Chico Camargo/CMC

A prefeitura de Curitiba encaminhou à Câmara Municipal de Vereadores projeto que pode abrir caminho para a extinção da função de cobradores no transporte coletivo da Capital, e a implantação da cobrança por bilhetagem eletrônica em todo o sistema. A proposta altera a lei municipal 10.133/2001, no seu artigo 2º, que atualmente exige cobradores nas estações-tubo, terminais de transporte e no interior dos ônibus que circulam em Curitiba.

Essa norma regulamenta a bilhetagem eletrônica na cidade, que já substituiu a cobrança em dinheiro nas linhas que operam com microônibus. O projeto da prefeitura altera o texto antigo, estabelecendo que: “fica autorizada a implementação exclusiva do Sistema de Bilhetagem Eletrônica do Município por meio da utilização dos cartões transporte nos pontos de acesso aos serviços de transporte coletivo de Curitiba”. Na justificativa, o prefeito Rafael Greca (PMN) alega que a alteração é para “trazer maior agilidade ao transporte público”.

“O transporte coletivo é alvo de constantes assaltos, em que pese todos os esforços empregados pela administração municipal para coibir essa prática”, argumenta a prefeitura. “Os dados demonstram que os cobradores são alvo de roubos e violência, bem como o patrimônio público acaba sendo objeto de vandalismo e depredações”, afirma o Executivo.

Na justificativa da proposição é dito que “o pagamento de passagens com cartão eletrônico reduziu o número de assaltos em mais de 90%, além de ser importante pontuar que tal fato acaba por gerar mais segurança para os usuários e para os motoristas dos coletivos”.

Sobre os cobradores, o Executivo diz que a situação deles foi discutida com as concessionárias e que eles terão “a oportunidade de requalificação mediante cursos de formação de motoristas, bem como podendo os mesmos ser realocados para serviços de natureza administração e operacional dentro das concessionárias”.

O texto referencia ainda a convenção coletiva entre os sindicatos patronal e dos colaboradores, que considera “a modernização do sistema de transporte urbano de passageiros de Curitiba” e a “nova realidade tecnológica” implicando a “redução da atividade do empregado cobrador” como justificativas para o “aproveitamento, sempre que possível, da mão de obra dos cobradores em outras atividades existentes nas empresas empregadoras”. 

Reação – Em nota divulgada hoje, Sindimoc, criticou a proposta da prefeitura. A entidade disse considerar a medida "totalmente absurda e descabida, irresponsável, com grave impacto social, considerando ambiente de desemprego que vivemos no Brasil", alegando que se implantada, ela poderia deixar mais de 6 mil trabalhadores desempregados, com impacto de R$ 212 milhões ao ano na renda das famílias que seriam potencialmente atingidas. "Levantamento do Dieese mostra que a medida retiraria R$ 17 milhões mensais das mãos 6.000 famílias e direcionaria para 8 famílias, que controlam o transporte público em Curitiba.  No ano, são R$ 212 milhões. Esse recurso deixa de ser injetado na economia da cidade", alega o sindicato. 

Ainda segundo o Sindimoc, levantamento feito pela entidade em em 43 cidades do Brasil (capitais e grandes centros urbanos) mostraria que "em todas as cidades em que o cobrador foi retirado, a passagem não caiu de preço". De acordo com o sindicato, em todas elas o preço caiu um pouco no primeiro momento,  para ter aprovação popular, "depois subiu ainda mais do que antes da retirada dos cobradores".

"Em Joinville, primeira cidade do Brasil a extinguir o cobrador, passagem atual é a mais cara do país", afirma a nota. 

O sindicato não descarta promover uma greve caso a medida seja aprovada.