Felipe Jung – João Carlos Azevedo e sua ‘agenda mágica’

João Carlos Azevedo fez história no jornalismo pré-internet. Na época, os clubes não tinham assessores de imprensa e as informações raramente chegavam aos jornais, rádios e tvs. Era preciso caçar a notícia, correndo atrás dos personagens e gastando o dedo discando o telefone por longas horas. 

Sim. Os telefones tinham discos e não teclas. 

Foi nesse mundo que João Azevedo criou sua “agenda mágica”, com telefones de fontes, empresários, personagens, jogadores, dirigentes e técnicos. Com ela, conseguiu furos jornalísticos históricos, como a chegada do técnico Telê Santana ao São Paulo.

João emprestou seu talento ao Bem Paraná – chamado de Jornal de Estado na época – nos anos 90. Em seguida, foi para a TV Globo, a RPC, onde ficou por 15 anos. Hoje é gerente de jornalismo da Band Paraná e comentarista do programa Conversa de Boteco.

Nessa entrevista da série Craques da Imprensa, do blog Entrelinhas do Jogo, João mostra sua visão sobre o jornalismo e sobre o futebol paranaense.

Entrelinhas do jogo — Como virou jornalista esportivo? Era sonho de infância ou acabou decidindo depois?
João Carlos Azevedo — Primeiro quero agradecer pelo convite para participar desta seleção de craques. Assim como qualquer menino o sonho era ser jogador de futebol, mas não deu certo. O motivo nem preciso comentar (rs). E como sempre gostei de futebol – assistia muitos jogos, lia jornais e escutava os jogos pelo rádio. O jornalismo foi a porta de entrada para estar perto do campo, perto dos craques. Já na faculdade – fiz o curso de comunicação na FMU – Faculdade Metropolitana Unidas, em São Paulo. Lá, já fui conhecendo os caminhos para chegar ao jornalismo esportivo. O caminho era competitivo, mas deu certo. E estou na área até hoje.  

Entrelinhas — Você passou a maior parte da carreira como produtor, nos bastidores. Os jornalistas te conhecem pela habilidade com sua “agenda mágica”, seus contatos e sua facilidade para construir pautas. Como explicar para o torcedor a importância do trabalho do produtor, esse cara dos bastidores do jornalismo?
João —
Quando entrei na Rádio Record, em São Paulo, em 1990, a rádio tinha um coordenador chamado Cesar Teixeira, o Cesinha, um cara que já tinha uma boa agenda. Eu fui apenas melhorando, mas a agenda mágica, aquela que você conheceu, ficou importante a partir do momento que fui para a Rádio Globo. Lá já tinha experiência, já conhecia as pessoas. Trocava muitas informações com outros jornalistas de São Paulo e de fora do Estado. E o diferencial foi acompanhar os repórteres nos treinos, nos jogos. Enquanto eles faziam as reportagens eu conversava com os jogadores, com os dirigentes, com as pessoas dos clubes. Então, as notícias chegavam com mais facilidade. O jornalismo era muito mais emocionante. Você tinha a notícia, tinha o furo de reprotagem. Não recebia tudo pronto dos assessores de imprensa como acontece hoje. 

Entrelinhas — Qual o melhor momento que já viveu na carreira?
João — O melhor momento é o presente. Mas passei por vários, como a cobertura da Copa de 1994. A cobertura dos títulos mundiais do São Paulo, em 92 e 93, por serem transmissões feitas de madrugada. Eu comandei a equipe que estava no Japão, nos dois anos. Depois vieram outras Copas. A partir de 1999 já estava na TV. Aí foram outros desafios. Fiz muitas coberturas de transmissões para a TV – futebol, futsal, vôlei, basquete, vôlei de praia. Mas teve uma que foi especial: a cobertura do Mundial de Canoagem, em Foz do Iguaçu. Um esporte diferente, com regras diferentes.  

Entrelinhas — Qual o maior furo de reportagem que você conseguiu?
João — Foram vários. mas um que vale destacar foi a chegada do técnico Telê Santana, ao São Paulo. Levantei a informação com uma fonte. E confirmada em seguida pelo presidente do clube. Demos em primeira mão na Rádio Record.

Entrelinhas — Qual a melhor parte de ser jornalista esportivo?
João — É ser jornalista esportivo. É passar informação sobre o time de coração dos nossos ouvintes, telespectadores, leitores. É ser reconhecido pelo trabalho que você faz, dentro e fora da sua emissora.

Entrelinhas — E qual a parte mais difícil, mais complicada na profissão?
João — Todos que trabalham com o jornalismo esportivo, em específico com o futebol, torcem para o um time. Só que alguns torcedores não entendem. Acham que você sempre está torcendo por este ou aquele e já querem agredir. Então, essa é a parte complicada. Por isso, não revelo meu time de coração.

Entrelinhas — As redes sociais provocaram mudanças no jornalismo esportivo e na sua maneira de trabalhar?
João — Sim. E muitas. Só dá um pouco mais de trabalho, porque você tem que checar bem as informações, porque as redes sociais aceitam tudo. Todo mundo é repórter. Todo mundo sabe tudo. Então, é preciso checar bem as informações.

Entrelinhas — Já teve problemas com os chamados 'haters'? 
João — Já. Mas é melhor não comentar muito.

Entrelinhas — Pergunta tema livre. Que pergunta faltou aqui que você gostaria de responder?
João — Só gostaria de lembrar e agradecer de algumas pessoas que me ajudaram nessa carreira. A começar pelos meus pais, por acreditarem na escolha da minha profissão. Sem eles não seria possível. Depois agradecer aos profissionais com quem tive o prazer de trabalhar nessa caminhada, que já dura mais de 20 anos: Ari Pereira Jr (este foi o louco que me deu a primeira oportunidade), Osmar Santos, Oscar Ulisses, Suel Neves De Daca (esse era fera nos bastidores, aprendi muito com ele), Jorge De Souza, Osvaldo Pascoal, Henrique Guilherme e Márcio Bernardes (meu professor na Faculdade e na Rádio Globo). Gil Rocha e Paulo Rosa, pela parceria na RPC. Sidnei Campos, que que foi me buscar em São Paulo. Os parceiros do Jornal do Estado/Bem Paraná: Lycio Vellozo Ribas, Silvio Rauth Filho, José Marcos e Flavio Costa. E por último: Amado Osman, meu atual diretor na Band Paraná. Profissionais de alta qualidade.   

PERGUNTAS RÁPIDAS, RESPOSTAS CURTAS
Melhor jogador do mundo na história:
Pelé
Melhor jogador do mundo na atualidade: Cristiano Ronaldo
Três melhores jogadores do futebol paranaense em toda história: Sicupira, Ricardinho, Dagoberto
Três melhores jogadores em atividade em clubes paranaenses hoje: Wilson (Coritiba), Pablo (Atlético) e Dagoberto (Londrina)
Melhor técnico do mundo na história: Telê Santana
Melhor técnico do mundo na atualidade: Guardiola
Maior time da história do futebol: Real Madrid
Maior time da história do futebol paranaense: Paraná Clube tetra de 1996
Melhor jogo de futebol que já assistiu: Palmeiras 4×4 São Paulo. Oito gols, pênalti perdido e gol de empate no último minuto. O último lance do jogo era um pênalti para o São Paulo, que vencia por 4×3. O Careca acerrou o travesão e, no contra-ataque, o Palmeiras empatou. 

Clubes do coração: melhor não declarar
Ídolos fora do esporte: meus pais, meus irmãos e meus amigos
Esportes que já praticou: futebol, basquete, judô
Hobbies: assistir futebol e séries, e jogar futebol
Locais preferidos em Curitiba: estádios, parques e alguns botecos
Três melhores jornalistas esportivos brasileiros: Tino Marcos, Márcio Bernardes e José Calil
Três melhores jornalistas esportivos paranaenses: Jairo Silva, Gil Rocha e Paulo Rosa

Currículo: 
– João Carlos Gonçalves de Azevedo, 50 anos. Casado. Pai da Anna Laura.  
– Estudou em São Paulo. Nos Colégios Santa Gema e São Bento. Fiz duas Faculdades – Jornalismo e Direito, ambos os cursos na FMU. Trabalhei nas Rádios Record e Globo, em São Paulo. Em Curitiba trabalhei nas Rádios Clube e CBN. Passei pelo Jornal do Estado. E trabalhei na RPC TV, durante 15 anos. Hoje estou na BAND PARANÁ. Sou Gerente de Jornalismo e também comentarista no programa CONVERSA DE BOTECO. Recebi por duas vezes o Prêmio de Melhor Produtor Esportivo em São Paulo. Aqui em Curitiba também recebi esse prêmio. Mas o melhor prêmio dessa profissão é ter a oportunidade de conhecer os profissionais da área (jogadores, dirigentes, narradores, repórteres e amigos da área)