“O Brasil é considerado o país mais ansioso do mundo segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), com 11,5 milhões de pessoas diagnosticadas com depressão. Uma pesquisa da Unicef revelou ainda que 35% dos jovens se consideram ansiosos e, dentre os entrevistados, a metade sentiu necessidade de pedir ajuda em relação à saúde mental, mas 40% deles não recorreram a ninguém”. (Folha de São Paulo, 10 de agosto/23).

Entre os vários males que acometem crianças atualmente, alguns dos mais sérios são advindos dos transtornos de ansiedade, que modificam seus relacionamentos dentro da família e escola, numa época em que deveriam estar aprendendo as melhores formas de convivência. Ansiedades em etapas de desenvolvimento infantis nem sempre são passageiras,  os sintomas e consequências podem persistir em toda a adolescência e mesmo na vida adulta; muitas vezes são fatores de risco para outras síndromes, má condutas e oscilações de humor, além  de depressões profundas.

Ansiedade se manifesta em dificuldades de resolver problemas, incapacidade de tomar decisões e relacionamentos instáveis, pois sucesso em formar amizades e bons relacionamentos sociais é incompatível com o estado geral de sofrimento acarretado por este estado de espírito. A aprendizagem, que necessita foco e tranquilidade, resulta prejudicada.

O país ainda não estudou convenientemente este fenômeno, entretanto pesquisadores sabem que medo e ansiedade estão intimamente relacionados, embora não se confundam: medo faz parte da infância normal; costuma ser transitório, embora possa existir por longos períodos, como por exemplo o medo de injeções ou ir ao dentista. Jovens sempre receiam não ser bem aceitos por um grupo que gostariam de ter como amigos, serem rejeitados por alguma jovem que gostariam de namorar… Na vida adulta, certos medos persistem, ninguém é tão seguro que possa se considerar imune a temores que assolam o ser humano, e mais ainda em economias instáveis que provocam incertezas sobre emprego e moradia.

Ansiedade, por outro lado, é normalmente uma resposta a situações em que a fonte de ameaça não está objetivamente presente, como o receio de que seus pais desapareçam ou que todos os seus amigos deixem repentinamente de gostar dele.

É essencial conhecer os medos mais costumeiros para conversar sobre eles, diminuindo seus impactos sobre o psiquismo, sentir-se amado e rodeado de cuidados costuma operar maravilhas no estabelecimento da autoconfiança.

No entanto, infelizmente a criança pode ver-se em situações ou práticas de constrangimentos contínuos, ou mesmo de desprezo pelas suas experiências emocionais; de expressões constantes de desapontamentos, de sentir-se isolada ou ameaçada e na iminência de perder o afeto de todos, julgar-se culpada ou muitas vezes humilhada.

O sentimento de ser obrigada a cumprir as expectativas de seus pais pode muitas vezes inibir suas opiniões e autonomia, o que piora quando familiares utilizam críticas carregadas de emoções, comparações e cobranças de comportamentos fora da realidade etária, o que pode acarretar sentimentos ruins em relação a si mesmo, como ver-se incapaz ou de má índole. Embora elogiar outras pessoas seja bom para que aprendam a valorizar os demais, ser exaustivamente comparado depreciativamente diante de irmãos ou primos de maior sucesso aparente pode produzir ansiedades imensas, como se fosse necessário fazer algo absolutamente miraculoso para receber também essa apreciação e considerar-se valorizado. Bom senso e justiça precisam ser corretamente utilizados principalmente diante de adolescentes.

Embora tudo isso seja verdadeiro, decorre também do fato de que vivemos uma era do “ego”, a excessiva atenção a si mesmo, aos sentimentos e sofrimentos reais e imaginários, a expectativa irreal por uma vida de popularidade, prazeres e vitórias que pouco correspondem ao esforço despendido para obtê-los.

As últimas gerações de forma geral despendem tempo excessivo nas redes sociais, em busca de “likes” que reforçariam a importância diante do “clã”, muitas vezes de pensamento únicos, e têm demonstrado uma fragilidade emocional inaudita, como se tudo lhes fosse devido e nada pudesse ser exigido, com os “direitos” ocupando o centro do palco e nenhum espaço deixando para os deveres. Crianças mimadas por adultos mimados, nada perto dos ancestrais que atravessaram desertos e oceanos, enfrentaram guerras, fomes e pestes, e sobreviveram; certamente não gostaram e tiveram uma expectativa de vida muito inferior à atual, porém “em perigos e guerras esforçados, mais do que prometia a força humana…” sobreviveram.

Sobreviver com saúde, física e mental, é essencial ao ser humano.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.