Três Anúncios para um Crime’ trata da maior dor que um ser humano pode sofrer: a perda de um filho ou filha. Diante disso, há pessoas que desistem. E há pessoas que tentam fazer algo a respeito. Nessa segunda categoria entra Mildred Hayes, interpretada pela atriz Frances McDormand, a atriz que protagoniza o longa escrito e dirigido por Martin McDonagh, que tem pré-estreia hoje em Curitiba — a estreia mesmo será na próxima semana.

Logo de cara, ‘Três Anúncios para um Crime’ entrega o que são os tais três anúncios. Trata-se de três outdoors abandonados em uma estrada que dá acesso à cidadezinha de Ebbing, no estado do Missouri (daí o título original, ‘Three Billboards Outside Ebbing, Missouri’). Um dia, uma mulher da cidade, Mildred Hayes, resolve ocupá-los com três anúncios que, juntos, cobram uma solução para um crime bárbaro: a morte da filha dela, Angela, estuprada, queimada e assassinada meses antes. A mãe quer justiça. Quem é cobrado em especial nos outdoors? O chefe de polícia da cidade, Bill Willoughby (Woody Harrelson).

A atitude de Mildred coloca a pequena cidade – a Ebbing do filme é fictícia, mas a cidade em que o filme foi feito, Sylva, tem menos de 3 mil habitantes – em polvorosa. Todos se dizem solidários com a dor de Mildred, mas ninguém faz nada a respeito. Ou quase nada; a polícia até investigou, mas desistiu em pouco tempo. Contudo, quando a mulher resolve cobrar uma solução das autoridades de segurança, a cidade se divide. O caso – a colocação dos outdoors, não o crime – atrai atenções da mídia de outras cidades e passa a ser retratado na TV. Com a polícia em xeque, o responsável pelos anúncios, Red Welby (Caleb Landry Jones), passa a ser constantemente incomodado pelo policial Jason Dixon (Sam Rockwell). Dixon é um estrupício completo: racista e homofóbico, mas pusilânime a ponto de tomar ordens da mãe, com quem mora.

Já Willoughby está longe de ser um vilão nessa história. Não indica ser corrupto, não largou mão da investigação por ordens de cima. Apenas um sujeito descansado e conformado com os poucos recursos de que dispõe, diante da dificuldade de se encontrar um suspeito que pode estar em qualquer lugar do país. Willoughby tem também seu drama pessoal: está com câncer. O fato de todos na cidade – Mildred inclusive – saberem disso faz com que parte da empatia dos moradores pendam para o lado dele. Isso leva Mildred a tomar atitudes mais radicais. Afinal, Frances McDormand entrega uma personagem contra quem não é bom querer briga. E ainda assim, ou talvez por isso, atrai a atenção de James (Peter Dinklage).

De certa forma, ‘Três Anúncios para um Crime’ ostenta semelhanças com ‘Manchester à Beira-Mar’, um filme que rendeu Oscars de melhor roteiro original e melhor ator para Casey Affleck. Ambos são escritos e dirigidos por uma mesma pessoa; no caso de ‘Manchester’, Kenneth Lonergan. Ambos se passam em cidadezinha minúscula dos Estados Unidos. Ambos têm o ator Lucas Hedges como um jovem da família do protagonista. Ambos são centrados no drama pessoal de seu protagonista, e é isso que faz a trama se movimentar. A diferença básica é que, em ‘Manchester’ o protagonista Lee Chandler (Affleck) refuga todas as chances que a vida lhe dá para continuar. Em ‘Três Anúncios…’, Mildred busca de todas as maneiras um sentido numa vida que parece não ter mais sentido.

Pela atuação, Frances McDormand larga com o grande favorita ao Oscar de melhor atriz. Já levou o Globo de Ouro (atriz em filme de drama) e o prêmio do Sindicato dos Atores (o SAG). Sam Rockwell levou os mesmos prêmios como ator coadjuvante. E ‘Três Anúncios para um Crime’, apesar de ter apenas sete indicações ao Oscar (melhor filme, atriz, duas de ator coadjuvante, roteiro, edição e trilha sonora) aparece como a grande ameaça ao favorito ‘A Forma da Água’, que soma 13 nominações. O filme de Martin McDonagh já faturou o Globo de Ouro na categoria de filme dramático e também o SAG. Nos dois últimos anos, os vencedores do SAG – ‘Spotlight: Segredos revelados’ e ‘ Moonlight’ – também levaram o Oscar, mesmo não sendo os filmes com mais indicações.