Depois dos ginecologistas e dos cardiologistas, agora é a vez dos médicos anestesistas se mobilizarem para reivindicar melhores condições de trabalho e remuneração. A Sociedade de Anestesiologia do Estado de São Paulo (Saesp) lança hoje uma campanha pela valorização da categoria e tenta convencer os profissionais que atuam no Estado a interromper o atendimento no próximo dia 21 como forma de protesto.

“Devemos decidir até o fim da semana se haverá paralisação”, conta o presidente da Saesp, Desiré Callegari. A ideia é que o movimento tenha a adesão tanto de médicos da rede pública como da saúde suplementar. Mas apenas as cirurgias não emergenciais seriam afetadas. “Estamos avisando antes para que as pessoas possam remarcar. Não queremos causar pane no sistema.”

Para Carlos Vital, do Conselho Federal de Medicina (CFM), a paralisação não fere a ética médica. “Nos últimos 11 anos, os convênios reajustaram suas mensalidades em torno de 170%. Uma parcela ínfima foi repassada aos médicos e, por isso, eles estão impossibilitados de cumprir o contrato. Têm o direito de reivindicar honorários justos.”

A categoria, diz Callegari, tenta há anos negociar um reajuste com os planos. “É uma forma de chamar a atenção da opinião pública e mostrar que a coisa não está boa nem para o médico nem para o usuário.”

Como exemplo, Callegari conta que um anestesista recebe em torno de R$ 100 dos convênios pela analgesia de uma cesariana. Em um parto particular, esse valor chega a ser dez vezes maior. Na tabela do Sistem Único de Saúde (SUS), o procedimento vale cerca de R$ 30. “A defasagem da tabela do SUS é tão grande que ela se tornou impraticável. Muitos hospitais públicos e também privados complementam a remuneração do anestesista, senão não encontram profissionais para trabalhar”, diz.

Defesa

Procurado, o ministério disse ter realizado, entre 2007 e 2009, três grandes reajustes na tabela do SUS que, somados, atingem R$ 6,2 bilhões. Disse ainda que uma possível tratativa com os anestesistas não deve ser pensada de forma isolada. A FenaSaúde, representante dos planos, disse que suas afiliadas estão empenhadas na revisão do modelo de remuneração do setor de saúde.