O dia 18 de setembro de 2022 ficará na memória de Endrick. Embora não tenha ainda estreado pelos profissionais do Palmeiras, foi nesta data do clássico com o Santos pelo Brasileirão que o jovem atacante ocupou um dos lugares no banco de reservas pela primeira vez. Ser relacionado pelo técnico Abel Ferreira é uma das etapas que já cumpriu o garoto de 16 anos antes de, enfim, entrar em campo pelo time principal. Há uma expectativa grande para que isso aconteça.

Endrick participou de todos os treinos na semana que antecipou o duelo com o Santos e viu do banco o time derrotar o rival no Allianz Parque, onde estavam seus familiares aguardando os seus primeiros minutos em campo, o que não aconteceu. Ele comemorou o gol de Merentiel com os novos colegas mais velhos, fez registros nas redes sociais e viveu um dia de pura alegria.

Mas quando o fenômeno cria da base palmeirense jogará entre os profissionais? A resposta depende, exclusivamente, de Abel Ferreira e de sua comissão técnica. O Estadão apurou que não há pressa em levar o garoto a campo. Mas o fato de ele ser um atleta especial, de talento raro, pode antecipar sua estreia. Abel tem cautela para não “queimar” o garoto e atrapalhar o seu desenvolvimento.

O Palmeiras faz com cautela a transição do atacante da base para o time principal e sua utilização segue um protocolo minucioso desenhado pelo treinador português, acostumado a trabalhar com jovens e cuja linha de ação é pautada na meritocracia. Ao lançar mão de um atleta promovido da base, o português leva em consideração, além da performance nos treinos, comportamento fora de campo, minutagem nas atividades e o número de jogos para os quais foi relacionado. Ele entende que Endrick terá de esperar sua vez, que pode não vir tão logo porque há outros centroavantes em sua frente.

“Temos o Rony, o Miguel (Merentiel), o Lopez e temos Navarro, que pode fazer duas posições. Vai fazer o caminho dele, de forma natural”, afirmou o técnico, citando o camisa 10 que virou 9 e os três jogadores que o clube trouxe para reforçar o comando de ataque neste ano.

Não existe uma data programada para que o torcedor veja Endrick mostrar seu talento no time profissional. Para não prejudicar a formação do jovem jogador, “tranquilo, muito maduro e trabalhador”, nas palavras de Abel, a oportunidade virá de forma natural, sem açodamento. “Teremos muito cuidado para não acontecer como aconteceu com outros que vão e voltam”, pontuou o técnico palmeirense.

Ele fez a revelação de que quis que Endrick tivesse treinado com regularidade entre os profissionais já durante a Copinha, no início do ano, mas, como o atacante não havia completado 16 anos ainda à época e, por isso, seu contrato era de formação, o clube considerou prudente mantê-lo nas categorias inferiores.

“Foi uma decisão do clube. Ele vai trabalhar para chegar a oportunidade dele”, comentou Abel. Irritado, o comandante palmeirense avisou que não falará mais sobre o assunto.

Embora não seja provável, não está descartada a possibilidade de Endrick voltar a atuar pelo sub-20. Nesta segunda-feira, ele ganhou folga, bem como todo o elenco comandado por Abel Ferreira. Certo é que, fazendo ou não sua estreia em 2022, o atacante será integrado, de fato, ao elenco principal a partir da pré-temporada de 2023.

UM DIA MEMORÁVEL

Endrick é precoce em vários aspectos. Impressiona pela técnica apurada, o faro de gol, a inteligência tática, a força física fora do comum para um jovem de 16 anos e também o preparo mental. Ainda que assombre o futebol mundial, o atleta disse ao Estadão em entrevista recente que não está satisfeito e busca evoluir. Quer ser um atacante completo e dispensa o rótulo de popstar que pode lhe atrapalhar.

A fama precoce, resultado de seu talento, trouxe a Endrick oportunidades fora de campo. O jovem conta com uma equipe que o assessora em questões financeiras, de saúde e de imagem e tornou-se neste ano o jogador de futebol mais jovem a fechar um acordo de patrocínio, desconsiderando parcerias com fornecedores de material esportivo.

“É um menino diferente não pelo que faz em campo, mas pela postura. Tem uma postura madura para a idade. É incomum ver isso, ainda mais com uma geração como a de hoje, que não consegue ficar sem olhar as redes sociais. Os pais são próximos, procuram sempre corrigir erros, opinar. Tudo é muito novo para eles”, conta Fábio Wolff, um dos que trabalham com o jogador. Ele cuida, desde janeiro deste ano, da gestão da imagem do atleta e costura contratos de patrocínio.

Wolff é um dos que pertence ao estafe de Endrick que esteve no camarote do Allianz Parque no último domingo com o desejo de ver o menino ser utilizado por Abel. Havia poucas chances de ele jogar e elas foram sepultadas com a expulsão de Danilo no início do segundo tempo.

O pai e a mãe de Endrick, seus empresários e seu assessor de imprensa também estiveram no estádio. Antes do jogo, Endrick foi aplaudido pelos mais de 40 mil palmeirenses que assistiram à partida na arena e registrou a noite inesquecível em suas redes sociais. “Mais um sonho realizado! Deus é inexplicável!”, escreveu na legenda de uma publicação com três imagens durante o aquecimento. No Brasileirão, ele usa a camisa 16, de sua idade.