Franklin de Freitas – Greca: “Tivemos pouco fechamento”

O prefeito e candidato à reeleição, Rafael Greca (DEM) admite que não esperava enfrentar, à essa altura da longa carreira política, uma pandemia nas dimensões da provocada pelo Covid-19, mas garante que, mesmo hoje, ao avaliar as medidas tomadas por sua gestão, “não faria nada diferente”. Aos críticos, Greca responde afirmando que o comércio ficou aberto “o máximo possível”, e que sua administração conseguiu evitar um colapso do sistema de saúde, mesmo sem recorrer à hospitais de campanha.

Em entrevista ao Bem Paraná, o prefeito também rebate os questionamentos feitos em relação ao regime emergencial adotado pela prefeitura para a manutenção do transporte coletivo durante a pandemia, e aposta na intensificação das obras públicas, a partir de 2021, para impulsionar a recuperação econômica da cidade. Greca também confirma que o apoio do PSD à sua candidatura deve levá-lo a apoiar a reeleição do governador Ratinho Júnior em 2022.

Bem Paraná – O senhor esperava enfrentar um evento histórico como uma pandemia? Qual foi o momento mais difícil?

Rafael Greca – Nós nunca esperávamos um evento da magnitude da pandemia do Covid-19. Ela veio sem manual, e aconteceu de repente, e nos pegou no momento de maior prosperidade que era o momento da colheita dessa gestão da recuperação de Curitiba. Eu estava nas ruas da Cidadania com um grupo de 25 atores fazendo a celebração do aniversário da cidade, reunindo as crianças, as escolas e o auto de fundação da cidade estava bombando nas ruas da Cidadania. Quando de repente, foi um dia de tarde. Eu fui com Margarita na festa da rua da Cidadania do Cajuru, a festa estava linda, veio o telefone que nós tínhamos que fechar a cidade que os casos de coronavírus estavam começando a crescer, que já vinham acontecendo em Curitiba e que logo começaria a transmissão comunitária. Houve um pânico em um determinado momento. As universidades quiseram reagir ao Bolsonaro, que no dia 15 de março mandou todo mundo para a rua, e fecharam rapidamente. E com isso as escolas particulares também quiseram fechar e eu me obriguei a fechar as escolas públicas. O comitê de ética médica dizia que ainda era muito cedo. Mas mesmo assim, eu dentro da ideia de que o verdadeiro líder vai atrás de seu povo, concordei em fazer o fechamento. Procuramos manter o comércio aberto e o equilíbrio entre a economia e a saúde pública. E conseguimos fazer isso por 180 dias. Até que a luz vermelha acendeu na região metropolitana. E eu me tornei solidário aos municípios vizinhos e ao governador Ratinho Júnior e aderi à ideia da bandeira laranja, ou à ideia de fechar mais severamente a cidade. Nós aguentamos os primeiros quinze dias, depois replicamos isso por mais quinze dias. Mas nós tivemos pouco fechamento em proporção ao tamanho e à magnitude do processo. E ficamos muito felizes de não ter havido colapso. Nós conseguimos fazer três hospitais em menos de um mês. Reabrimos o Instituto de Medicina do Paraná, o hospital que a Santa Casa de Misericórdia está operando, usamos o Hospital Vitória da empresa Amil, ficou exclusivo para Covid. E conseguimos abrir a Casa de Saúde Irmã Dulce, no Tatuquara. Transformamos a Maternidade do Bairro Novo em 45 leitos clínicos de Covid. E não houve colapso. Nunca faltou nem um leito. Os nossos doentes e mesmo os nossos mortos, tiveram todo o atendimento. Hoje estamos com quase 45 mil recuperados de Covid e com 2.700 casos ativos. Está caindo a cada dia e o número de mortes e internações está diminuindo, o que me leva a crer no grande acerto da nossa equipe de saúde. Agora já estamos retomando as cirurgias eletivas porque já está diminuindo a necessidade de congelamento de vagas.

BP – Os críticos da sua gestão afirmam que a prefeitura fechou a cidade cedo demais e depois reabriu em julho, no auge do número de casos. Como o senhor vê essa questão principalmente em relação ao pequeno comércio?

Greca – Os inimigos não mandam flores. Você não queria que eles falassem bem de mim. O comércio ficou aberto o máximo que foi possível. Uma época a Associação Comercial fechou por conta própria. Nós não mandamos fechar. E eles sabem disso. Nós só fomos mais incisivos na bandeira laranja, quando houve possibilidade de falta de leitos de UTI na Grande Curitiba. Mas a cidade ficou sempre com o número de UTIs, sempre perto de 75%, 85% de ocupação. Nunca tivemos ameaça de colapso.

BP – Analisando hoje, o senhor faria algo diferente?

Greca – Eles precisam de um enredo. Eles têm uma campanha de oposição para levar para frente. Eles não têm o que mostrar. O colapso da saúde não aconteceu. Nem uma assistência faltou para ninguém. E sobremaneira eles têm que exercer o desaforo que a falta de argumentos diante da miséria de suas propostas para o futuro de Curitiba. Não faria (nada diferente). Eu iria abraçado ao paraíso com a doutora Marion Burger, doutor Alcides Branco, a doutora Márcia Huçulak, e o meu médico Clóvis Arns da Cunha que me curou. Para desespero da oposição. 


ECONOMIA

‘Hienas queriam que parássemos as obras’ 

Bem Paraná – Há também críticas em relação ao fato da prefeitura só ter proposto uma linha de crédito para ajudar micro e pequenas empresas em agosto, quando a situação já era grave.

Rafael Greca – O fundo de aval está funcionando bem. Nós colocamos R$ 10 milhões à disposição do Sebrae, através da sociedade garantidora de crédito. Isso dá R$ 100 milhões de crédito. Havendo necessidade de mais recursos, nós colocaremos no ano que vai nascer. Nesse momento ainda não se usou todo o potencial que está a oferta dos MEIs (Microeempreendedores Individuais), dos microempresários nos espaços do empreendedor, nas dez ruas da Cidadania e no site do Sebrae Tec. Nenhuma cidade do Brasil fez isso para sua população. Essa é uma função do BNEDES, do governo federal. O nosso trabalho, porque nós estamos com dinheiro no fundo de emergência de Curitiba, nós temos R$ 600 milhões, ainda não usamos esses recursos. O nosso trabalho é fazer a cidade maior do que as dificuldades. E também não paramos as obras. Nós temos perto de 15 mil empregos diretos com as obras. Essas “cassandras” e “hienas” da pandemia queriam que a gente paralisasse as obras. As obras não pararam, o transporte não parou, a cidade funcionou perfeitamente bem.

BP – Em 2021, ainda estaremos sob a pandemia, na expectativa da pós-pandemia. Quais os planos do senhor nesse cenário para a recuperação da economia da cidade, levando em conta a queda nas receitas e o fim do auxílio emergencial do governo federal?

Greca – O nosso plano de sintonia com os micro e pequenos empresários. Queremos multiplicar o programa “Emprego TEC”, de treinamento dos jovens para o empreendedorismo. Queremos multiplicar a atuação da Agência Curitiba de Inovação. Estaremos sintonizados com as nossas startups, com os nossos três “worktibas” públicos. E o quarto, o que há na internet, porque nós temos uma plataforma de orientação para MEIs através da Agência Curitiba Inovação. Nós vamos trabalhar fortemente para intensificar as obras públicas. O programa do Interbairros 2, em 28 bairros da cidade com financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento, somado ao programa do Bairro Novo da Caximba, financiado pela Agência Francesa de Desenvolvimento deve gerar 85 mil novos empregos. Que vão se somar aos 15 mil que já temos, e ao grande dinamismo cultural, econômico, turístico que nós queremos dar para a cidade. Aos poucos nós vamos retomando a economia. Há ainda uma vedação para o setor de eventos para eventos com mais de 50 pessoas. Mas eu vou conversar com o governador Ratinho Júnior para remover essa imposição para que os eventos possam ter uma nova dimensão. Eu sinceramente, não vejo diferença de um salão como o do Castelo do Batel reunir 100 pessoas na mesma forma que reúne o Madalosso na hora do almoço.

BP – Na área da saúde existe uma preocupação em relação às pessoas que deixaram de buscar tratamento médico durante a pandemia. Como a prefeitura está se preparando para enfrentar essa pressão sobre o sistema?

Greca – Antes do coronavírus nós tivemos o governo do Gustavo Fruet (PDT). E isso tinha represado todo o serviço de saúde. Daí nos atacamos com grandes mutirões de exames médicos de ortopedia, dermatologia, especialidades médicas como ginecologia, angiologia e a gente está preparando mutirões para resolver esse problema. Agora vai tudo funcionar normalmente. Por óbvio, durante a pandemia o povo não foi ao médico e fez muito bem em não ir. Inclusive os médicos pediam para a gente não ir. Agora tudo isso vai ser retomado e queira Deus que logo venha a vacina e a vida normal logo aconteça. Os postos de saúde estão todos abertos, com exceção de sete que estão em reforma para fazer o fluxo em “Y”. Você tem que entrar por um lugar, vai para uma triagem, se é problema respiratório vai para outra direção para não amontoar as pessoas e não multiplicar o Covid. 


ELEIÇÕES 2022

‘Minha aliança sinaliza apoio à reeleição do Ratinho Jr’ 

Bem Paraná – O TCE divulgou na semana passada resultado de auditoria que aponta que as empresas de ônibus não cumpriram as contrapartidas previstas no Regime Emergencial de Operação e Custeio do Transporte Coletivo para garantir um limite de lotação dos veículos e outras medidas de distanciamento social. O que o senhor tem a dizer sobre isso?

Rafael Greca – Eu não estou informado, e não vou falar sobre o que eu desconheço. Mas a minha procuradoria vai apresentar as razões. Nós vamos contrapor o contraditório. Eu não temo a gestão da Urbs, o dr Ogeny Pedro Maia Neto é um dos técnicos mais corretos do Brasil e a gestão de Curitiba, do transporte é uma das melhores que existe. Nós somos a única cidade a praticar os 50% de lotação dos coletivos. Coisa que inclusive, a região metropolitana não faz.

BP – Os seus adversários também têm questionado o subsídio repassado às empresas de ônibus durante a pandemia. Como o senhor responde à essas críticas?

Greca – A Justiça Eleitoral colocou uma mordaça nos candidatos que mentiam, que faziam “fake News”. Mostrou que não há essa transferência de recursos para os empresários. Eles tiveram que calar a boca, engoliram o discurso. Na verdade o transporte custava R$ 78 milhões por mês antes da pandemia. Havia um equilíbrio de contrato. Passou a custar R$ 38 milhões por mês, em média, no meio da pandemia. Hoje o custo para a prefeitura é de R$ 18 milhões por mês, porque o resto do custo é absorvido pelo sistema. E o transporte está sendo feito de maneira a contento. A grande cidade não ficou sem transporte. É imbecil o argumento de que tinha que desligar o transporte. Nem Milão, no dia que teve 1 mil mortos, desligou seu metrô. Nem Nova York. Enfermeiros, serventes, pessoas de lavanderia, intensivistas, técnicos de enfermagem, técnicos de apoio, todo mundo precisa ir e vir para que o sistema de saúde funcione. É tudo muito transparente, está no site do Covid-19 da prefeitura. Não há nada a esconder, e as empresas e os empresários, neste período, não tem lucro. A turma do discurso de politizar o transporte coletivo está ficando cada dia mais desautorizada e cada vez mais desmoralizada e sem fala.

BP – No início do atual mandato, o senhor fez um ajuste fiscal que provocou muita polêmica. Diante do cenário econômico ainda sob os efeitos da pandemia, inclusive sobre a arrecadação, será necessário um novo ajuste?

Greca – Tudo mostra que não. A revista Valor Econômico desta semana comparou o oito primeiro meses de 2016 com os oito primeiros meses de 2020 e disse que a cidade de Curitiba aumentou em 280% o seu crescimento de investimentos em obras e serviços públicos. Curitiba é a capital brasileira que teve o maior crescimento graças ao fundo de estabilização fiscal que no momento tem R$ 600 milhões em caixa. O ajuste fiscal me permitiu salvar o sistema público de previdência de Curitiba, o serviço público, pagar os salários em dia, não despedir ninguém e pagar adiantado o décimo-terceiro. Em nenhuma outra cidade do Brasil metade do décimo-terceiro já está pago. Em Curitiba foi pago na Páscoa. E ainda demos dois aumentos. O discurso sindical está cada vez mais ralo. Eles têm cada vez menos gente e menos assunto.

BP – O setor cultural, de eventos, bares, casas noturnas foi um dos mais afetados pela pandemia, porque teve que efetivamente ficar fechado. Existe algum plano para ajudar esse setor?

Greca – Eles já estão todos funcionando. E não foi uma decisão minha. A valer que ontem em Paris fecharam tudo de noite. A cidade Luz foi dormir. Não sei se tem lá uma Abrabar para gritar contra o presidente da República. Fecharam por disposição sanitária. Em Madrid, que é uma cidade viva de noite, Barcelona, isso também aconteceu. E os pubs de Londres também fecharam. Isso é um processo sanitário e se nós pudermos ajudar, vamos ajudar. Nós procuramos ajudar o setor cultural com editais de saúde inclusive gravando clipes com bandas e artistas para que eles recebessem recursos durante o período mais difícil da pandemia. E os R$ 3 milhões dos editais da Fundação Cultural chegaram nos produtores culturais. Agora, se Deus quiser, havendo a vacina a vida vai reflorescer e eu tenho disposição de deixar ocupar as calçadas, as ruas. E quero também, se puder um dia, dar uma festa do abraço. Todo mundo sair na rua se abraçar.

BP – Em 2002 o senhor tentou a indicação na época do PFL (hoje Democratas) para disputar o governo do Estado, mas isso não acontece. Caso reeleito prefeito de Curitiba, o senhor se torna um nome natural ao governo. O senhor tem ainda o sonho de se candidatar ao cargo?

Greca – Não tenho essa tentação. A minha aliança com o governador Ratinho Júnior sinaliza que vou apoiá-lo para a reeleição. Eu não gosto de cuidar das penitenciárias, da polícia. Eu gosto de cuidar da cidade, a minha praia é a cidade, o meu partido é Curitiba. E o meu coração está em Curitiba. Não que eu não goste do Paraná. Mas em um horizonte mais distante, se eu ainda tiver saúde, pode ser.

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