O ser humano e a busca pela Verdade: o que isso tem a ver com os dias atuais? (Imagem: Pixabay)

A linguagem é um dos grandes feitos da humanidade, a capacidade de se comunicar verbalmente, de “pensar o pensamento” e, a partir disso, elaborar discursos, foi um dos grandes diferenciais na evolução.

Nesse cenário, a busca pela “Verdade” sempre fez parte do pensamento e das produções filosóficas ao longo de toda a história. Desde os gregos antigos, esse tem sido um tema recorrentemente pensado e discutido.

Já desde os sofistas, questiona-se o paradigma da “Verdade”, sendo justamente essa uma das grandes críticas aos mesmos. Foi a partir dos sofistas que acontece o questionamento de uma única verdade, permitindo a possibilidade de um paradigma de verdade diferente e, como consequência direta disso, uma nova forma de utilizar a linguagem.

E o que isso tem a ver com os dias atuais?

 

Vivemos numa sociedade de “meias verdades”?

Vivemos tempos em que “verdades” são criadas diariamente, verdades que buscam nos agradar ou defender interesses específicos, verdades que visam defender posições políticas, preconceitos e concepções religiosas. Recebemos fake news todos os dias, por diferentes canais de comunicação. 

A disseminação de fake news se baseia numa falácia, o chamado viés da disponibilidade, o qual consiste na tendência que temos em lembrar-nos de uma única história, fato pontual ou exemplo como uma verdade generalizada, não nos atentando às estatísticas.

Este viés se faz bastante presente com o advento da comunicação em massa, pois tendemos a acreditar no senso comum, a partir de um único exemplo, que confirme algo que já temos como pré-estabelecido (a nossa “verdade”). 

 

O caso das vacinas e o viés da disponibilidade

 

Um exemplo atual é a discussão em torno das vacinas para o controle da pandemia de Covid-19. Um único exemplo de efeito adverso (quando o mesmo não é tergiversado ou mesmo fabricado) é suficiente para que pessoas que são contra a vacina se posicionem de forma generalizada, dizendo que a “vacina mata”, não levando em consideração as milhões de pessoas que tomaram a vacina e não tiveram qualquer efeito adverso grave e a quantidade de vidas salvas justamente pela aplicação da vacina.

Mesmo pessoas que não sejam antivacina podem acreditar e generalizar este único exemplo, sem qualquer estatística que justifique tal posicionamento. Isso sem entrar no mérito de que, em geral, não há sequer a apuração da causa da morte, a qual não necessariamente está vinculada à aplicação da vacina.

Experimentamos que fake news podem ser disseminadas, inclusive, por líderes religiosos, os quais deveriam ter, ainda mais, compromisso com o bem-estar social e auxiliar na propagação de informações corretas, de acordo com a Ciência e com o objetivo de promoção da saúde das pessoas.

 

Novo paradigma da verdade

Ter consciência deste novo paradigma da verdade e, como consequência disso, dessa nova forma de utilizar a linguagem e o discurso, faz com que estejamos atentos e atentas. Do ponto de vista da fenomenologia, cada verdade é subjetiva, fenomenológica, não havendo normativas generalizadas, mas de acordo com o compromisso social e de respeito à Ciência, deve-se ter comprometimento com a não disseminação de inverdades, especialmente por aqueles/as que difundem a Palavra de Deus, quem, certamente, deseja o bem-estar de seus filhos e filhas.  

* Luciana Soares Rosas é Economista (UFPR); Graduanda em Teologia e em Psicologia (PUCPR) e membra do Instituto de Espiritualidade e Saúde (IES).