Franklin de Freitas – Deputada propõe que radares móveis sejam substituídos por agentes

A deputada federal Christiane Yared (PR-PR), ativista de combate à violência no trânsito, afirmou nesta quinta-feira (15) que vai propor ao presidente Jair Bolsonaro (PSL) que substitua os chamados “radares móveis” por complemento no efetivo de agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF). O presidente determinou a suspensão do uso de radares de fiscalização de velocidade móveis em rodovias federais, as “BRs”. A ordem foi publicada nesta quinta-feira no Diário Oficial da União e foi dada ao Ministério da Justiça, responsável pela PRF.

“Estamos levando ao presidente uma outra sugestão. Já que ele insiste em retirar os radares ‘móveis’, queremos mais fiscalização nas estradas, que esses radares possam ser substituídos por mais policiais rodoviários federais. Queremos aumento no efetivo”, sugere Yared.

Mãe de Gilmar Rafael Yared, morto em um acidente de trânsito causado pelo ex-deputado Luiz Fernando Ribas Carli Filho em 2009, a deputada disse que não chegou a fazer oposição à medida específica de remoção de radares móveis porque a população é contra o uso do equipamento. “Queria ser relatora do projeto do presidente, mas não consegui. Agora vamos trabalhar. Já tenho 27 emendas para colocar nesse projeto que ele colocou”, pondera. “A população não quer esse radar. As pessoas acham que são arapucas, que não ajudam, os fixos também, que sai de uma fiscalização de 110 km/h para 80 km/h e não tem sinalização suficiente”, aponta.

Ela lembra que o fim dos radares móveis estava entre as promessas de campanha de Bolsonaro.

“Essa era uma promessa de campanha dele e ele cumpriu. Agora nós vamos atrás para ajustar a proposta”.

Mesmo considerando essa opinião pública, Yared afirma que o “cidadão de bem” não anda acima do limite de velocidade. “As pessoas de bem cumprem com seu papel e dirigem dentro da velocidade permitida”, afirma.

A deputada contesta a tese levantada por Bolsonaro de que a medida combate uma “indústria da multa”, como disse ontem o presidente, nas rodovias. “O problema é o radar colocado como arapuca. Nas rodovias não há uma indústria da multa, não existe isso na rodovia. Os radares servem para que a gente consiga segurar os infratores contumazes. Em feriados prolongados, a PRF tem flagrado uma quantidade gigantesca de motoristas que insistem em estar acima do limite de velocidade”, diz Yared.

A proposta principal para tentar reduzir as infrações e acidentes é, segundo a deputada, aumentar o efetivo da PRF. “As rodovias abrangem uma área muito grande que precisa de fiscalização. O mundo inteiro assiste à tragédia do trânsito como fatalidade. Podemos fiscalizar e punir e mudar a realidade”, diz.

“Ninguém quer falar do trânsito. É um assunto indigesto, mas temos que falar, ninguém gosta de multa e ninguém gosta de matar. E as pessoas também morrem”, aponta. Yared complementa dizendo que vai tentar munir o presidente de informações para que medidas para redução de acidentes sejam tomadas. “Vou participar de um encontro com ele, estou indo receber um prêmio e estarei com ele conversando e temos medidas que podem substituir. Um problema é que a PRF já tinha adquirido todo esse equipamento e temos que conversar com o governo para saber o que fazer com isso”, afirma.

Para a deputada, o decreto ainda pode ser alterado por lei ou pelo próprio presidente. “Esse decreto pode ser revogado. Não é para sempre. Eu acho que o presidente ainda pode ter uma luz e que ele precisa de uma assessoria atenta a essas questão”, deduz.

Nessa quarta-feira, Bolsonaro também criticou o impasse judicial sobre uma decisão dele que suspendeu em abril a contratação de novo radares fixos em rodovias federais. No mês seguinte, uma ação popular conseguiu na Justiça uma liminar que proibiu o governo de seguir adiante com a medida. No final de julho, o Ministério da Infraestrutura fez um acordo para instalar 1.140 aparelhos para monitorar 2.278 faixas. “Estamos com o problema na Justiça agora. Vão tirar R$ 1 bilhão para instalar 8 mil pardais. Com o bilhão, o Tarcísio [de Freitas, ministro da Infraestrutura] asfalta 300 km de rodovia”, afirmou o presidente, se referindo ao plano inicial de instalação de radares fixos, que iriam fiscalizar 8 mil novas faixas em até 5 anos.

Na segunda-feira, Bolsonaro havia afirmado que pretendia acabar com os radares móveis no país já na semana que vem. Na ocasião, ele disse que se tratava de uma decisão dele próprio e que era “só determinar à PRF [Polícia Rodoviária Federal] que não use mais”. O presidente, no entanto, afirmou que poderia voltar atrás se alguém “provar que esse trabalho é bom”.