Como começa dizendo o ator de “Fedra – O Fantástico Mundo de Hipólito”, não há lugar para a tragédia hoje. Será que todos estão anestesiados, e uma história de suicídio a mais vai, no máximo, erguer sobrancelhas?

O mito de Fedra, matéria-prima de Eurípedes e Sêneca, na antiguidade, de Racine, no classicismo e, no fim do século 20, de Sarah Kane, é deglutido na montagem dirigida por Eduardo Ramos e Setra Cia, seguindo moldes contemporâneos. Estão lá as projeções, a dança e o canto, performance, Wikipedia, balão, luzes de balada, muitas coisas.

A participação do performer Maikon K (um dos artistas que sofreu durante a onda de ataques em 2017) e dos bailarinos Cintia Napoli, Airton Rodrigues e Malki Pinsag, além da atriz Rubia Romani traz um atrito de linguagens.

São estímulos para nos acordar da anestesia, e talvez o que sobre seja um apelo do humano contra o trágico. Estamos condenados a uma história previamente determinada? Ou determinamos nossos “stories”? Mas e se ninguém curtir?

O mito não precisar se “explicado” hoje, o que é deixado claro pela companhia Setra desde o início, e ninguém se importa em conhecer ou não as origens disso ou daquilo. São stories a mais, ou a menos. Mas o vídeo neon, a presença no momento do agito, esses são garantidos.

A pesquisadora Linda Hutcheon, em seu livro “Uma teoria da adaptação”, é ótima fonte para entender um pouco do estado de amor e ódio que sentimos pelos “clássicos”, e sobre como eles são constantemente retomados hoje, mas como que presas de cães raivosos que os chacoalham para todo lado até que possamos sossegar em relação a eles.

Rejeição, repetição com mudança e revitalização fazem parte de adaptações como essa que segue em cartaz no Teuni até 9 de abril.


SERVIÇO

FEDRA EM: O FANTÁSTICO MUNDO DE HIPÓLITO

TEUNI – Teatro Experimental da Universidade federal do Paraná

(Rua XV de Novembro, 1299 – Centro, Curitiba – PR)

Telefone: (41) 3360-5066/ 99863596

9 a 14 de abril: terça a sábado às 20h e domingo às 19h. Ingressos: R$20 (inteira) e R$10 (meia).