Abandonado pela base governista e pelos próprios companheiros de partido, o vereador João Cláudio Derosso (PSDB) terá que decidir esta semana se renunciará ao cargo ou insistirá em resistir a um processo de cassação do mandato de presidente da Câmara Municipal de Curitiba, que ele ocupa há quinze anos. A bancada de oposição protocola hoje, oficialmente, pedido de abertura de comissão processante para afastar definitivamente Derosso do comando da Casa. Ao contrário dos processos anteriores, desta vez o pedido tem o apoio maciço dos vereadores governistas que até então vinham defendendo o colega.

A lista de assinaturas, que chega a 30 dos 38 vereadores, número mais do que suficiente para abrir o procedimento, inclui o líder da bancada do prefeito Luciano Ducci (PSB), João do Suco, e do PSDB, Emerson Prado, indicando que o tucano já não tem mais condições políticas de permanecer no cargo. O número também é superior aos 26 votos necessários para a cassação de Derosso em plenário.

Acusado de irregularidades em contratos de publicidade da Câmara, que incluem a Oficina da Notícia, empresa de propriedade de sua atual esposa, a jornalista Cláudia Queiroz, o vereador do PSDB resistiu até agora a processos no Conselho de Ética da Casa e a uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). As investigações confirmaram a existência de irregularidades, mas foram arquivadas sob a alegação de falta de provas materiais que responsabilizassem o presidente do Legislativo municipal.

Derosso encontra-se licenciado do cargo desde o final do ano passado, quando o Ministério Público o acusou na Justiça de improbidade administrativa pela contratação da Oficina da Notícia, em 2006, por R$ 5,1 milhão. Na época, Cláudia Queiroz ocupava cargo em comissão na Câmara. No mês passado, ele pediu nova licença de 90 dias, na esperança de que o caso esfriasse.

A situação começou a mudar na semana passada, depois que temendo verem sua própria reeleição ameaçada pelo desgaste de continuar defendendo Derosso, vereadores da base governista decidiram apoiar a abertura de novo processo, para afastá-lo definitivamente do cargo. A perda de apoio interno ficou evidente depois que o líder da bancada do PSDB, Emerson Prado, passou a defender publicamente que ele renuncie a presidência da Casa, alegando que Derosso não teria mais condições políticas de permanecer no posto. Ou o Derosso renuncia, ou será cassado, afirmou ele. Em dezembro, o mesmo Prado havia votado favoravelmente a relatório da CPI que absolveu o tucano, alegando falta de provas.

Outro sinal de que Derosso foi abandonado foi a decisão do líder da bancada do prefeito, João do Suco (PSDB), de assinar o requerimento para a abertura de processo contra ele, na última sexta-feira. O vereador alega que tomou a decisão como parlamentar, e não na condição de líder ou sob orientação do prefeito, mas admitiu que a adesão da base de situação pode ser motivada pelo temor de prejuízo político nas eleições de outubro.

Isolado, resta a Derosso decidir se tentará resistir ou renunciará para escapar do processo. Além dele e do presidente interino Sabino Pícolo (DEM), somente outros seis vereadores não assinaram o requerimento Ademir Manfron (PP), Dirceu Moreira (PSL), Pastor Valdemar Soares (PRB), Nely Almeida (PSDB), Paulo Frote (PSDB) e Julião Sobota (PSC). Desses últimos deve sair os nomes dos três vereadores que formarão a comissão processante que dará parecer sobre o pedido, encaminhando-o para votação no plenário. Alguns vereadores de oposição podem retirar suas assinaturas para tentarem pleitear a indicação para a comissão, já que os que assinaram o requerimento ficam impedidos de participar.