A racionalidade concede ao homem a capacidade de pensar, mas também amar. (Imagem: Pixabay)

A linguagem teológica é um meio ao qual é possível expressar a revelação salvífica de Deus, que ocorre entre o Transcendente e um receptor. Na Sagrada Escritura, a comunicação feita pela linguagem escrita, foi produzida por um transmissor – Deus – e por um receptor – autores dos livros sagrados –.

É uma comunicação perfeita que se perpetua pelos séculos, mas que encontra entraves no quesito de interpretação fidedigna à mensagem transmitida. Essa transmissão se dá pelo uso da Razão – inteligência – que é a característica dos seres racionais – humanos –.

Sabe-se que a racionalidade concede ao homem a capacidade de entender, de pensar, de tomar decisões, e os sentimentos e as emoções são percepções diretas dos estados corporais, ou seja, aquela pessoa que nega o próprio sentimento e vive “apenas pela racionalidade” é incapaz de manter um equilíbrio interno, tornando-se doente e impossibilitada do auto reconhecimento e do reconhecimento do próximo.

A ausência de sentimentos e emoções pode destruir a racionalidade, pois ambas se auxiliam, sendo possível até mesmo compreender que a racionalidade é o equilíbrio da emoção e vise versa. Por um tempo, compreendia-se a razão e a emoção como áreas divididas no ser humano, pelo fato de que existem estudos específicos sobre cada uma, entretanto, são inseparáveis.

O ser humano precisa, através das relações interpessoais e da educação, lidar com os sentimentos tanto quando lida e forma sua racionalidade. É necessário também no fazer teológico e na comunicação teológica se atentar para o uso da racionalidade, mas também, da sensibilidade: do amor, dos sentimentos.

A comunicação teológica, pela linguagem, é um processo continuo em que a pessoa humana se torna humana, sendo um fenômeno, e é o local em que todos reconhecem a transcendência. Para comunicar-se de forma clara e objetiva, e também, de uma maneira em que todos possam compreender, é necessário o uso também da emoção.

Não basta apenas usar a razão, os meios teóricos e estruturais para explicar Deus, e não usar o sentimento, que é o meio para se chegar a Deus. É pelo amor – sentimento – que chegaremos a essência divina, e poderemos comunicar a essência divina.

Como exemplo, vemos a Carta Encíclica Fratelli Tutti, Papa Francisco recorda o fazer teológico de São Francisco de Assis, quando diz: “No contexto de então, era um pedido extraordinário. É impressionante que, há oitocentos anos, Francisco recomende evitar toda a forma de agressão ou contenda e também viver uma submissão humilde e fraterna mesmo com quem não partilhasse a sua fé. Não fazia guerra dialética impondo doutrinas, mas comunicava o amor de Deus, compreendera que ‘Deus é amor, e quem permanece no amor, permanece em Deus’ (1Jo 4, 1). (…) só o homem que aceita aproximar-se das outras pessoas com o seu próprio movimento, não para retê-las no que é seu, mas para ajudá-las a serem mais elas mesmas, é que se torna realmente pai.”

* Gustavo Alberto Pavan é acadêmico de Teologia no Studium Theologicum Claretiano de Curitiba e Bacharel em Filosofia pela Faculdade São Basílio Magno (FASBAM).