Maringas Maciel/Divulgação

Levar a filha ao cinema é a chance de abraçá-la, imóvel, por uma hora e meia. Durante os momentos em que a tela envia dúvidas ao coraçãozinho, tenho a chance de falar-lhe ao ouvido, trazendo ordem àquele caos momentâneo. Nesse momento sou a Mãe.

Bom se tudo fosse momentâneo assim. E não é?

Tem ainda a melhor parte: cheirar o cabelinho. Não sei como, sempre tem um perfume,  mesmo sem lavar. É coisa de mãe.

Acho que subi de nível. Nos primeiros anos, recusei o mundo cor de rosa imposto às famílias recentes. Não vi todo esse colorido e ousei falar isso, merecendo a alcunha de “mãe megera”.

Ainda naquele clima, fiz a primeira tentativa de levar ao teatro. Não deu certo. O problema com as famílias, ou pelo menos com a minha, é a ansiedade que os próprios pais passam aos filhos. 

Isso vale para tudo: o momento do desfralde, se vai chorar em público, se está comendo o suficiente. A questão é que, quando você aprende e se sente pronto para lidar com tudo isso, a fase já mudou e as questões são outras.

Pois bem, naquela primeira vez nossa permanência no teatro durou 30 segundos. Ela ficou nervosa, pediu para sair, não suportou a ideia de uma mulher interpretar uma galinha e dirigir-se à plateia. Pensando nisso hoje, vejo que o primeiro encontro com as artes cênicas, esse momento único e ao vivo, é mesmo forte.

Mas vencemos o espetáculo inteiro em outras ocasiões! Importante comemorar cada vitória.

Dessa vez também foi especial: um filme-concerto de Charles Chaplin, ou seja, a exibição da película restaurada, com trilha sonora ao vivo, com apoio do Instituto de Apoio à Orquestra Sinfônica do Paraná. Quer mais?

“Tempos Modernos” traz questões complexas para um ser de 5 anos. E foi comovente ouvir suas inquietações, tais como: “Mamãe, por que tudo é só em três cores? Ele foi preso de verdade? Bateram nele de verdade? Pra onde ele foi? Ela morreu?”

Apenas no final descobri que lhe faltava uma chave para entrar no clima. “É um palhaço, meu amor.” 

Descobri que também é papel de mãe entregar chaves, sempre que possível.