GUSTAVO URIBE, LAÍS ALEGRETTI, RUBENS VALENTE E TALITA FERNANDES
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Eles gritam e socam a mesa em vídeos compartilhados milhares de vezes, pregam a derrubada do presidente Temer e atacam a Rede Globo em um discurso estridente que é visto pelo Planalto como dos mais radicais na paralisação dos caminhoneiros. Seus vídeos em redes sociais têm sido vistos por milhões de brasileiros desde o início dos protestos.
Eles se dizem líderes de um movimento de fato, sem nome e CNPJ, e afirmam não aceitar nenhum dos acordos anunciados pela cúpula do governo.
Dois dos principais nomes dessa corrente se dizem filiados a partidos políticos e são um motorista de Catalão (GO) nascido em Osasco (SP), Wallace Landim, o Chorão, de 39 anos, do partido Podemos, e um advogado de Ituiutaba (MG), ex-candidato a prefeito pelo PSC (Partido Social Cristão) de 34 anos, André Janones, que também foi filiado ao PT por quase nove anos, de 2003 a 2012. O PSC integra a base aliada de Michel Temer.
Ambos integram um mesmo grupo de apoio à greve dos caminhoneiros que promete continuar as paralisações. Janones disse à reportagem que iniciou e preside um novo movimento desde esta segunda-feira (28), agora com o objetivo de derrubar o presidente da República. Desde o início da greve, os seguidores da sua página no Facebook passaram de 75 mil, segundo Janones, para 661 mil. Um dos vídeos, no qual ele chama Temer de vagabundo e safado, foi visto por 14 milhões de internautas e compartilhado 1 milhão de vezes.
Em outro vídeo, visto 4,4 milhões de vezes, Janones afirma, ao lado de Chorão: Nós vamos derrubar esse governo ilegítimo, nós vamos derrubar a Rede Globo. Nós vamos mostrar que não tem ninguém mais forte que um povo, não. Em outro vídeo, Chorão convoca: Vem pra rua, vem pra rua.
Janones disse à reportagem que deixou o PT em 2012 por razões municipais, divergências internas do partido, que queria apoiar um candidato que eu não apoiava. O meu histórico no PT não foi de um político, foi de um filiado comum. Nunca exerci nenhum cargo de direção, nunca disputei nenhuma eleição.
Nas redes sociais, Chorão e Janones fazem um barulho impressionante desde que a greve foi deflagrada. Só hoje eu recebi 1.132.000 mensagens no meu whatsapp. A coisa foi tão relâmpago, inacreditável mesmo. Eu estou surpreso, disse o advogado à reportagem.
Janones disse que conheceu Chorão apenas na semana passada, já durante a paralisação. O motorista teria pedido seu apoio para a greve.
Nesta segunda-feira (28), Chorão foi ao Palácio do Planalto ao lado do deputado federal Cabo Daciolo (Patriota-RJ), sargento licenciado do Corpo de Bombeiros, para pedir redução de tributos também na gasolina, álcool e gás de cozinha, segundo escreveu o parlamentar em uma rede social.
Chorão disse à reportagem que pretendia ser recebido na Casa Civil. Ele negou intenções eleitorais. Não sou candidato. Eu me filiei ao Podemos em Osasco por causa do prefeito, afirmou Chorão.
INFILTRADOS
O presidente da Abcam (Associação Brasileira dos Caminhoneiros), José da Fonseca Lopes, afirmou nesta segunda-feira em entrevista à imprensa na sede da entidade que a paralisação não é mais dos caminhoneiros, mas de pessoas que querem derrubar o governo. Ele não citou nominalmente tais pessoas.
Fonseca estimou que ainda faltavam cerca de 250 mil caminhões deixarem a paralisação. Não é o caminhoneiro mais que está fazendo greve. Tem um grupo muito forte de intervencionistas nisso aí. Eles estão prendendo caminhão em tudo que é lugar. […] São pessoas que querem derrubar o governo. Eu não tenho nada que ver com essas pessoas, nem nosso caminhoneiro autônomo tem. Eles estão sendo usados por isso, disse.
O presidente da associação disse que os caminhoneiros estão sendo ameaçados de forma violenta a manter a paralisação por pessoas que se dizem lideranças e que estão envolvidas com partidos políticos.
O ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) falou em infiltrados no movimento dos caminhoneiros e disse que a Polícia Rodoviária Federal irá passar a retirá-los dos pontos de paralisação. A Polícia Rodoviária Federal conhece as estradas onde trabalha e sabe das infiltrações políticas que aconteceram. Ela está mapeando e não quer cometer nenhuma injustiça, disse Padilha. Ela tem feito algumas ações de retirada de pessoas quando for o caso, acrescentou o ministro.
De acordo com Padilha, o serviço de inteligência do governo federal tem atuado para a identificação de “infiltrados” que, segundo ele, têm atuado para que a crise de desabastecimento não seja encerrada.
Eles se infiltraram com objetivos de disputas políticas para fazer com que a paralisação não seja encerrada. O nosso serviço de inteligência está trabalhando nisso, para que a infiltração não seja preponderante para construir a possibilidade imediata da normalidade, disse o ministro.