PMC – O centro de produção de orgânicos da Prefeitura fica no bairro Cajuru: engajamento

A expansão das hortas urbanas pelos quatro cantos de Curitiba mostrou à cidade que havia ‘terreno fértil’ para um projeto ainda mais ousado. A Fazenda Urbana, no Cajuru, que será uma grande centro de cultivo, plantio, experimentos e conhecimento já saiu do papel. “É um catalisador de práticas de segurança alimentar, que é transversal”, destaca o secretário municipal de Segurança Alimentar, Luiz Gusi.

Com a primeiro plantio em julho e a primeira colheita já feita em setembro, a previsão é de que a estrutura que ocupa uma área de 4,6 mil metros quadrados fique totalmente pronta em fevereiro de 2020. O centro de produção de orgânicos da prefeitura, que deve gerar soluções para o plantio urbano, está em fase de licitações, mas já instalado na Rua Prefeito Mauricio Fruet, na região do cruzamento com Rua Capitão João Busse, ao lado do Mercado Regional Cajuru e próximo ao Terminal do Capão da Imbuia.

“Já estamos com 30 hortas comunitárias espalhadas pela cidade. A Fazenda Urbana surge da necessidade de soluções sobre o plantio, a compostagem, a horta vertical, sobre como posso trabalhar todo o conceito da horta urbana, da agricultura em si, incluindo as escolas e todos que demandam por conhecimento”, explica Eliseu Alves Maciel, gerente da Unidade de Agricultura Urbana de Curitiba.

A proposta de fomentar a agricultura urbana integra o conceito de “cidade inteligente”, adotado como padrão por Curitiba nos últimos anos. Conforme a plataforma, uma cidade inteligente prioriza a qualidade de vida de seus moradores, se preocupa com a sustentabilidade e em resgatar a boa alimentação para a população.

Dentro dessa proposta, segundo a prefeitura, a Fazenda Urbana é solução para demandas que surgiram após a ampliação das hortas urbanas e demanda de diversos segmentos da sociedade. Será o primeiro centro de disseminação de agricultura urbana do Brasil.

O espaço no bairro cajuru terá a missão de promover a difusão de práticas e técnicas de agricultura urbana e organização comunitária, a fim de contribuir para a educação social, alimentar e ambiental da população.

“Quando a gente fala de agricultura urbana, é sobre ocupar vazios na cidade, onde as pessoas terão melhora na saúde, na alimentação saudável, além da educação para a saúde, do desenvolvimento de conhecimento, de preparar o consumidor do futuro e também incentivar as pessoas a voltarem a plantar. Há uma preocupação não só em Curitiba, mas em Santa Catarina e outros locais, porque as pessoas não estão plantando. Isso é qualidade de vida que tem que ser retomada”, aponta Maciel.

Diversas entidades já estão engajadas no projeto. “As escolas terão visitas aqui (na Fazenda Urbana), como já temos nas hortas urbanas. A ideia é que elas venham onde terão um conceito maior, inclusive na Cozinha Escola, onde vão poder preparar os alimentos com os chefs e nutricionistas”, explica.

A iniciativa é pública, porém o projeto prevê parcerias institucionais e empresariais. “Em princípio, sim (é uma iniciativa pública), mas vamos trabalhar com parcerias na execução, com a Eletrolux, por exemplo, que já manifestou interesse, assim como produtores de sementes e outros. Vamos abrir editais de parcerias, porque a prefeitura não precisa trabalhar sozinha. Já temos parceiros como Embrapa, Emater, Secretaria do Meio Ambiente, universidades, inclusive da rede particular, que vão ter espaço para trabalhar aqui”, conta.

Os editais devem ser finalizados já em outubro deste ano. “Vai ficar pronto para fevereiro de 2020, com estufa, poço, sistema de irrigação, e tudo está em fase de licitação. Estamos em fase de adição de terra que vamos fazer na área que será da parte de cultura, mas vai haver a Telhado Verde, estufa, compostagem, cultivo protegido, os canteiros estruturais, muita coisa mesmo. As culturas que vão compor os estrados estão em fase de licitação que deve terminar já neste mês”, aponta.

“Retorno para questão educacional e social é imensurável”

O custo da estrutura é de R$ 1,8 milhão, segundo o secretário Luiz Gusi. “Tem retorno mensurável e retorno que a gente não mensura, sobre despertar todos os aspectos que a Fazenda pode trazer na questão educacional, social, todos os ativos ambientais, toda a informação desse ecossistema. A gente já tem uma equipe para trabalhar e essa equipe vai ficar sediada ali (na Fazenda). Como tem crescido muito a demanda, a gente tinha que deslocar equipe para olhar a área, orientar. Agora, com a Fazenda a gente consegue otimizar o nosso trabalho. A gente consegue ter uma excelente relação custo beneficio, sem agregar custo na manutenção. Geralmente o investimento é menor que o custeio, mas é diferente do que é na Fazenda”, calcula.

O secretário reforça que com os parceiros privados o projeto se torna autossuficiente. “Estive em um evento em Porto Alegre na última semana, de tendências da alimentação. Conhecemos uma empresa de sementes que quer ver seu nome em uma inciativa como essa da Fazenda. Eles tem a linha de horticultura caseira e industrial. Com os editais a gente vai ter vários parceiros, que além de otimizar vão utilizar o espaço e usar o espaço para trabalhar esse conceito, incluindo os chefs de cozinha e outros”, adianta Gusi.

As escolas integram a primeira etapa de resultados da Fazenda Urbana. “O primeiro público é a escola. Se a gente tem que mudar o padrão alimentar, sabemos que é bem mais difícil com o público de 50 anos. A garotada é mais fácil de conscientizar. E outro aspecto é trazer empresas que querem sua marca ligada à cozinha, aos padrões de sustentabilidade. Estamos montando um hub de processos de parceria e esse é o objetivo do prefeito”, lembra.

O incentivo à segurança alimentar deve ser a primeira meta alcançada. “As pessoas perderam a conexão com o processo de produção de alimento. A criança acha que um bezerro é um cachorro. A gente ri, mas essa ligação está desfeita. Como retomar a saúde alimentar se não se sabe o processo do alimento?”, questiona.

A Fazenda Urbana é também um grande laboratório para toda a cidade, segundo o secretário. “Foi aprovada a Lei Municipal de Agricultura. Estamos em um processo de regulamentação da lei e muito do que estamos tirando da discussão com a comunidade. Por exemplo, as hortas em calçadas. Em frente à Fazenda tem calçada e vamos trabalhar o conceito lá. A gente começa de dentro pra fora trabalhando práticas. É um trabalho de resgate, de regeneração do verde da cidade, dos biomas. Por isso o papel da abelha. Aí entram as frutíferas nativas, as bromélias, e vai trabalhando ações incrementais que vão surgir da própria comunidade, das universidade, dos chefs e aproveitando a própria estrutura urbana”, planeja.

Além das ações escolares, outro passo é incrementar serviços sociais e de urbanização da cidade. “Ao mesmo tempo em que tem fome, tem desperdício de alimentos. Vamos trabalhar isso. Em outro campo, uma associação de condomínios nos procurou perguntando sobre hortas em terraços. Então, a gente vai gerando ações incrementais que surgem durante o processo e isso não tem limite”, pontua Gusi.