Apesar do desconforto causado pela proteção, médico recomenda o uso do acessório; exceção seria treinar em locais totalmente isolados, com a garantia de que não haverá contato com outras pessoas

Há um grande debate entre corredores e quem manteve suas atividades físicas ao longo dos quase 5 meses de quarentena devido à pandemia: usar ou não usar máscara? De fato, quando se observa as decisões tomadas por diferentes países, não há uma unidade de como proceder. Nos Estados Unidos, por exemplo, o uso de máscaras para atividades físicas era obrigatório em São Francisco, enquanto, em Nova Iorque, os praticantes deveriam usá-la somente quando vissem outra pessoa transitando.

Ao que parece, a forma como a Covid-19 atua e o fato de os estudos sobre a doença estarem se desenrolando em meio à pandemia torna a questão ainda mais complexa, gerando dúvidas e questionamentos. Uma das causas é o fato de terem existido recomendações distintas pelos órgãos: a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício do Esporte (SBMEE) já deram diferentes orientações a esse respeito.

Especialista em Medicina Esportiva do Hospital Marcelino Champagnat, Pedro Murara diz que as práticas esportivas ao ar livre em ambientes espaçosos e sem aglomeração representam risco baixo de contágio. Porém, o momento epidemiológico e a adesão da população às recomendações das autoridades devem ser os fiéis da balança para tomar essa decisão, assim como o respeito à legislação local.

Segundo Murara, a OMS teve o cuidado de orientar as pessoas sobre os riscos de treinar com máscaras úmidas, e a SBMEE “corrigiu” o problema ao sugerir que o atleta leve mais de uma unidade para efetuar a troca.

Pontos favoráveis e desfavoráveis das máscaras

Embora seja desagradável, a máscara efetivamente oferece proteção ao usuário. “A má experiência que ela proporciona pode realmente ser uma dificuldade adicional, mais uma barreira à prática regular de exercícios físicos que tanto incentivamos, fundamentais para saúde cardiovascular, metabólica, musculoesquelética e, especialmente neste momento, imunológica e mental. Por outro lado, a máscara é uma importante barreira física contra gotículas, o principal veículo de transmissão comunitária do vírus”, esclarece Murara.

Máscara molhada?

Um dos argumentos contrários ao uso da máscara é o fato de molhar com facilidade em exercícios ao ar livre. Na opinião de Murara, é recomendável usar a máscara nos treinos, mesmo com o aumento da dificuldade – e, ao molhar, fazer a troca por uma máscara seca durante a prática.

“As máscaras umedecem precocemente quando usadas durante a prática esportiva de fato, o que realmente anula a proteção que visamos obter com seu uso ao criar um meio de continuidade entre o ambiente interno da máscara em contato direto com as vias aéreas e o meio externo. É por essa razão que a SBMEE recomenda portar outras máscaras limpas para trocas conforme necessidade”, justifica.

Baixar e levantar durante o exercício?

Muitas pessoas têm adotado uma espécie de etiqueta: carregam a máscara no queixo ou pescoço e a colocam apenas ao verem outras pessoas. Esse procedimento é correto? Não, na opinião do profissional.

“Abaixar a máscara no queixo ao chegar ao local de exercício a contamina com as sujidades e micro-organismos da região, que até então estava exposta e é contraindicado. Após adaptar a máscara no rosto para sair de sua casa, deve-se mexer o mínimo possível nela. Quando o fizer, o apropriado é pelas tiras laterais”, afirma.

É necessário em treinos isolados?

Na teoria, não há riscos de transmissão para quem consegue sair de um local e chegar ao ponto da prática isolado, treinar de forma individual para, ao fim da atividade, colocar a máscara novamente. “O risco de encontrar alguém inesperadamente está sendo assumido como inexistente, o que é difícil de garantir na maioria dos casos. Entendo que esse tipo de situação não é realidade para todos, e as sociedades médicas devem pautar suas recomendações nas maiorias e não nas exceções”, afirma.

Existe “máscara esportiva”?

De algodão, de neoprene, de knit… O mercado passou a oferecer inúmeras opções para os corredores por diferentes valores. Mas existe uma máscara esportiva? Apesar dos argumentos comerciais usados por muitas empresas, a lógica é simples: quanto mais respirável um tecido, mais permeável ele é. Em outras palavras, embora ofereça mais conforto ao corredor, ela é, em tese, menos segura.

No entanto, Murara argumenta que o fato de dar mais segurança e diminuir o volume de toques no rosto durante o exercício pode fazer com que esses itens auxiliem os atletas. “As máscaras esportivas podem superar as comuns em conforto e adaptação ao rosto. Haveria ganho de proteção contra o vírus e, ainda assim, facilitaria o treino, diminuindo o deslocamento da máscara pela face”.

O que diz a lei no Paraná

No Paraná, por exemplo, desde 28 de abril, é obrigatório o uso de máscaras em espaços públicos, conforme a lei estadual 20.189/20. Em seu artigo 1º, o texto da lei “obriga, no Estado do Paraná, o uso de máscara por todas as pessoas que estiverem fora de sua residência, enquanto perdurar a pandemia”.

A legislação estabelece a obrigatoriedade para espaços “abertos ao público ou de uso coletivo”, caso de vias públicas, parques e praças, terminais de ônibus, estabelecimentos comerciais e outros locais em que possa haver aglomeração de pessoas.

“Independentemente de recomendações controversas, deve ser observado o que estado e município regulamentam. No Paraná, a lei determina obrigatoriedade do uso em espaços abertos ao público ou de uso coletivo. Treinar sem máscara é passível de multa”, ressalta Murara.