Arquivo pessoal/Guilherme de Paula – Guilherme de Paula

Guilherme de Paula nunca precisou da voz para se destacar no rádio ou na TV. Desde os primeiros passos na rádio Educativa, chamou a atenção pelo profundo conhecimento do futebol moderno e da história do esporte.

Quem tenta acompanhar as evoluções táticas, sabe que o jogo está cada vez mais dinâmico, mais complexo, mais difícil de decifrar. E Guilherme nunca ficou para trás nessa corrida pelo conhecimento.

Nessa entrevista para a série Craques da Imprensa, do blog Entrelinhas do Jogo, o jornalista Guilherme de Paula fala sobre sua carreira e sobre o futebol paranaense. 

Entrelinhas do Jogo — Como virou jornalista esportivo? Era sonho de infância ou acabou decidindo depois?
Guilherme de Paula
— O jornalismo esportivo foi muito mais um atalho para me deixar próximo do futebol, que sempre foi a maior paixão nesta relação. O início foi meio por acaso, em dezembro de 2000 fui acompanhar meu amigo Henry Xavier na rádio Educativa e acabei iniciando ali como rádio escuta. 

Entrelinhas — Qual o melhor momento que já viveu na carreira?
Guilherme
— A cobertura das três finais consecutivas de Copa do Brasil com os times paranaenses (2011-2013) foram muito marcantes. Em jogos assim tudo é diferente, desde a preparação até o momento da transmissão. O protagonismo não é algo comum para o nosso futebol e esse período trouxe experiências incríveis para mim. Jamais vou esquecer. Também considero momento atual da minha carreia bem especial, comentar futebol sempre foi um desejo e faço isso todos os dias e ainda posso contribuir com a produção dos programas da Transamérica e da Rede Massa. 

Entrelinhas — Suas análises táticas no rádio e no blog impressionam pela qualidade. Você fez cursos nessa área?
Guilherme
— Obrigado pelos elogios. A medida que eu buscava conhecimento sobre jogo, ficava cada vez mais claro que eu conhecia pouco. O jogo é muito complexo e me despertou a necessidade de fugir do entendimento empírico para tentar basear as análises em conceitos e nesta busca conheci a Universidade do Futebol que foi minha base e ainda é para os estudos. Lá fiz cursos de análise de desempenho e gestão técnica. Além disso, a literatura – principalmente internacional, esse mercado ainda engatinha no Brasil – também transformou minhas ideias sobre futebol. 

Entrelinhas — A parte tática mudou radicalmente nas últimas décadas e, a cada semana, surge alguma novidade. O desafio é se manter atualizado. Como você consegue sempre estar atualizado dentro desse universo? E que dicas você pode dar para quem pretende seguir esse caminho de comentarista esportivo?
Guilherme
— Hoje o acesso à informação deixou tudo mais fácil. O universo de conteúdo é vasto e é possível acompanhar visões diversas sobre o jogo. Um outro caminho obrigatório para atualização é tentar assistir o máximo de jogos e possível de estilos e culturas diferentes. Outro caminho é apreender com quem está diretamente envolvido no processo de construção das equipes, técnicos, auxiliares, analistas, jogadores… todos são ótimas fontes para entendimento do jogo e também da realidade do “vestiário”, algo que só quem participa diretamente pode te passar. O caminho que eu indico é o conhecimento, ele é muito poderoso e é o atalho para a transformação. 

Entrelinhas — Acompanho a sua carreira desde o início e nunca vi você irritado ou nervoso. E isso é raro, principalmente no rádio, que provoca debates mais intensos. Você nunca ficou irritado com ninguém? Nenhum colega de profissão, técnico, dirigente, jogador ou árbitro?
Guilherme
— O que eu tento fazer é nunca levar as discussões para o lado pessoal. Isso me ajuda a ficar mais calmo nos momentos mais intensos (nem sempre haha). Mas, mesmo assim já tive discussões feias, principalmente nos programas de debate nas rádios que trabalhei, mas tudo superado por que sempre a conversa passou pelas ideias e nunca pelo lado pessoal.  

Entrelinhas — Qual a melhor parte de ser jornalista esportivo?
Guilherme
— É trabalhar com aquilo que gosta, faz toda diferença.

Entrelinhas — E qual a parte mais difícil, mais complicada na profissão?
Guilherme
— A convivência com a intolerância. Há pouco respeito com as diferenças de pensamento. Além disso, os clubes não entendem qual é exatamente o papel da impressa e a confusão de conceitos torna a relação difícil. 

Entrelinhas — As redes sociais provocaram mudanças no jornalismo esportivo e na sua maneira de trabalhar?
Guilherme
— Transformou principalmente na aproximação com quem consome o conteúdo. O feedback é mais rápido e intenso também. As redes sociais deram a possibilidade para que a formação de opinião não fique restrita ao lado de ‘cá’. 

Entrelinhas — Já teve problemas com os chamados 'haters'? 
Guilherme
— Nada muito forte. Dentro de um limite tento responder e se vira ofensa silencio, mas é mais um elemento da profissão e das redes sociais. 

Entrelinhas — Pergunta tema livre. Que pergunta faltou aqui que você gostaria de responder?
Guilherme
— Um dos debates mais frequentes sobre o jornalismo esportivo é a linguagem e as suas mudanças ao longo do tempo. O confronto entre ‘boleirês’ x ‘tatiquês' é um falso debate. Existe exagero das duas partes e o mais importante não é o termo utilizado e sim o domínio dos conceitos para alcançar uma análise mais profunda sobre o jogo. Falar em “amplitude”, “último terço” não significa entendimento de futebol, assim como o uso da linguagem do vestiário também não garante nada. Tem espaço pra todo mundo. 

PERGUNTAS RÁPIDAS, RESPOSTAS CURTAS

Melhor jogador do mundo na história: Pelé 
Melhor jogador do mundo na atualidade: Messi 
Três melhores jogadores do futebol paranaense em toda história: Alex Mineiro, Alex e Ricardinho (que eu vi)
Três melhores jogadores em atividade em clubes paranaenses hoje: Wilson, Richard e Jonathan. 
Melhor técnico do mundo na história: Guardiola 
Melhor técnico do mundo na atualidade: Guardiola 
Maior time da história do futebol: Barcelona 2010-2011
Maior time da história do futebol paranaense: Atlético 2004 e Coritiba 2011 (que eu vi). Não são os mais importantes historicamente. 
Melhor jogo de futebol que já assistiu: Barcelona 5 x 0 Real Madrid 2010 (maior exibição de um time)

Clubes do coração: Não revelo por causa da intolerância e por não ser uma informação relevante. 
Esportes que já praticou: Muito futebol e pouco de vôlei. 
Hobbies: Ficar com meu filho e minha mulher. Ah, e ver futebol. 
Locais preferidos em Curitiba: Espetaria do Simprão e Feira livre da Alberto Bollengger. 

Três melhores jornalistas esportivos brasileiros: André Kfouri, Paulo Calçade e André Rizek. 
Três melhores jornalistas esportivos paranaenses: Marcelo Ortiz, Carneiro Neto e Leonardo Mendes Junior. 

Currículo: Nasci em São Carlos, no interior de São Paulo. Estou em Curitiba desde 1991. Estudei no Flávio Ferreira da Luz, Paula Gomes, Rio Branco e Paula Gomes de novo. Me formei em jornalismo em 2007 na Tuiuti. Desde 2000 trabalhei na Rádio Educativa, Rádio Paraná, Rádio Colombo, Rádio Independência, Rádio Banda B, Rádio 98, CNT e estou na Rede Massa desde 2014 e na Transamérica desde 2015.