SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina, afirmou na quinta-feira (21) na Assembleia Geral da ONU que Mianmar instalou minas terrestres na fronteira entre os dois países para impedir o retorno dos rohingyas, minoria étnica perseguida pelo Exército birmanês. “Essas pessoas precisam ter condições de retornar a sua terra natal em segurança e com dignidade”, disse a primeira-ministra.

Segundo Hasina, cerca de 430 mil rohingyas entraram no país nas últimas semanas fugindo da perseguição do Exército de Mianmar. Bangladesh anunciou no último sábado (16) que irá construir 14 mil novos abrigos para os recém-chegados. Antes da crise atual, cerca de 400 mil rohingyas já moravam em dois campos de refugiados nas cidades de Kutupalong e Napayara, próximas à fronteira com o Mianmar.

As condições de vida são precárias na região, onde não há saneamento básico e falta água potável e comida. Em um discurso totalmente dedicado à crise humanitária na fronteira entre os dois países, Hasina denunciou violações de direitos humanos por Mianmar e propôs medidas à comunidade internacional.

Ela pediu que o país vizinho cessasse a violência no Estado de Rakhine, onde a maioria dos rohingyas vivem, e garantisse um “retorno sustentável” aos seus lares. A primeira-ministra também reivindicou a criação de “zonas seguras” no território birmanês sob supervisão da ONU, assim como o envio, pelo secretário-geral, de uma comissão de investigação. “Eu venho até aqui logo após ter visto os famintos, angustiados e desesperançosos rohingyas de Mianmar que se abrigaram em Cox’s Bazar”, disse a primeira-ministra na abertura de seu discurso.

“Esse povo deslocado à força de Mianmar está fugindo de uma limpeza étnica em seu país, onde eles vivem há séculos”, declarou Hasina, ecoando as declarações do secretário geral da ONU, Antonio Guterres, que já chamou a situação dos rohingya em Mianmar de limpeza étnica.

Majoritariamente budistas, muitos birmaneses alegam que os rohingyas são uma etnia implantada durante a colonização britânica, que trouxe milhares de trabalhadores muçulmanos de Bangladesh. A atual crise começou no dia 25 de agosto, quando rebeldes rohingyas atacaram cerca de 20 delegacias de polícia no Estado de Rakhine, no oeste do país, onde se concentra a minoria.

Em resposta, o Exército tem conduzido o que chamou de “operações de limpeza”, que afirma ter como objetivo deter “terroristas extremistas” e proteger a população civil. Aung San Suu Kyi, líder de fato do Mianmar, não compareceu à Assembleia Geral da ONU. Um porta-voz de seu gabinete informou que ela permaneceria no país para lidar com a situação dos rohingyas. Laureada com o prêmio Nobel da paz em 1991, ela tem sido fortemente criticada pela comunidade internacional por não denunciar a violência do Exército contra a minoria e por minimizar a gravidade de suas operações.

FRONTEIRA FECHADA

A polícia de fronteira da Índia está usando bombas de efeito moral e spray de pimenta em sua fronteira com Bangladesh para bloquear a entrada de membros da minoria muçulmana rohingya. “Nós não queremos causar ferimentos graves nem prendê-los, mas não vamos tolerar rohingyas em solo indiano”, disse um oficial sênior da FSF (Força de Segurança de Fronteiras) em Nova Déli. “Estamos usando granadas com spray de pimenta para impedir que centenas de rohingyas entrem na Índia. A situação é tensa”, afirmou.

Em um encontro bilateral no início de setembro, Narendra Modi disse que Mianmar e Índia eram “parceiros na preocupação com a perda de vidas de agentes de segurança e de pessoas inocentes causada pela violência extremista no Estado de Rakhine”.

O ministro do interior indiano, Rajnath Singh, pediu na quinta-feira a deportação dos cerca de 40 mil rohingyas que vivem no país, que é majoritariamente budista, alegando que eles são “imigrantes ilegais”. Em busca de autorização para os planos de deportação, Singh disse à Suprema Corte nesta semana que forneceria informações confidenciais que provam ligações entre os rohingyas e militantes do Paquistão.

Um oficial da agência federal de investigações da Índia disse que líderes religiosos muçulmanos estão sendo recrutados para aumentar a vigilância sobre os rohingyas. A polícia indiana afirmou que prendeu um homem que seria membro do grupo terrorista Al Qaeda. Ele estaria recrutando rohingyas na Índia para lutar contra o Exército de Mianmar. “Nossas investigações revelaram que a Al Qaeda quer usar a Índia e Bangladesh como base para iniciar uma guerra religiosa contra o Mianmar”, disse Pramod Singh Khuswah, delegado da polícia de Nova Déli. “Eles são claramente uma ameaça à nossa segurança”, afirmou. O Exército de Salvação Rohingya de Arakan (Arsa, na sigla em inglês), grupo de rebeldes rohingyas que reivindicou a autoria dos ataques de 25 de agosto, negou recentemente qualquer ligação com organizações terroristas internacionais.