MARINA GALEANO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Pedro Coelho parece estar seguindo as pegadas de seu compatriota Paddington, que saiu das páginas dos livros do inglês Michael Bond para se tornar estrela de cinema. O carismático urso de chapéu vermelho já tem dois filmes de sucesso no currículo.
Agora é a vez do personagem travesso criado por Beatrix Potter ganhar um longa-metragem para chamar de seu. A adaptação às telas de um dos bichinhos mais populares da literatura infantil britânica coube a Sony Pictures, responsável pelo lançamento de “Pedro Coelho”.
Nas mãos do diretor Will Gluck, porém, a atmosfera adocicada da obra de Potter vira fumaça. O herói recebe uma injeção extra de rebeldia e se transforma num parente distante do Pernalonga. Confusão por todo lado, ao estilo “Pica-Pau”.
Ou seja, não sobra muito espaço a meiguices ou lições de moral. Pedro é encrenqueiro, egocêntrico, contraditório, vingativo e não mede esforços para conseguir o que quer -vale até provocar um choque anafilático no inimigo alérgico a amoras.
A cena, aliás, gerou furdunço nos EUA entre alguns pais de crianças que sofrem de alergia alimentar. E a Sony, pressionada pela onda politicamente correta, decidiu se pronunciar, pedindo desculpas por fazer humor com um “problema sério”.
Polêmicas à parte, há de se admitir que o espírito (humanamente) transgressor de Pedro é um dos pontos altos da produção; o que lhe coloca no caminho oposto das inúmeras animações fofinhas -e insossas- sobre animais.
Nem mesmo o destino cruel de seu pai afasta o jovem coelho da horta do senhor McGregor (Sam Neill). Seduzido pelas frutas e hortaliças, o bicho inferniza a vida do fazendeiro e se livra definitivamente dele depois de uma perseguição alucinante.
Em meio a uma revolução dos bichos, um novo inimigo toma conta do pedaço: Thomas McGregor (Domhnall Gleeson), o sobrinho do velho ranzinza, que, para piorar, ainda se apaixona por Bea (Rose Byrne), a defensora dos coelhos.
Determinado a eliminar qualquer criatura da propriedade, o vilão trava uma batalha com Pedro e sua turma. A partir daí, choques, explosões e lutas corporais invadem a tela e denunciam o grande buraco do longa.
A narrativa sempre anda em círculos. A sucessão de conflitos não leva a história para lugar nenhum. À certa altura, tudo soa repetitivo; as piadas ficam gastas, e os diálogos, pobres. O núcleo de carne e osso tampouco traz profundidade ao enredo.
Uma pena, quando se considera todo o potencial de “Pedro Coelho”. Sustentado por um visual bastante atraente (resultado da combinação eficiente entre “live action” e computação gráfica) e conduzido por um protagonista aventureiro cheio de nuances, o filme perde força e brilho diante de uma trama tão agarrada à superfície.

PEDRO COELHO (PETER RABBIT)
QUANDO estreia nesta quinta (22)
ELENCO Rose Byrne, Domhnall Gleeson e Sam Neill
PRODUÇÃO EUA, 2017, livre
DIREÇÃO Will Gluck
AVALIAÇÃO Regula