Jonathan Campos – Juliana Fontes entrevista o ex-goleiro Marcos

Juliana Fontes vive seu primeiro ano no jornalismo diário. Para os desavisados, é mais uma “foca”.

Mas não é verdade. Juliana viveu uma epopeia até chegar à Redação da Tribuna do Paraná. 

Na luta diária pela informação precisa, Juliana já provou que não é inexperiente como uma “foca” — termo usado para rotular os jornalistas iniciantes. 

Com criatividade para reportagens inéditas, a jornalista mostrou qualidade única e ganhou seu legítimo espaço na série Craques da Imprensa, do blog Entrelinhas do Jogo, do Bem Paraná. 

Entrelinhas do Jogo — Como virou jornalista esportiva? Era sonho de infância ou acabou decidindo depois?
Juliana Fontes —
Desde criança frequento estádios de futebol. Herdei esse amor pelo esporte do meu pai. Eu costumava acompanhá-lo nos jogos e também no final dos domingos, assistir aos programas no estilo “mesa redonda”, mesmo pequena. Meu pai tinha uma loja de materiais de construção e lembro que em cima do balcão sempre tinha uma Tribuna. Ele fazia questão de comprar o jornal diariamente. Quando tinha uns 11 anos decidi que seria jornalista para trabalhar com futebol. Lembro que alguns dias antes de prestar o vestibular, um amigo do meu pai me perguntou se eu seria jornalista para aparecer na TV e eu falei que não, que meu sonho seria escrever em um jornal. E hoje estou realizando este sonho, escrevendo na Tribuna do Paraná, mas até chegar até aqui muita coisa aconteceu. Muita mesmo, e se fosse contar renderia um livro. 

Entrelinhas —  E como começou essa aventura?
Ju Fontes —
Chegar até a faculdade de Jornalismo não foi assim tão simples. Quando consegui, fazia dois cursos ao mesmo tempo: Letras Português/Espanhol à noite e Jornalismo pela manhã e ainda fazia estágio na parte da tarde. Eu tinha bolsa de estudos e prezava muito tirar boas notas, então vivia cansada, dormia até na biblioteca da PUCPR. Tive meu primeiro contato no esporte quando depois de um curso de jornalismo esportivo o narrador Nelinton Rosenau achou que eu me destaquei e me chamou para estagiar na extinta Rádio Clube AM. Eu ainda estava no primeiro ano do curso, então não tinha muita ideia do que estava fazendo, mas lá já conheci grandes nomes do esporte, alguns que tenho contato até hoje como o Jairo Silva e o Jairo Júnior, da Transamérica. No meio de toda essa loucura de fazer tantas coisas descobri que estava grávida. Meu namorado, hoje meu marido – que conheci por causa do futebol -, sempre me deu todo apoio necessário e me incentivou, mas foi bem complicado terminar a faculdade, fazer o TCC com um bebê pequeno. Deixei um pouco de lado meu sonho e fui viver a vida real. Estava no último ano do curso de jornalismo quando um professor falou que via toda minha dedicação e me ofereceu um estágio em uma grande empresa, na área de comunicação corporativa. Não era a área que desejava, mas agarrei a oportunidade. Cresci nessa empresa, fiz uma Pós Graduação na área, mas sempre com o sentimento de que o esporte estava em mim. 

Entrelinhas — E nessa época você começou a trabalhar em uma TV, não foi?
Ju Fontes —
Nessa época um conhecido me convidou para ir a um programa, na TV Transamérica, pois era Dia Internacional da Mulher e eles queriam fazer um programa com mulheres comentando a rodada do Campeonato Paranaense. O apresentador era o Dorival Chrispim, hoje também da Transamérica, que diante de todas as meninas que estavam ali naquele dia me convidou a continuar indo ao programa pra comentar. Como tinha o meu trabalho e minhas rotinas, ia ao programa para fazer comentários quando podia, mas foi ali que eu reacendi minha vontade de tentar ingressar no jornalismo esportivo. Então passei a escrever em alguns sites menores sobre futebol, até que tempos depois, devido aos meus textos, o Sérgio Tavares, doGloboesporte.com, me convidou para ser blogueira no portal. Um ano depois, o Osmar Antônio me chamou para integrar um novo formato de programa de esportes que seria lançado na CNT. Me senti super insegura, pois dividiria a bancada com pessoas muito experientes, mas fui. Nunca me faltou coragem, mesmo quando “quebrei a cara”. Tomo as experiências negativas como aprendizado. Cerca de um ano e meio depois o programa mudou seu formato e deixei a TV, mas passei a escrever no site Redação em Campo. É importante ressaltar que todos esses trabalhos no esporte foram meu “plano B”, que eu executava em meio à minha rotina normal de trabalho, que realmente me remunerava, na área de Comunicação Empresarial. Por cinco anos tive minha própria agência e prestava trabalhos de Assessoria de Imprensa, Gestão de Redes Sociais e Comunicação Corporativa, mas sempre soube que, uma hora ou outra, o esporte se tornaria meu “plano A”. Também fiz alguns freelas nesse meio tempo para me manter no esporte, como cobrir os Jogos Escolares do Paraná e, pela TVCI, de Paranaguá, o Rio Branco. No final de 2017, quando soube que abriu uma vaga na equipe de esportes da Tribuna do Paraná, me empolguei com a possibilidade de trabalhar em um veículo tão tradicional do nosso Estado e tenho que agradecer ao Cristian Toledo por ter acreditado no meu potencial e te me dado essa oportunidade em meio a tantos candidatos. E agradeço à equipe de esportes que me recebeu de forma incrível e ajuda a me superar a cada dia. Ah, e meu filho agora está com 10 anos, com muita saúde, mas apesar da influência do pai e da mãe que amam assistir/jogar/viver o futebol, ele não curte em nada o esporte. Prefere Fórmula 1 e lutas (é faixa amarela em karatê). 

Entrelinhas — Mesmo há pouco tempo no jornalismo diário você já conseguiu publicar reportagens bem interessantes, como aquela com a Gretchen. Qual a sua matéria favorita?
Ju Fontes —
Apesar de ter percorrido um caminho repleto de experiências no jornalismo esportivo, este é o meu primeiro ano no jornalismo diário. O imediatismo, às vezes, é desafiador, mas tento sempre buscar ângulos diferentes que envolvam o futebol. Em meio à pressa de noticiar sobre o dia a dia dos clubes, os jogos, as contratações ou os treinos, procuro encontrar histórias que ainda não foram contadas. Claro, muitas vezes isso surge em uma conversa com a equipe, que aliás, é repleta de gente competente e comprometida com o que faz, mas algumas vezes coloco meu olhar para encontrar o “incomum”. Foram diversas matérias especiais que fiz até aqui, e tenho carinho por todas, mas esta da Gretchen foi totalmente inusitada. Foi curioso que nem mesmo os moradores de Paranaguá sabiam exatamente como a “musa do bumbum” foi parar vestindo a camisa do Leão da Estradinha. Eu conversei com muita gente mesmo até descobrir a história, mas a “saga” valeu a pena e repercutiu até fora do Paraná. (Clique aqui para ler essa reportagem, no site da Tribuna). A matéria favorita que fiz até aqui foi sobre os torcedores do Trio de Ferro com Síndrome de Down. A pauta surgiu porque estava na cobertura do jogo entre Paraná Clube e Atlético, pelo Paranaense, e vi o Danilo ali na social, perto da área da imprensa. Eu já tinha visto esse torcedor paranista outras vezes ali, ele não perde um jogo sequer, e na hora me lembrei de um vídeo com um pequeno torcedor do Atlético, o Henrique, com síndrome de Down, fã do Lucho González. Aí veio a ideia de entrevista-los. Por coincidência, faltavam duas semanas para o Dia Nacional de Conscientização sobre a Síndrome de Down. Falei com uma conhecida, torcedora do Coritiba, e logo soube da existência do Vinícius, que não perdia um jogo do Coxa e gostava de ficar no meio da torcida organizada. Marquei para conhecê-los e tive uma lição de vida. Saí da entrevista emocionada. Além da matéria especial, que foi capa do jornal, escrevi um outro texto sobre a minha experiência com eles. Recebi um carinho enorme do público, foram quase 100 mensagens de agradecimento pelo material. 

Entrelinhas — Como é o desafio de trabalhar diariamente na Tribuna do Paraná, que tem essa proposta de uma linguagem direta para um torcedor vibrante, apaixonado? 
Ju Fontes —
É um veículo muito tradicional, mas que também se modernizou. Existe essa pegada da linguagem “Tribuna de ser”, mas não abrimos mão de tentar o novo de vez em quando. É preciso sempre lembrar que temos os leitores do impresso, que aguardam diariamente a publicação nas bancas, e também, os do site, ávidos por informações rápidas. Precisamos ter um meio termo para isso, mas nunca deixando de lado o fato de todos serem nossos leitores porque são torcedores apaixonados, que sempre esperam o texto da Tribuna para afirmar – ou contestar – sua opinião. Meu vizinho mesmo, um senhor de 70 anos, me para quase todos os dias para me contar: “olha, li na Tribuna…”, ressaltando a importância do veículo na formação da opinião dos leitores. 

Entrelinhas — Todo jornalista esportivo foi torcedor. Essa ligação com um clube de futebol interfere no trabalho jornalístico? 
Ju Fontes — Gostaria que todos os torcedores entendessem que qualquer jornalista esportivo chegou até a área porque, em primeiro lugar, ama o futebol. É lógico que cada um tem um time, mas o profissionalismo faz com que todos saibam separar isso muito bem. Eu amo estar nos “bastidores” do Trio de Ferro, respeito todas as equipes. Para mim não interfere o fato de eu ter um time, principalmente porque eu prezo muito pelo meu trabalho e quero que as pessoas reconheçam minha trajetória. Nunca vou colocar em dúvida meus princípios. 

Entrelinhas — Qual o melhor momento que já viveu na carreira?
Ju Fontes — Sem dúvida o atual. Estou tendo a oportunidade de aprender muito, conhecer pessoas incríveis e entrevistar personagens que eu sempre considerei mitos do futebol paranaense. 

Entrelinhas — Qual a melhor parte de ser jornalista esportiva?
Ju Fontes — Um dia, quando era criança, falei para meu pai: nossa, a melhor profissão que existe é ser jogador de futebol. O cara está jogando bola e ainda ganha dinheiro para isso. Ele riu disso, mas concordou. Para quem ama futebol e trabalha na área, a conversa é mais ou menos a mesma. De certa forma, a gente trabalha com algo que, no fundo, também é nosso hobby. Porém é bem importante destacar que nos dois casos existe não só o bônus, como eu achava quando era pequena, mas também o ônus. 

Entrelinhas — E qual a parte mais difícil, mais complicada na profissão?
Ju Fontes — O jornalista esportivo é um profissional que está, de certa forma, em evidência. Se algum outro profissional dentro de seu contexto, comente um erro, a impressão que temos é que aquilo ficará em um ambiente restrito. Nós temos uma visibilidade que, a qualquer passo em falso, somos apontados, crucificados. A pressão pelo imediatismo, pela notícia em tempo real é enorme. É difícil precisar estar 24h ligado em tudo, correndo o risco de perder alguma novidade do mundo esportivo. Trabalhar aos finais de semana, enquanto sua família está descansando, passeando, se divertindo, também não é tarefa das mais tranquilas. Mas conseguimos sobreviver a isso! Vale a pena! 

Entrelinhas — As redes sociais provocaram mudanças no jornalismo esportivo e na sua maneira de trabalhar?
Ju Fontes — Sem dúvidas. Além de facilitar a aproximação com torcedores, simplificou o contato direto com jogadores e profissionais do meio esportivo. Antes o que exigia uma ligação ou uma entrevista presencial, pode ser resolvido em uma mensagem pelas redes sociais. Lógico, existem situações e situações. Em alguns casos nada substituirá uma conversa “olhos nos olhos”, mas para assuntos cotidianos, as redes sociais nos ajudam e muito. 

Entrelinhas — Já teve problemas com os chamados 'haters'? 
Ju Fontes — Quando escrevia no Globoesporte.com fiz uma crítica que não foi muito bem entendida por torcedores do Paraná Clube e isso me rendeu muitos xingamentos. Aceito críticas, mas alguns comentários se excederam. As pessoas não imaginam o que palavras duras podem causar. Fiquei muito mal por ler algumas coisas e na época saí das redes sociais, até porque aquele tinha sido apenas um texto entre centenas de outros que já tinha feito e não achei justa a reação. Depois de um tempo fui digerindo o episódio e consegui me tornar quase que “imune” a esse tipo de coisa. As críticas dos haters hoje não me afetam. 

Entrelinhas — Pergunta tema livre. Que pergunta faltou aqui que você gostaria de responder? 
Ju Fontes — Acho que seria relevante falar sobre o espaço da mulher no mundo do futebol. Fico muito feliz em ver tantas colegas na área. Vejo que o mercado está muito mais aberto às mulheres do que era há alguns anos, mas claro, ainda há muito que evoluir. Até um tempo atrás o papel da mulher era aquele da “bonitinha” que estava ali apenas para ler informações e hoje vejo um protagonismo. Aos poucos estamos ganhando vez e voz. 

PERGUNTAS RÁPIDAS, RESPOSTAS CURTAS
Melhor jogador do mundo na história: Pelé, mas quero fazer uma menção à Garrincha, que se não tivesse tido problemas sérios com o alcoolismo poderia ter sido o maior 
Melhor jogador do mundo na atualidade: Cristiano Ronaldo
Três melhores jogadores do futebol paranaense em toda história: Saulo, Régis (vi ambos jogarem) e Sicupira (por tudo que já pesquisei e vi em arquivos)
Três melhores jogadores em atividade em clubes paranaenses hoje: Wilson, Richard e Pablo. 
Melhor técnico do mundo na história: Guardiola, mas faço menção à Zagallo por sua história na Seleção Brasileira.
Melhor técnico do mundo na atualidade: Zidane. 
Maior time da história do futebol: Seleção Brasileira de 1958 (não vi, mas sou apaixonada pelos registros e histórias dessa seleção)
Maior time da história do futebol paranaense: Atlético de 2001. 
Melhor jogo de futebol que já assistiu: Brasil x Holanda, na Copa de 1994. Branco fez aquele gol icônico, a conhecida “bomba”, em que Romário se retorceu todo para deixar a bola passar.
Clubes do coração: Quem sabe, sabe. Quem não sabe, não saberá mais.

Ídolos fora do esporte: Não chegam a ser ídolos, mas como sou formada em Letras, amo Fernando Pessoa e Carlos Drummond de Andrade. 
Esportes que já praticou: Já treinei futsal em um clube da capital, mas desisti de seguir adiante por saber que o futebol feminino não dá muitas possibilidades às atletas. 
Hobbies: Jogar bola, viajar, ir aos parques de Curitiba com minha família.
Locais preferidos em Curitiba: Todos os parques da cidade, mas adoro conhecer lugares novos. Tento sempre desbravar Curitiba, conhecendo um cantinho novo a cada semana. Penso em fazer um blog ou perfil sobre isso, mas já existem tantos…aí desanimo

Três melhores jornalistas esportivos brasileiros: Fernanda Gentil, Clayton Conservani e Renato Peters
Três melhores jornalistas esportivos paranaenses: Cristian Toledo, Nadja Mauad e Leonardo Mendes Júnior. Destaco também todo o conhecimento histórico do Lycio Vellozo Ribas. 

Currículo: Sou formada em Letras Português/Espanhol pela PUCPR e em Jornalismo pela Universidade Positivo. Cursei três períodos de Ciências Sociais na UFPR, mas desisti do curso por achar extremamente teórico. Tenho especialização em Comunicação Empresarial e Institucional pela UTFPR. Na área de Comunicação Corporativa, trabalhei no Grupo Positivo, na Página 1 Comunicação e fui sócia-fundadora da agência Éffe2 Comunicação, onde atuei por 5 anos. Fui professora de Português e Literatura em diversas escolas públicas e particulares e, também, em um curso preparatório para o Enem. No jornalismo esportivo atuei na TV Transamérica, no portal Paranautas, no Globoesporte.com como blogueira, na TV CNT, no site redacaoemcampo, na TVCI, de Paranaguá, e agora, no jornal Tribuna do Paraná.