A teologia é mutável, diversificada, enquanto a fé tem um caráter absoluto, definitivo. (Imagem: Pixabay)

A teologia nasce do coração da fé. É, como diria Santo Anselmo, “a fé que ama saber”. Igualmente o amor, que nasce da fé, deseja saber por que ama. Assim permeia a fonte objetiva da teologia.

Quanto à sua fonte subjetiva, estaria contido o desejo humano de “naturalmente conhecer” (Aristóteles), e disso não estão excluídas os eventos da fé. Nesse sentido, de acordo com o teólogo Clodovis Boff, que temos apresentado ao longo das reflexões desta semana aqui no blog, toda pessoa de fé, na medida em que procura entender o porquê daquilo que crê, é, a seu modo e à sua medida, “teóloga”.

Nesse sentido, dando continuidade às reflexões que temos trazidos em nosso blog a respeito da Teoria do Método Teológico de Clodovis Boff, podemos afirmar que o autor compreende que o objeto determina o método, sendo o objeto material da teologia em primeiro lugar Deus (fonte originária) e, depois, tudo o mais (como a teologia ecológica, da libertação, ecumênica, étnica, dentre outras).

Já o objeto formal seria Deus enquanto revelado e também toda e qualquer realidade na medida em que se relaciona com o Deus revelado. Para Boff, o que faz uma ciência não é seu assunto (objeto material), mas o modo como esse assunto é tratado (objeto formal).

Nesse sentido, a fé é uma realidade unitária, mas é também complexa. E é segundo essa complexidade que a fé é fonte, objeto e fim da Teologia. Há uma relação íntima, orgânica entre fé e teologia. Esta é a “fé em estado de ciência”. De fato, a fé compreende, de acordo com Boff:

– um elemento cognitivo: é a fé-palavra;

– um elemento afetivo: é a fé-experiência;

– um elemento ativo: a fé-prática.

Portanto, a fé tem uma inteligência própria, no sentido de ter sua luz ou sua inteligibilidade específica. Já a razão da fé seria sua exposição racional (sapiencial e científica). Desse modo, segundo Boff, a razão teológica representa o ponto mais alto a que pode chegar a razão humana em geral.

Além disso, para Boff, a Teologia é ciência na medida em que realiza a tríplice caracterização formal de toda ciência, que é a de ser crítica, sistemática e auto-amplificativa. Além de se apresentar sob a forma de ciência, a teologia aparece sob a forma de sabedoria, na medida em que seu discurso é do tipo da gnose, ou seja, global, experiencial, místico.

A fé é em parte racional ou racionalizável e, em parte, não. A razão está naturalmente aquém da Verdade da fé; e mais: tende a se fechar sobre si mesma e é necessário que ela passe pela experiência da cruz e de sua “loucura” a fim de que, ressuscitada, apreenda a sabedoria paradoxal de Deus.

Esta seria a dimensão “estaurológica” da razão teológica. Para Clodovis Boff, há relação íntima entre a fé e a teologia, que não é meramente mecânica, mas que teria uma continuidade vital, assim como a seiva estaria para a árvore, o fermento para o pão, a alma para o corpo. A teologia é mutável, diversificada, enquanto a fé tem um caráter absoluto, definitivo.

Diante destas constatações, perguntamos: é possível se estudar ou fazer Teologia sem uma atitude de fé? Quais as fronteiras entre a razão de um teólogo, por exemplo, e a razão presente na investigação de um cientista da religião (crente ou não crente)? Um ateu confesso poderia ser considerado teólogo? Envie sua opinião para nós! 

Gostou deste artigo? Compartilhe-o em suas redes sociais, para que mais pessoas possam conhecer nosso blog. 

  * Ana Beatriz Dias Pinto, é comentarista convidada do blog e nos traz reflexões sobre temas atuais e contextualizados sob a ótica do universo religioso, de maneira gratuíta e sem vínculo empregatício, oportunizando seu saber e experiência no tema de Teologia e Sociedade para alargar nossa compreensão do Sagrado e suas interseções. 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BOFF, Clodovis. Teoria do método teológico. 6 ed. Petrópolis: Vozes, 2015. P.25-109.