SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Imagine uma triangulação entre Romário, Bebeto e Sorato que termine com a finalização de CR7. Ou ainda um lance em que o centroavante adversário, livre, perde gol feito por causa de uma defesa milagrosa de Messi.


No Campeonato Potiguar, isso é mais do que comum. O Palmeira da cidade de Goianinha, a 60 km de Natal, tem em seu elenco jogadores que ostentam nomes de astros do futebol mundial.


Inspirado no Palmeiras da capital paulista, o time alviverde do Rio Grande do Norte, porém, tem uma pequena diferença na grafia: a ausência da letra “s” no final do nome.


Segundo o diretor de futebol Willian Souto, essa peculiaridade foi resultado de um erro. “Na hora do registro, a letra ‘s’ foi esquecida. Aí acabou virando Palmeira, e não Palmeiras”, conta o dirigente.


Fundado em 1959 como Palmeiras Futebol Clube, a equipe se profissionalizou em 2009. O presidente da época foi a Natal para registrar o nome do time na federação e, ao redigir, esqueceu o “s”. O erro, porém, só foi notado quando já estava de volta à Goianinha.


Além do nome e das cores em verde e branco, outra similaridade com o time paulista é o escudo com a letra P.


Ter uma legião de nomes famosos, porém, não tem sido sinônimo de sucesso. O Palmeira é o lanterna do returno do Estadual e luta para não ser rebaixado.


As dificuldades são grandes. A folha de pagamento com o futebol é estimada em R$ 40 mil, e muitas vezes os vencimentos não estão em dia.


Com as dificuldades de jogar em uma cidade pequena -Goianinha tem cerca de 26 mil habitantes, segundo projeção do IBGE-, o Palmeira depende de apoio da prefeitura e eventuais patrocinadores.


O clube manda seus jogos no estádio José Nazareno do Nascimento, o Nazarenão, que tem capacidade para 6.000 pessoas. A média de público fica em torno de 1.500 torcedores. Já nas partidas contra os grandes do estado, como América-RN e ABC, esse número sobe para cerca de 5.000.


Mesmo com os dissabores de um time sem investimentos, o Palmeira desperta curiosidade pelos nomes que tem no elenco. A começar pelo gol.


Se o Messi do Barcelona encanta o mundo por sua genialidade com os pés, o Messi palmeirense faz a diferença com as mãos. O goleiro conta que o apelido foi se transformando ao longo dos anos.


“Eu me chamo Jamerson. Daí, me chamavam de Méssio. Depois foi mudando até virar Messi”, diz.


O Messi do Nordeste ganhou as manchetes há quase dez anos, por ter assumido sua homossexualidade. Um dos jogadores mais experientes do elenco, com 33 anos, ele é reverenciado na cidade.


“Todo mundo gosta dele. Uma bandeira nesta luta contra a homofobia. Ele não sofre nenhum tipo de preconceito. É um verdadeiro ídolo para nossa torcida”, diz Souto.


Para complementar a renda, Messi disputa alguns campeonatos amadores na região. Mas, nesses casos, ele guarda as luvas e vai jogar na linha.


“Sou destro, mas minha canhota funciona bem. Sou mais marcador, parecido com o Felipe Melo”, afirmou o goleiro, que tem 1,78 m e também gosta de bater pênaltis.


Fã do goleiro Fábio, do Cruzeiro, e palmeirense de coração, Messi revelou ainda um sonho. “Gostaria de um dia poder ir ao CT do Palmeiras para acompanhar o treinamento de goleiros deles”, diz.


Apesar do nome, o paredão do Palmeira coloca outro jogador num patamar superior ao seu homônimo argentino. “O Cristiano Ronaldo é mais completo e mais decisivo.”


O atacante, conhecido pela sigla CR7, também é homenageado por um jogador do Palmeira. Também com o número 7 nas costas, o CR7 do Sertão, porém, atende pelo apelido de Caça Rato.


José Aleson de Oliveira Araújo, 23, no entanto quer se desvincular do apelido. Ele ganhou a alcunha por usar o mesmo corte de cabelo de Flávio Caça Rato, jogador que atuou por Santa Cruz e Guarani. “Quero fazer a minha história. Já pedi para a imprensa daqui me chamar de Aleson Taz [em homenagem ao personagem do desenho animado ‘Taz-Mania’]”, afirmou.


Enquanto essa mudança de nome não acontece, o CR7 continua sendo chamado pelos mais íntimos de “Caça”.


Recuperado de uma contusão que o fez perder lugar no time, o que ele mais quer agora é voltar a ser titular. “Comigo é gol e correria. Tenho certeza de que vamos dar a volta por cima e reagir no campeonato”, disse o atacante que sonha jogar pelo Milan, da Itália.


O atacante titular agora é outro com nome de craque: Romário. Dos três gols do Palmeira no Estadual, dois foram do camisa 9. Mas ao contrário do Baixinho, o artilheiro do Verdão tem outro estilo.


“Ele é grande, gosta de trombar com os zagueiros, é o típico jogador de área mesmo”, disse Alisson Herculano, preparador físico da equipe.


No meio de campo, está outro jogador com nome de artilheiro. Jânio Sorato Ferreira do Nascimento, 29, nasceu um mês depois de o Sorato famoso fazer o gol do título do Brasileiro de 1989 pelo Vasco, na vitória por 1 a 0 sobre o São Paulo.


“Meu pai era vascaíno. Aí também virei Sorato. O engraçado é que naquela época Bebeto e Sorato jogavam juntos no Vasco. Agora, o Palmeira também tem Sorato e Bebeto”, brincou o volante, citando seu parceiro no meio de campo, Adauberto Marinho Barbosa, o Bebeto.


Diferentemente do homônimo famoso, Bebeto está no início da carreira. Participou do elenco que conseguiu o acesso em 2018 e, aos 22 anos, é o coringa do time, jogando em várias posições.