A expressão metanoia, embora tenha também o significado de arrependimento, é usada comumente para definir certo tipo de aprendizagem; umamudança essencial de pensamento ou de caráter, ou como designação de uma transformação espiritual.

Hoje bastante em voga nos treinamentos empresariais, o termo não é recente, e Peter Senge, professor sênior do MIT, referência mundial quando se fala em organizações, principalmente por seu livro A Quinta Disciplina, já definia metanoia como uma profunda mudança de mentalidade, ligada à aprendizagem, especialmente no que caracterizava como aprendizagem generativa, ou seja, aquela que poderia trazer inovações e criatividade.

Aprender é certamente mais que adquirir informações, envolve mudança, movimento fundamental da mente, dizia ele, e nada muda substancialmente, a menos que as pessoas envolvidas mudem seus padrões básicos de pensamento e de interação, pois isso altera seus comportamentos.

No entanto, não é simples mudar determinados hábitos e preconceitos arraigados, nosso cérebro parece preferir o já conhecido, mesmo quando este implica num certo sofrimento. O conforto dos velhos conceitos, daquilo já dominado, a recusa de mudar de opinião, de atentar para fatos novos explica em grande parte a permanência da idolatria a determinados políticos, tanto à direita quanto à esquerda, nos quais se acreditou um dia, contra os quais hoje pesam diversos fatos desabonadores, mas que recusamos ouvir.

Preferimos creditar à parcialidade da mídia, aos inimigos de momento, aos cidadãos que não são de bem, a qualquer um menos à realidade daquilo que mudou ou foi revelado. É como se renunciar a esta visão colorida de um passado melhor ou um salvador da pátria nos esvaziasse, nos incapacitasse para o futuro. Ou seja, renunciamos à metanoia, à aprendizagem profunda, a mudar nossa mentalidade.

Atualmente as investigações sobre a metanoia não se caracterizam apenas pela análise das capacidades cognitivas e fatores motivacionais como determinantes sobre a capacidade cognitiva, pois ao lado destas duas temos os processos metacognitivos atuantes na capacidade de memorização, compreensão de fatos além do imediato, das estratégias possíveis, sua utilidade, e eficácia e oportunidade.

Deste modo, podemos dizer que a identificação da eficácia de certos comportamentos, de certas formas de comunicação, compreensão oral e escrita, e resolução de problemas vão se depurando ao longo dos anos, e, normalmente, é partir dos quarenta anos que o processo de metacognição se torna melhor e mais adequado.

Nesta fase, salvo raras exceções, o processo educativo formal já se encerrou, mas este colaborou decisivamente para que isso aconteça; e assim é grave que muitos países, como o Brasil, deixem crescer uma população adulta em situação de analfabetismo. Da mesma forma, crianças submetidas a um processo educativo de má qualidade terão uma rasa compreensão da realidade, uma ausência de profundidade em seus raciocínios, tornando-as presas de “espertos”, dos maus intencionados, de julgamentos superficiais, de venda de feijões milagrosos, de “mitos” que sequer dominam o idioma pátrio, e por isso recorrem muito aos palavrões.

Metanoia pode ser entendida como insight de grandes erros cometidos, ou de enganos que precisam ser evitados, ou simplesmente autoconhecimento. Estas experiências tardias são excelentes, porque intensas e esclarecedoras de muitos processos errôneos que cultivamos na infância e adolescência, muitos comportamentos inadequados que são compreendidos e nos fazem melhores a partir daí.

Então, um bom sistema educacional vai nos permitir não apenas um ótimo exercício profissional, melhoria na faixa salarial,  convivência facilitada com os demais, mas, principalmente, um envelhecimento mais sábio e tranquilo.

O país precisa cuidar melhor de suas crianças, mas também de seus idosos.

 

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.