Em sua conversa com a imprensa após ser inocentada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a senadora Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, espera que sua absolvição sirva de base para outros julgamentos que levam em consideração depoimentos de delatores. Para a senadora, a Operação Lava Jato criou uma “indústria de delações”, mas que a partir de agora perde força com o posicionamento do STF.

“Parece óbvio, mas o que o Supremo disse foi que não pode haver condenação sem provas”, disse. “Foi um duro recado às indústrias das delações. As delações são importantes em um processo investigativo, inclusive, elas foram levadas a cabo por um projeto de lei do governo da presidenta Dilma. Eu era ministra da Casa Civil, e tratava das organizações criminosas. As delações são importantes para que se possa levantar indícios de situações que serão investigadas. Agora, jamais, jamais poderão substituir provas”, declarou.

Gleisi disse que ainda pensa em uma maneira de pedir reparação pelos danos pessoais e políticos provocados pelo processo que durou quatro anos. “Tenho que pensar porque qualquer ação contra o Estado recai sobre o povo brasileiro”, disse.

A senadora optou neste ano por não concorrer à reeleição em outubro. Segundo ela, um dos motivos que a levou a tomar a decisão foi justamente o desgaste público causado pela ação. “Não só disso, mas também levo em consideração. Eu tive durante quatro anos uma ação cotidiana de desconstrução da imagem, por agentes do Estado, que me acusavam, da Polícia Federal, do Ministério Público. As informações vazavam, viravam matérias. As matérias viravam verdade, já condenação”, conclui.

“Os opositores utilizavam disso largamente para me atacar. Muito difícil porque eu não tinha o mesmo espaço para me defender. Por exemplo, sai uma matéria em jornal de TV, de horário nobre, como a Globo que tem grande audiência, a matéria de seis minutos de acusações, e no final, um parágrafo de uma nota de defesa”, critica.

Segundo Gleisi, seu marido, ex-ministro Paulo Bernardo não deve voltar à vida pública. “Paulo já se aposentou, era funcionário de carreira do Banco do Brasil, não vai retornar à vida pública”, disse.

Outras ações

Gleisi ainda é alvo de duas ações. Uma denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal (MPF) ao Supremo Tribunal Federal (STF) e uma investigação na Polícia Federal (PF).

O inquérito policial que apura um suposto esquema de corrupção no Ministério do Planejamento teve origem nas investigações da Operação Lava-Jato. O inquérito da PF é investiga se a empresa Consist repassou R$ 1 milhão a Gleisi e Paulo Bernardo para conseguir contratos com o Ministério do Planejamento . O dinheiro teria sido repassado pelo escritório de advocacia de Guilherme Gonçalves. Ainda não ocorreu denúncia relativa a esses fatos.

Em outra investigação, já com denúncia do MPF na Lava Jato, envolve também o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os ex-ministros Antônio Palocci e Paulo Bernardo e o empresário Marcelo Odebrecht pelos crimes de corrupção (passiva e ativa) e lavagem de dinheiro. A ação é sobre uma doação de campanha “quando a Construtora Odebrecht prometeu ao então presidente Lula a doação de US$ 40 milhões em troca de decisões políticas que beneficiassem o grupo econômico”, diz a o MPF. Gleis é arrolada por ter supostamente se beneficiado com dinheiro na campanha ao governo do Paraná, em 2014. Gleisi afirma que as acusações “são falsas”, pois tentam “ligar decisões de 2010 a uma campanha eleitoral dela que ocorreu em 2014”. Ela nega todas as acusações.