Um grupo de amigos faz as malas e embarca para uma pescaria na Amazônia. Outro prefere correr o mundo para alcançar o calendário das maratonas. Há quem viaje para conhecer templos sagrados, ou simplesmente badalar nos destinos mais descolados do País e do mundo. Turmas de deficientes físicos e da terceira idade fazem muita questão (quem diria!) de roteiros de aventura.

Não faz muito tempo, aproximadamente dez anos, o viajante começou a procurar suas tribos, e o mercado, a criar exatamente os produtos que elas pediam. “A segmentação do turismo é uma tendência planetária”, confirma o presidente da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa), José Zuquim. Mais do que isso, é uma prática fundamental para a “sobrevivência” no concorrido mercado.

“A agência que trabalha com um único nicho torna-se especialista e não compete com as grandes operadoras”, explica o diretor de Assuntos Internacionais da Associação Brasileira das Agências de Viagem (Abav), Leonel Rossi Júnior. Segundo ele, o número de agências voltadas a públicos específicos cresce a cada ano. “Considerando que partimos do zero, atualmente já temos empresas especializadas em turismo GLS, de aventura, para o público da terceira idade…”

Até as grandes operadoras estão criando departamentos para atender a turistas diferenciados. No site da Braztoa (www braztoa.com.br), é possível buscar uma das 60 operadoras associadas por tipo de público com os quais trabalham. O resultado para peregrinos, por exemplo, aponta 24 empresas. Melhor idade conta com 32, e deficientes físicos, com 20. Não que elas sejam exclusivamente voltadas a esses viajantes, mas oferecem, entre outros, os produtos de que eles procuram.

A CVC, maior operadora do Brasil, criou há um ano o departamento para estudantes. A empresa também já oferece viagens para ecoturistas e para a terceira idade. “É importante segmentar para atender aos diferentes nichos e enfrentar a concorrência com a internet”, opina o presidente da CVC, Guilherme Paulus.

Para a coordenadora de Turismo do Senac, Priscila Izawa, a segmentação também é vantajosa porque reduz os custos das operadoras, já que elas passam a negociar os produtos com fornecedores específicos.

FILÕES – O nicho GLS tornou-se um dos mais organizados após a criação, há dois anos, da Associação Brasileira de Turismo para GLS (Abrat). “Promovemos cursos com os receptivos para incentivar esse turismo”, afirma o diretor de Comunicação, Franco Reinaudo. A Abrat já conta com 50 membros gay friendly, entre hotéis, operadoras, agências de viagens e órgãos oficiais de turismo.

Entre as novidades do setor no último semestre estão o site G Travel Online, agência virtual de viagens para o público GLS, e a Friendlytur, empresa especializada em roteiros gays.

Os solteiros também têm serviços exclusivos. O pioneiro foi criado pela TerrAzul há dez anos: o Just for Singles. “Começou como um produto a mais no meu catálogo e, hoje, é o carro-chefe da agência”, comenta a diretora, Yolanda de Oliveira

A CBS Singles’ Tours especializou-se nesse segmento há quatro anos, quando o proprietário, Leslie Benzeniste, percebeu que faltava no mercado um produto com viagens voltadas para os grupos de solteiros.

Até para quem gosta de correr maratonas mundo afora há programas específicos. A Kamel Turismo investe no segmento desde 1988. Hoje, é a representante oficial no Brasil das maratonas de Nova York, Berlim, Chicago e Londres – as mais concorridas do mundo. A operadora Xtravel também resolveu montar pacotes para maratonistas. E por um gosto pessoal da proprietária, e maratonista, Ana Maria Coltro.

ADRENALINA – O ecoturismo também segmentou o próprio mercado. A Venturas & Aventuras organiza, desde 2001, grupos para a terceira idade com o programa Velhinho É a Mãe. “Realizamos três viagens por ano”, conta Jota Marincek, diretor da empresa. Já a FreeWay, outra operadora especializada no ramo, tem programas para deficientes físicos com muita aventura e prática de esportes radicais.

No que diz respeito aos estudantes, as operadoras Cia. Lazer e Forma Turismo lideram o mercado de viagens: trabalham exclusivamente com esse público. São elas que organizam, a cada temporada, as tão esperadas – e sonhadas – viagens de formatura.