“É preciso ter resiliência, paciência, compreensão, e o mais importante é ser exemplo, principalmente sobre aquilo que você gostaria que fosse seu ponto forte em todos que você lidera”

 

Desde a primeira vez que assumi uma equipe, que fui chamada de “chefe” e tive funcionários hierarquicamente abaixo de mim – mesmo que ainda poucos, apenas 3 pessoas – comecei a me perguntar: e agora? Como ter respeito? Como fazer com que façam aquilo que eu solicito? Como impor meu ritmo de trabalho? Como entregar resultados não dependendo mais somente das minhas atitudes e minhas ações?  Estes eram os meus maiores questionamentos, meus grandes receios com 24 anos de idade.

 

Em um primeiro momento, me posicionava de tal forma a parecer que era “chefe”. Eu acreditava que os liderados teriam respeito por mim se eu me parecesse com aqueles executivos que víamos nas grandes empresas com cara de mau, braços cruzados, postura ereta, olhar superior, como nas imagens que eu mesma presenciei quando entrei no mercado de trabalho, com 17 anos, ainda estagiária.

 

Posteriormente, comecei a procurar cursos, congressos, palestras, workshops, livros, especializações, literaturas que me ensinassem como fazer gestão de pessoas com técnicas, metodologias, mas na verdade o que mais buscava era a “receita do bolo”, um passo a passo, literalmente um manual sobre como liderar.

 

Todos os estudos me levaram a entender os conceitos teóricos de liderança e todas as vezes que apliquei na prática tive acertos bastante comemorados. Mas também cometi inúmeros erros que geraram enormes aprendizados.

 

O que mais aprendi é que tudo depende.

 

Depende da situação a ser tratada, do trabalho a ser executado, do envolvimento de mais pessoas, depende da cultura da empresa em que está inserido, ou se é seu próprio negócio, dos gestores anteriores e seus traumas deixados ou até mesmo uma ausência de chefe anteriormente. E o mais importante: depende da própria pessoa a ser liderada.

 

É importantíssimo levar em consideração o funcionário, seu histórico dentro e fora da empresa. Sim! Sua vida pessoal importa e muito, seu histórico, sua família, seus valores, seus aprendizados desde criança, sua personalidade, seu jeito de ser, absolutamente tudo influenciará no ambiente de trabalho.

 

Somos um único ser humano, extremamente difícil nos dividir em profissional, pessoal, pai, mãe, filho, amigo, deixando da porta para fora da empresa aquilo que acontece em casa. É praticamente impossível nossa mente parar de funcionar a partir de uma porta, não pensar no problema da família a partir de um relógio ponto.

 

Considerar todos esses fatores vai evitar conflitos em dias extremamente ruins, vai fazer você deixar de criar expectativas na produtividade naquele dia ou naquela semana, vai deixar o funcionário mais próximo de você a ponto dele mesmo te entregar mais para compensar a sua compreensão.

 

É claro que conhecer todos os seus funcionários, entender um pouco sobre cada um, saber o que importa para eles, exige uma certa percepção, um pouco de curiosidade e principalmente muito tempo para que você consiga aprender a se moldar a cada um, conduzir de uma maneira personalizada.

 

Quando se faz gestão de pessoas de maneira rígida, inflexível, quando se trata todos os colaboradores da mesma forma, os resultados colhidos serão diferentes, porque cada um absorverá a mesma informação de formas diferentes, e lhes entregarão produtos diferentes, como um telefone sem fio. O que se orienta e fala no início da brincadeira, chega completamente distorcido no final, pois cada um deu atenção a palavras que lhe fizeram mais sentido e traduziram, interpretaram por outras que lhes foram convenientes.

 

É preciso ter resiliência, paciência, compreensão, e o mais importante é ser exemplo, principalmente sobre aquilo que você gostaria que fosse seu ponto forte em todos que você lidera.

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Sabe aquela frase corporativa de que a equipe é a cara do chefe? É verdade. Concentre seus esforços em dar exemplos naquilo que você quer que sua equipe repita, pelo que você entrega e pelo que você faz.

 

Liderança pelo exemplo faz com que as pessoas trabalhem por você e não para você, faz com que as pessoas queiram ser você quando crescer, faz com que te admirem.

 

Minha maior satisfação profissional é quando, mesmo depois de bastante tempo não sendo mais chefe de alguém, ainda recebo mensagens como: “com você aprendi muito”, “levo pra vida”, “cresci profissionalmente com seu exemplo”, “você foi a melhor chefe que eu tive” ou “estou me vendo em você agindo desta forma e sendo reconhecido”. Nestes momentos, eu tenho a certeza de que estou no caminho certo e que não passei em vão pela vida das pessoas. Deixei minha marca, minha cara, meu exemplo.

 

Hoje, continuo aprendendo a lidar com gente.

 

Continuo errando e mudando a forma de gerir pessoas todos os dias.

 

A receita do bolo ainda não existe.

 

É preciso gostar de pessoas, de desafios, de se reinventar diariamente por todos aqueles que estão com você.

 

* Djeyse Toyama é formada em administração e gestão de negócios, especializada em qualidade e administração estratégica. Atua em cargos de liderança desde 2008, chegando a ter mais de quatro mil colaboradores em sua gestão. Hoje é gestora de hotelaria na área da saúde em hospital de grande porte em Curitiba. Djeyse é rotariana associada ao Rotary Club de Curitiba Norte Inspiração.