Era assim que João Saldanha lamentava o que não podia controlar. A expressão é título da biografia de João Sem Medo, o jornalista-técnico da Seleção que encarou a Ditadura e montou o time tricampeão no México com Zagallo – cada qual com seus méritos. A vida segue e o futebol retornou ontem, na final da Copa do Brasil. Futebol é um esporte marcado por histórias de superação, de dedicação, de abnegação. A Chapecoense vai ter que viver todas essas histórias agora. Mas me importam mais as famílias. Jogadores jovens, jornalistas, profissionais de suporte, pessoas que morreram no exercício da profissão sem deixar para seus entes uma segurança material consolidada. A dor é inevitável, o conforto que eles davam e a ausência virão agora. Pouco importa em qual divisão, a Chape vai seguir existindo. A luta agora é pelo suporte à instituição para que ela possa pagar as indenizações devidas a todas as famílias. Ajudar não é dar esmola. A Chape tem tocado a todos num pedido de união, que não pode ficar na teoria. Reestruturar o futebol brasileiro é necessário, é preciso pensar em melhora definitiva, não paliativos. O discurso tem que ser esse, o resto é subterfúgio.

Libertadores
Serão oito os brasileiros nela em 2017. O Atlético pode ser um deles. Depende só de si: vencer em casa o Flamengo na última rodada é fundamental. Houve uma grande desmobilização, sincera, em todo o país por conta do acidente. Mas a vida volta, quem já perdeu alguém querido sabe como é. Ficam as memórias e o Furacão tem que escrever a dele. O Flamengo, não se enganem, chegará interessado em defender o vice-campeonato. O Santos enfrenta o América-MG em casa e provavelmente ficará com a segunda posição – e principalmente o prêmio – se o Mengo perder na Arena. Então aos atleticanos só resta vencer e carimbar pela quinta vez o passaporte para a Libertadores. O antes e o depois podem ser discutidos depois. Domingo é decisão.

Sul-Americana
Vaga na Sul-Americana. Um rabicho de chance para o Coritiba, que já se desmobilizou para 2016. É compreensível. Matematicamente a vaga é possível, tem que vencer a Ponte em Campinas e torcer por derrota do Cruzeiro para o Corinthians em Minas (prazer em dobro para o coxa-branca, já que o mesmo resultado pode até tirar o Atlético da Libertadores). A vaga que se abriu não estava na conta pois ninguém esperava o desfecho da decisão entre Chapecoense e Atlético Nacional como foi. E, cá entre nós, os colombianos eram favoritos em campo. Como o jogo nunca aconteceu, ficaremos com o resultado dos nossos corações: dois campeões, os póstumos e os de alma, pela nobreza e reverência que o Nacional teve com a Chape. A boa notícia de final de ano é a permanência de Carpegiani, que ameaçou ir e acabou ficando. Uma ótima: 2017 já começa com sequência de trabalho, um ponto positivo sem dúvida alguma.

Efabulativo
Era assim que o gigante Carneiro Neto costumava encerrar suas colunas antes. Copio o mestre para falar de Caio Jr. Antes de se dedicar ao cargo de técnico, Caio foi comentarista da Rádio Banda B. Calouro no meio, acabou sendo vítima dos amigos de microfone: ao chegar para trabalhar foi levado com urgência para um estúdio, onde teria que gravar um comercial de um cliente que exigiu você e está pagando bem!. Lá foi Caio e sua simpatia para o microfone. Leu e releu o texto, não entendeu, mas, novato, não iria questionar a ordem de um patrocinador. Gravou a opinião e encerrou com a assinatura:
– Oferecimento da Funerária Agrícola: há 50 anos plantando o homem na terra!

Napoleão de Almeida é narrador esportivo e jornalista especializado em gestão