O cristianismo interpreta todo ataque à dignidade do homem como uma agressão ao próprio Deus (Imagem: Pixabay)

Jesus Cristo, em sua pregação, destaca a natureza comunitária de sua mensagem, isto é, a anunciação “a todas as gentes”. O que significa esse desejo de reunir o “povo de Deus”? Jesus veio ao mundo para nos fazer “partícipes da natureza divina” (2 Pe 1,4), ou seja, para que participemos de sua própria vida. É a vida trinitária do Pai, do Filho e do Espírito Santo, a vida eterna.

Sua missão é manifestar o imenso amor do Pai, uma vez que quer que sejamos seus filhos. Nesse sentido, a anunciação de sua mensagem a todas as gentes reflete a natureza comunitária de sua mensagem. Ou seja, a missão do anúncio de sua Boa Nova tem uma dimensão universal: é destinado a todas as pessoas, culturas, raças e nações.

Lei maior: amor ao próximo

Desde suas primeiras pregações, Jesus acentua o aspecto comunitário da sua forma de propor a vivência da religião, sendo que o conteúdo fundamental desta missão é a oferta de uma vida plena para todos, baseado em seu “Mandamento Novo”, que é  “Amar ao próximo como a si mesmo”.

A contribuição do cristianismo em prol da justiça social e garantia da dignidade humana se dá no reconhecimento da paternidade de Deus na criação do homem e também por apontar a existência de dignidade em cada ser humano feito “à sua imagem e semelhança”. Tal igualdade é essencial e aponta para a projeção do Evangelho sobre nossas vidas, por meio da vivência do Mandamento Novo trazido por Jesus Cristo, figura central do cristianismo, que é a vivência do Amor recíproco e da fraternidade entre os homens.

Assim sendo, sua doutrina implica na caridade (a fonte disso consta no Evangelho), mas também exige justiça. Por esse motivo, o cristianismo interpreta todo ataque à dignidade do homem como uma agressão ao próprio Deus, de quem é imagem, propondo não uma igualdade de palavras, mas de ações em prol de uma vida digna para todos, tanto de maneira individual quanto social, uma vez que todos os homens devem desfrutar desta dignidade fundamental e colaborar com ela coletivamente.

A justiça do Reino

No mundo atual, a globalização e a era tecnológica foram profundamente influenciados pelo mercantilismo, pela exploração do povos indígenas e dos negros, por exemplo, e também por ditames de um modelo econômico excludente onde, em sua maioria, as nações adotam o sistema capitalista. Isso gerou consequentemente certa desigualdade social, ou seja, enquanto há pessoas que por meio do dinheiro possuem todos os bens materiais que desejam, outras não tem o que comer.

Ao compreender que o destino do Povo de Deus não é diferente do destino da humanidade como um todo, o Cristianismo se apresenta como mediador com a missão de ajudar os seres humanos compreendendo também sua realidade social e sua natureza. Dessa forma, a justiça é uma premissa para que se instaure o Reino de Deus (que alguns teólogos como José Maria Castillo afirmam que ao mesmo tempo em que ele já teria sido instaurado, ainda não estaria totalmente e verdadeiramente presente por causa da falta de justiça que o mundo ainda carece – entendimento expressado na Igreja pela famosa frase “ya peró todavia no”  [já, mas ainda não, em tradução livre], uma vez que a verdadeira justiça pensada por Deus seria aquela que engloba todo ser humano, especialmente as minorias).

Portanto, o cristianismo é uma religião que aponta para a urgência de se fazer presente a justiça na sociedade, um tema bastante polêmico. Ao falar de justiça, o próprio Cristo explana que é necessário que a dignidade de cada pessoa seja valorizada e respeitada. Este é o sentido essencial da dignidade e da construção da justiça para o cristianismo. Quisera não parecer ainda tão distante de sua concretude! Reflitamos! 

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Ana Beatriz Dias Pinto, é comentarista convidada do blog e nos traz reflexões sobre temas atuais e contextualizados sob a ótica do universo religioso, de maneira gratuíta e sem vínculo empregatício, oportunizando seu saber e experiência no tema de Teologia e Sociedade para alargar nossa compreensão do Sagrado e suas interseções.