A ideia de Alethéa Vollmer surgiu como um projeto piloto em meio à pandemia, em 2020, reunindo quatro mulheres de diferentes perfis e localidades. Os depoimentos são inspiradores. 

De acordo com dados mais recentes divulgados pelo Ministério da Saúde, cerca de 30% dos brasileiros buscaram ajuda profissional por questões relacionadas à saúde mental entre agosto e outubro do ano passado. Aproximadamente 34,2% dos casos não procuraram auxílio, mas gostariam de tê-lo. Outros números indicam que 260 milhões de pessoas sofrem de ansiedade e 12 milhões têm depressão. “É uma realidade que precisa ser revertida, porque o tema saúde emocional não é tão comum de ser abordado entre as pessoas como qualquer outro problema. Habitualmente, falamos em dores de cabeça, nas costas, em patologias sérias, inclusive, mas não assumimos, por exemplo, distúrbios como ansiedade, que tem necessidade de tratamento tanto quanto outros. Ansiedade se tornou um mero adjetivo na sociedade”, comenta Alethéa Vollmer, psicóloga que atua há mais de 20 anos com atendimento clínico.

Ela explica que a pandemia vem sendo um importante “despertador” para os cuidados com a saúde mental. “E foi vivenciando todas as dificuldades geradas principalmente pelo distanciamento interpessoal, os medos, as angústias e muitas outras sensações, que senti a necessidade de criar algo para acolhimento, que pudesse auxiliar as pessoas através de rodas de conversa online”, revela Alethéa.

A partir daí, ela criou o “entre, nós…”, um novo formato interativo e integrado de terapia 100% virtual que torna possível o acesso aos cuidados com a saúde emocional através de bate papo em grupos com no máximo seis participantes. “O projeto piloto nasceu com o propósito de estimular as pessoas a compartilharem suas experiências, angústias, desafios e interagirem umas com as outras, acolherem e se sentirem acolhidas, ensinarem e perceberem que também aprenderam. E o resultado vem sendo incrível com o primeiro grupo, formado por quatro mulheres de diferentes perfis e localidades do Brasil”, revela a psicóloga.

Para Maria Cristina, de 38 anos, que atua com atendimento ao cliente e cursa pós-graduação em marketing e gestão, conectar as pessoas com o propósito de se apoiarem tem sido uma troca muito rica de conhecimento, de experiências, de dores e de alegrias. “Estava enfrentando algumas questões emocionais que me levaram a pensar que deveria renovar meu círculo de contatos, porque comecei a me sentir muito acuada, rodeada do mesmo negativismo, dos mesmos problemas, em um momento em que eu buscava acolhimento. Estava me isolando cada vez mais. E estar nos encontros virtuais com o grupo, hoje, é um dos maiores prazeres que tenho na semana, tem me agregado muito sobre assuntos diversos”, complementa.

Já a participante Marcia Salgado, de 44 anos, conta que as rodas de conversa online têm a ajudado a enxergar situações do passado com outro olhar e, com isso, redesenhar o presente e as perspectivas para o futuro. “Sinto como se tivesse nas mãos uma caixa preta da minha própria vida. Já havia frequentado o consultório para terapia, mas nunca feito online e com mais gente na sala. Tem sido uma experiência muito confortável”, ressalta ela, que é profissional da Arte do Corpo e Educadora Social.

Também do primeiro grupo “entre, nós…”, a fotógrafa Camila Gomes, de 30 anos, ressalta que fez terapia por sete anos, mas estava sem as consultas no ano passado. “Em meio à pandemia, me vi sozinha e o encontro virtual foi um refúgio que me proporcionou acolhimento. Me identifiquei muito com as pessoas, desde o início, e ao longo das rodas de conversa, conforme fomos criando confiança e intimidade entre nós, fomos compartilhando cada vez mais nossas experiências. Temos aprendido muito umas com as outras e, emocionalmente, tem sido essencial. Serviu para tapar aquele buraquinho que a terapia tinha deixado na minha vida, porque o autoconhecimento é imprescindível, ainda mais no mundo em que vivemos hoje”, expressa. 

A psicóloga Alethéa explica que o nome entre, nós… foi especialmente pensado com diversos significados, assim como a terapia deve ser para as pessoas. “Queria algo acolhedor e que remetesse à continuidade. Então, ‘entre’ representa as boas-vindas (do verbo entrar) e ao intermediário (entre nós, em meio a nós). A palavra “nós” refere-se ao coletivo e aos “nós” que são desfeitos durante os encontros virtuais. A vírgula entre as palavras é para que ambas possam ter a escolha de significar de forma independente e na construção da frase. E a reticência completa o nome dando o sentido da continuidade”, complementa.

Para participar das rodas de conversa online do entre, nós…, Alethéa recebe as inscrições, analisa os perfis e monta grupos que tenham similaridades, objetivos comuns. Os valores dos encontros virtuais também são mais acessíveis, com o objetivo de quebrar o tabu de que cuidar da saúde mental é inatingível, especialmente num momento em que se faz mais necessário do que nunca, para todas as idades.

Mais informações pelas redes sociais Instagram e Facebook @psialevollmer.