Há alguns dias, promovemos, uma colega e eu, uma dinâmica com a equipe de limpeza de um órgão público. A intenção era melhorar o clima de trabalho e o coleguismo, já que o ambiente estava afetado por fofocas e intolerâncias. Pedimos que as senhoras listassem, primeiramente, os defeitos de todas as colegas, e, logo em seguida, os pontos positivos de cada pessoa. É claro que todas ficaram curiosas para ver o que havia na lista negativa – e quem havia escrito, embora houvesse o pedido de anonimato. Mas nós decidimos não mostrar a lista de defeitos, e sim destruí-la. Ao final, compartilhamos a lista das qualidades de cada uma, mostrando que, para o grupo, todas elas têm valor – mesmo as que não se gostam reconhecem qualidades nas colegas.

A surpresa negativa foi a constatação de que uma pessoa do grupo não listou as qualidades de duas colegas. Descobri, sem querer, quem foi a pessoa. Ela me abordou separadamente e disse que não conseguia ver nada de positivo nas pessoas que ela não gosta. Tentei explicar que não se tratava de passar a admirar a pessoa, mas sim de reconhecer nela algo de bom – afinal, acredito que todos temos algo de bom, por pouco que seja. Mas ela foi irredutível.

Poucos dias depois, em uma celebração religiosa, me deparo com o Evangelho de Mateus, capítulo 5, versículo 44: Amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos maltratam e perseguem. E a provocação vai além: Se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis? (Versículo 46). No sermão, o padre ainda alertou várias e várias vezes sobre o quanto é importante reconhecer o valor daqueles a quem tendemos a desprezar. Inevitável, naquela hora, pensar coisas como: Fulano deveria ouvir isso, o Evangelho de hoje é muito próprio pro Beltrano… Mas, depois de algum tempo, pensei: Ops, e eu, como tenho amado?

Muito mais difícil olhar pra dentro do que apontar o dedo para os outros. Reconhecer qualidades – ou, mais do que isso, AMAR! – as pessoas que consideramos mais desprezíveis é um grande exercício. Para tentarmos começar, podemos pensar no princípio da reciprocidade: Como gostaríamos que o outro nos visse? Estou colaborando para construir esta imagem?Que qualidades eu gostaria que reconhecessem em mim, mesmo meu inimigo?

Adriane Werner. Jornalista, especialista em Planejamento e Qualidade em Comunicação e Mestre em Administração. Ministra treinamentos em comunicação com temas ligados a Oratória, Media Training (Relacionamento com a Imprensa) e Etiqueta Corporativa.