Vicente vai fazer três anos daqui pouco menos de um mês.

TRÊS anos.

Eu estou tão nostálgica e nem sei porquê. Achei o primeiro ano horrível (me julguem) e tudo está tão gostoso agora.

Mas a cada dia ele se distancia do meu bebê. As palavras vão ficando claras, as conversas mais interessantes e a imunidade está mais fortalecida, o que significa menos viroses e todos os tipos de “ites”. Tudo isso é muito bom, a maternidade agora me sorri e eu me sinto confiante e bem no papel de mãe.

Mas há perdas.
Cadê aquele corpinho cheio de dobras? Cadê aquela exclusividade do posto de pessoa mais interessante do mundo (que era meu, obviamente)? Cadê o meu bebezinho?

Hoje, quando tenho "ataques de esmagamento", uma vontade de morder cada parte dele, sou questionada: “Mamãe, por que você me beija tanto?”.

Quando estou com sorte, escuto: “Pode me esmagar, mas só um pouquinho, mamãe”.

Há medo também.
Será que vou conseguir amar o Vicente de quatro, cinco, doze, vinte anos com o mesmo encantamento que amo hoje, nos quase três?

Eu sei que sim. Minha mãe me ama com paixão e eu tenho quase 35. Mas dá um medinho, como se algo fosse ficar perdido.

O distanciamento cronológico me faz esquecer das mazelas do começo e deixa tudo mais bonito. Parece que nunca houve uma dúvida constante martelando na minha cabeça. Quase não lembro das noites que passei embalando o meu bebezão de quase cinco quilos (e foram muitas, muitas noites). Preciso me esforçar para ter uma leve lembrança da angústia que me consumia por não saber o que fazer com o recém-nascido mais chorão do sul do mundo.

Só lembro com muita clareza da alegria do primeiro sorriso, da primeira gargalhada e de acordar e ver um dentinho apontando na boca banguela mais linda que já vi.

Acho que é nessa fase que a mente nos sabota e a gente pensa em ter o segundo (terceiro, quarto…) filho, né?

Aqui não, gavião.

Vou seguir firme e forte no meu propósito de fazer do Vicente um filho único (eu acho, para desespero do companheiro), ainda que morra de saudade do bebê que vai dando lugar a um piá esperto, carinhoso e divertido.