o estudo chegou a essa conclusão. Publicamos a primeira parte da análise da pesquisa, mostrando que as mulheres já são maioria entre os corredores.

De acordo com a pesquisa, há uma mudança da competição pela busca pela experiência. Muitos corredores relatam um foco maior nos benefícios psicológicos gerados pela atividade física do que a realização pessoal para buscar uma melhor performance. No entanto, há uma ponderação: como a corrida é um esporte acessível para boa parte das pessoas, é possível que haja um novo perfil de corredores, menos baseado na performance. Isso não significa que o corredor “raiz” (mais focado em seu tempo) tenha deixado de existir. 

Corredores mais lentos

O estudo constata que, hoje, os corredores são mais lentos do que no passado — os homens, em especial. Em 1986, a média de conclusão de maratonas era de 3h52, número que subiu para 4h32 no ano passado. Há uma diferença considerável de 40 minutos — 8 quilômetros a um pace de 5 min/km neste intervalo de 28 anos. 

De fato, conforme é possível enxergar no gráfico abaixo, os resultados de 2018 estão no pico da performance média dos amadores do globo. Isso, em tese, indica um perfil de corredores mais focados em obter uma experiência e saber o que significa correr uma maratona do que interessados em performance.

Nesse contexto, o gênero tem diferença quando se observa o gráfico abaixo. Os homens seguem aumentando o seu tempo para a conclusão das provas, mesmo com uma leve redução no crescimento a partir de 2001. Entre 1986 e 2001, o tempo de conclusão de provas de 42 kms masculino saltou de 3h48 para 4h15 — a partir de 2001, o aumento foi de 7 minutos, atingindo 4h22.

No caso das mulheres, elas estão ficando mais lentas, mas em menor intensidade do que os homens. Entre 1986 e 2001, houve um aumento de 15% na velocidade média de fechamento de maratonas: de 4h18 para 4h56. No entanto, a partir de 2001, houve queda de 1.3%.

Mais velhos

A média de idade dos corredores está aumentando. Em 1986, era de 35,2 anos e saltou para 39,3 anos em 2018. Uma das hipóteses do estudo é que as pessoas estão iniciando na corrida com mais idade — os dados das corridas de 5 kms indicam isso, ao menos, com um aumento de 32 anos para 40. O mesmo ocorreu nas demais modalidades: 10 kms, de 33 para 39 anos; 21 kms, de 37,5 para 39 anos; e maratonistas, de 38 para 40 anos.

– Comentário: No nosso caso, começamos a correr antes dos 30 anos, mas por uma razão específica e objetiva: emagrecer. Correr é um dos exercícios mais em conta e fáceis de se fazer: em tese, basta colocar um pé atrás do outro. É provável que um dos motivos que esteja levando ao aumento da idade média esteja relacionada a aspectos de saúde, com muitos corredores buscando melhorar a sua qualidade de vida, além de a saúde passar a ser uma preocupação maior a partir dos 30 anos.

Viaje para correr

Essa busca por experiências faz com que muitos corredores estejam buscando viajar para correr. No caso da pesquisa, ela considera o número de participantes estrangeiros em comparação aos locais. Para esse tipo de viagem, as maratonas são as mais buscadas: houve aumento de 0,2% para 3,5% entre o total de corredores inscritos de outros países. Nas meias maratonas e 10 quilômetros, os índices saíram de 0,1% e 0,2% para 1,9% e 1,4%, respectivamente. A única queda registrada foi nos 5 quilômetros.

– Comentário: Nós somos exemplos vivo disso. Deixamos de fazer uma série de corridas em nossa cidade para conhecer outras cidades por uma diferente perspectiva. Já estivemos no Rio de Janeiro, em São Paulo, Ilha do Mel, Balneário Camboriú, Florianópolis, Santos, Seattle e Vancouver. A ideia é que isso seja cada vez mais frequente daqui para frente, já temos a Paraíba engatilhada para este ano!

 

Metodologia e dados

O estudo cobriu 96% dos resultados de corridas nos Estados Unidos e 91% da União Europeia, Canadá e Austrália, além de grandes porções da Ásia, África e América do Sul – os 193 países reconhecidos pelas Nações Unidas foram considerados. Os corredores de elite foram excluídos do levantamento – foram considerados apenas os amadores –, assim como eventos de corrida e caminhada, corridas de obstáculos e outras modalidades “não convencionais”.