Quando eu fiz 5 anos levantei para avisar que queria Quick de morango no café na cama, e meus pais nem me deram parabéns na cozinha, atarefados com a bandeja, pãozinho, iogurte, às vezes um brigadeiro, só ralharam que voltasse direto pra de onde vim que aniversariante tinha que esperar lá quietinho. Ganhei uma boneca.

Passou um tempo.

Hoje acordei com duas outras cabeças no meu travesseiro, 5h30. Acho que nem dormi mais, ouvindo de um lado um ronronar, do outro o narizinho chiando. Fiquei lá, esperando, só que começou a dar aquela hipoglicemia. Tinha que avisar o Gerson que já estava acordada, caso ele lembrasse da tradição da minha família, acho que sim né. 6 anos de casados. Acordei a Catarina, disse vai e fala pro papai que a mamãe já acordou, ela não quis.

O Ivan, nada.

Resolvi ir bem rapidinho, pego uma bolacha e volto, ele nem vai notar. Estava lavando a louça, ficou feliz, disse volte pra cama!, só vou enxaguar. Falei que não aguentava, deixa eu pegar o pote de biscoito, quem gostou foi a Catarina.

Essa idade não cabe no meu corpo, não combina. Quero continuar brincando no chão, tem até por aí aquela velha boneca, o Ivan chama de nenê mamãe. Mas seria bom não ser a responsável por arrumar tudo depois.

Minha mãe aqui do lado lembra que ficava chateada na fase em que a comemoração era em bar e ela não era convidada. Mas era assim o comportamento do grupo, ninguém chamava os pais. Eu nem desconfiava que ela queria ir junto, só reclamava quando eu queria sair. Imagina se a Catarina quiser sair.

Se eu quero ir junto onde meus filhos forem? Por enquanto é obrigatório, mas dizem que dentro de alguns anos os convites chegam com as palavras “só para crianças”, coisa e tal. Que medo.

Mas, se me deixarem em casa em alguma comemoração, posso tentar uma crônica.