São Paulo, 05 (AE) – Os primeiros anticoncepcionais genéricos de uso oral vão chegar às farmácias do País até o fim do ano. Depois de dois anos de espera, os laboratórios farmacêuticos receberam o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para fabricar as pílulas.

A liberação, publicada hoje no “Diário Oficial”, fará com que as brasileiras que usam contraceptivos orais passem a pagar 35% menos pelo remédio. Estudo da IMS Health, instituto de pesquisa na área de saúde, indicou que cada consumidora de pílula gasta em média R$ 350 por ano no Brasil. Com o genérico, passarão a desembolsar cerca de R$ 230.

Nos Estados Unidos, mais de 50% dos anticoncepcionais orais são genéricos. Na Europa, eles ocupam 35% do mercado. “Nossa expectativa é lançar o primeiro genérico nos próximos oito meses”, calcula Telma Salles, diretora de relações externas do grupo IMS Sigma Pharma. O laboratório Medley, que também vai investir no mercado, planeja o lançamento para o primeiro semestre de 2008.

A complexidade da ação da pílula oral foi o motivo principal da demora na liberação no Brasil. “Esse tipo de droga tem doses baixíssimas de hormônios e a medição no organismo dessas substâncias é delicada”, explica Cláudio Emílio Bonduki, ginecologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Na maioria dos medicamentos, o princípio ativo é em miligramas. Nas pílulas, a quantidade de hormônios é em microgramas – dez vezes menor. “É extremamente complexo manter a uniformidade das substâncias”, explica Odnir Finotti, vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Medicamentos Genéricos (Pró-Genéricos).

Mercado cobiçado – O injetável foi o primeiro anticoncepcional genérico lançado no País, no fim de 2005, pela Eurofarma. Mas o mercado da pílula oral sempre foi mais cobiçado pela indústria farmacêutica. Os medicamentos contraceptivos constituem uma das principais classes do mercado farmacêutico brasileiro, com vendas que giram em torno de 92,7 milhões de unidades ao ano, o que corresponde a US$ 481 milhões.

De acordo com estudo feito na Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde, a pílula é o segundo método de contracepção mais utilizado pelas brasileiras (20,7% das mulheres de 15 a 49 anos preferem a pílula). O campeão é a esterilização (40,1%). Em terceiro lugar vem o uso da camisinha (4,4%).

Hormônios – As pílulas são elaboradas com dois tipos de hormônios, a progesterona – que age na ovulação – e o estrógeno – responsável pela criação do intervalo do sangramento mensal. Os anticoncepcionais podem ser feitos só com progesterona, no entanto.

A progesterona impede a gravidez de três maneiras. Uma delas é bloqueando a ovulação. Outra, afinando o endométrio (membrana que reveste a parte interna do útero e é eliminada a cada ciclo menstrual). Com isso, o embrião tem dificuldade de aderir à parede uterina. A terceira forma é ressecando o muco do colo do útero, o que atrapalha a adesão do espermatozóide.

A mesma resolução da Anvisa autorizou também a produção de genéricos de hormônios usados em reposição hormonal e de imunossupressores (usados, por exemplo, para evitar a rejeição em transplantes).

Permanece proibida a fabricação de genéricos derivados do sangue humano, fitoterápicos, remédios que contenham vitaminas e sais minerais e anti-sépticos de uso hospitalar. Há 2.084 medicamentos genéricos registrados na Anvisa. A maior parte é usada em tratamentos de infecções, dores e problemas de coração.